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Saúde12 dezembro 2016

O desafio #1 da medicina no séc. XXI: aderência ao tratamento

Apresentamos os desafios para reduzirmos desperdício, porém existe um que urge diariamente nos atendimentos hospitalares: má aderência ao tratamento.

Por Bruno Lagoeiro

O maior desafio da medicina neste século diz respeito a controle do custo. Dentre os principais vilões que impactam nesta questão, destacamos o desperdício e a ineficiência do sistema (responsáveis por 30% dos gastos) como os mais palpáveis de resolução. Apresentamos na última semana 10 desafios para reduzirmos o desperdício, porém existe um 11º que urge diariamente nos atendimentos hospitalares e na relação médico paciente: má aderência ao tratamento.

Em um mundo ideal, pacientes procuram médicos para um atendimento ambulatorial, onde ocorre o diagnóstico, um tratamento é definido, e uma terapia medicamentoso é ou não prescrita. O paciente sai do consultório, procura uma farmácia, encontra e compra o tratamento medicamentoso ou consegue acesso aos serviços não medicamentosos. Inicia a tomada do mesmo de maneira correta, religiosamente, sem faltar ou pular dose, até curar-se ou melhorar em qualidade de vida. Mas, isso só ocorre com 100% dos pacientes em um mundo ideal.

No mundo real da terapêutica clínica estima-se que 25 a 50% dos pacientes não aderem ao tratamento da maneira correta (dependendo do tipo de tratamento e duração). Pacientes em tratamento para prevenção secundária, estima-se que após um anos terapia, quase 80% destes abandonam a prescrição médica. As principais doenças relacionadas a má aderência são: doenças cardiovasculares, DPOC, asma, depressão, diabetes e AIDS.

Todos os anos a bilhões de dólares são desperdiçados devido ao ciclo da não aderência ao tratamento. Estima-se que ele seja responsável por 10% do custo do sistema de saúde. Esta má aderência conduz a um ciclo onde cada vez menos aderentes, piores são os resultados, mais utiliza-se o sistema e, por fim, mais os custos aumentam. Veja abaixo:

As causas para a interrupção são multifatoriais: custo dos medicamentos e tratamentos, fornecimento inadequado de medicações, efeitos indesejáveis, dificuldade para marcação de consultas, falta de informações sobre a finalidade da medicação, e os riscos de interrompê-la, indisciplina, baixa escolaridade, negação e dificuldades no relação médico-paciente.

Nós médicos, muitas vezes, fazemos parte do fator causal ao entregarmos a receita e esperarmos que o paciente sozinho, sem analisarmos aspectos bio-psico-sócio-culturais, será preciso e disciplinado para o tratamento.

Como podemos solucionar este problema?

Ao pensarmos em má aderência ao tratamento passamos por diversos fatores causais. Percebemos que estes fatores são relacionados a motivos externos e do sistema, motivos do médico e do paciente.

Portanto, o desenvolvimento de soluções para aumentar a aderência e ajudar pacientes a terem melhor qualidade de vida, além de poupar bilhões de reais do sistema de saúde, envolve ações multifatoriais aonde a tecnologia pode ter um papel essencial para desenvolvimento prático. Alguns dos pontos a serem atacados seriam:

  1. Reduzir a distância entre médicos, sistema de saúde e pacientes;
  2. Caracterizar informações do tratamento e dados comportamentais dos pacientes, conectando médicos com troca de experiências;
  3. Adaptações socioculturais no ato da prescrição e tratamento do paciente;
  4. Desenvolvimento de novos modelos de saúde que incentivem o uso de tecnologias;
  5. Disseminar educação e informação, modelos de orientação mais precisos e maior disponibilidade para responder as dúvidas do paciente;
  6. Otimizar o fornecimento de medicações, com redução de custos e estoques inteligentes, com reposição automática de medicações;
  7. Premiar prestadores de serviço por resultados em aderência terapêutica;
  8. Aumentar a flexibilidade na relação medicina e tecnologia.

O paradoxo tecnológico e o que vem a seguir

Hoje a tecnologia avança de uma maneira muito mais acelerada do que há 50 anos atrás. Estamos observando o surgimento de novas soluções, empresas, startups e softwares, que contra previsões de solidez aplicadas no século XX, derrubam e competem facilmente com as antigas soluções antes consagradas.

Na medicina apesar dos altos gastos para desenvolvimento de novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, ainda podemos ver que estamos atrás de outros setores como financeiro, transportes, entretenimento, na criação de soluções de dia a dia. Desta maneira, é fácil pensarmos que soluções tecnológicas, para a rotina profissional, de hospitais e pacientes, serão a chave mestra da redução de custos e criação de sistemas de saúde mais sustentáveis.

Entretanto, quando falamos de tecnologia e saúde, um paradoxo envolvendo gastos imediatamente se instala. A verdade é que hoje novas ou aumento do uso de tecnologia na rotina médica, já são responsáveis por 40 a 50% do aumento de custo anual no sistema de saúde americano, e controlar essa implementação de tecnologias de grande porte para diagnóstico e tratamento é parte da estratégia da redução de gastos.

O desafio está muito além do que foi descrito. Precisamos dar o primeiro passo em direção a sua conscientização de importância em termos ações mais coerentes e sustentáveis. Precisamos construir o mundo do amanhã, onde a tecnologia aliada a educação, de uma maneira sustentável, possa nos levar aos melhores resultados em saúde, com uma medicina mais barata e acessível para qualquer pessoa.

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Referências:

  1. Iuga AO, McGuire MJ. Adherence and health care costs. Risk Management and Healthcare Policy. 2014;7:35-44. doi:10.2147/RMHP.S19801.
  2. eHealth Initiative 2020 Roadmap
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