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Saúde9 dezembro 2022

Nova radioterapia contra tumores apresenta preservação de tecido saudável

O DaRT é uma técnica a laser focado na erradicação das células cancerígenas, poupando os tecidos saudáveis ao redor do tumor. Conheça.

Por Úrsula Neves

Desenvolvida por pesquisadores israelenses, uma nova radioterapia oferece resultados promissores não somente na eliminação de tumores, mas também na preservação de células saudáveis, um benefício a mais que nem sempre as  radioterapias convencionais conseguem fazer.

Trata-se de Diffusing Alpha emitters Radiation Therapy, ou simplesmente, DaRT.  A técnica é aplicada através de um laser focado na erradicação das células cancerígenas, poupando os tecidos saudáveis ao redor do tumor. O tratamento, que no momento está disponível somente para grupos de estudos, pretende colaborar para a remissão do câncer de boca, língua, pâncreas e o de mama.

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A pesquisa foi desenvolvida no Centro Médico Hadassah, em Jerusalém, Israel, e será implementada em breve em outros hospitais, como o Memorial Sloan Kettering Center e o Dana Farber-Cancer Institute, nos Estados Unidos. Os cientistas buscam parcerias em diferentes países.

“Gostaríamos de ter a pesquisa instituída , quem sabe, em algum hospital brasileiro, uma vez que o país possui uma grande diversidade étnica e altas taxas de câncer”, afirmou o professor Aron Popovtzer, principal responsável pelos estudos da técnica, em entrevista ao portal BBC News.

Na opinião do presidente do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e líder de especialidade de radioterapia do Grupo Oncoclínicas, Arthur Accioly Rosa, a grande dificuldade para a utilização dessa técnica no Brasil está vinculada aos desafios para conduzir pesquisa clínica em radioterapia no país. “Além da falta de fomento, os custos envolvidos em desenvolvimento de estudos com radioterapia são enormes”, apontou o médico radio-oncologista, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

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Publicação científica

Os primeiros resultados publicados em periódico científico estão disponíveis no International Journal of Radiation Oncology desde 2018, mas outros estudos estão sendo realizados desde então.

Na publicação, os cientistas descrevem o que aconteceu com 13 pacientes com câncer de pele ou cabeça e pescoço resistente à radiação. Em um acompanhamento médio de cinco meses, todos os tumores responderam ao tratamento; nove tumores tiveram resposta completa, três tumores apresentaram resposta parcial e um tumor não foi destruído com sucesso e foi considerado em observação. Nenhuma toxicidade importante foi notada, segundo os pesquisadores.

Um outro estudo foi publicado na mesma revista científica (procedente do congresso americano de 2022) com avaliação retrospectiva de 28 lesões em 23 pacientes com quase 80% de resposta completa. Os pesquisadores reportaram uma boa tolerância ao tratamento, com taxas de sobrevida livre de progressão em dois anos na faixa de 50%. 

Diferenciais da nova radioterapia

Geralmente, as radioterapias utilizadas atualmente têm a radiação beta ou radiação gama, que são executadas com fótons ou elétrons ou até prótons – diferentemente da DaRT, que emite partículas alfa. Essas radiações padrão têm a vantagem de viajar por distâncias consideradas longas (de vários centímetros), podendo ser irradiadas de fora do corpo para o meio dele.

“Contudo, entre os problemas da radiação padrão está o fato de serem dependentes do oxigênio, criando radicais livres que destroem, muitas vezes, apenas uma das fitas de DNA da célula cancerosa, e infelizmente, isso significa que a outra pode se reparar e, portanto, não necessariamente matará todo o tumor”, explicou o professor Aron Popovtzer.

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A DaRT só consegue viajar alguns milímetros, porém é muito eficaz na forma como ataca diretamente o tumor, com potência para  matar ambas as fitas de DNA,fazendo com que as células não se regenerem.

“A tecnologia é um tipo de braquiterapia baseada na emissão de radiação Alfa. A técnica descrita faz referência à inserção de fontes carregadas com Radium 224 (isótopo radioativo) dentro de tumores sólidos. Essas sementes liberam átomos de meia vida curta, emissores de radiação alfa, que dispersam dentro do tumor promovendo morte celular. Como o alcance dessa radiação alfa é pequeno, teoricamente grande parte da radiação fica dentro do tecido tumoral. O interessante da técnica é que foi bem tolerada em pacientes idosos e previamente irradiados, com descrição de toxicidade aguda resolvida precocemente. Talvez seja uma alternativa para pacientes frágeis clinicamente e que não tolerariam tratamentos convencionais, potencialmente mais tóxicos. Porém, é necessário mais estudos e resultados da utilização dessa técnica para poder concluir por elementos diferenciais das outras tecnologias já consolidadas”, pontuou Arthur Rosa. 

Necessidade de mais estudos clínicos e investimento em ciência

Vale ressaltar que a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico são essenciais para o desenvolvimento de estratégias cada vez mais personalizadas no tratamento do câncer, uma vez que o  câncer não é somente uma doença. Na verdade, são diversas variáveis envolvidas na definição da melhor estratégia terapêutica. 

“O Brasil é carente de pesquisa clínica, isso se considerarmos o universo fora dos estudos patrocinados pela indústria terapêutica.  Nossas universidades perderam o viés técnico e tecnológico nessas últimas décadas, com desaparelhamento dos laboratórios de alta tecnologia e o investimento essencialmente em disciplinas de humanas. Não que essas disciplinas não sejam importantes, mas o aparelhamento ideológico prejudicou muito o desenvolvimento da ciência lato sensu”, lamentou o presidente do Conselho Superior da SBRT.

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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Referências bibliográficas

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