As mulheres portadoras da variante patogênica BRCA1 ou BRCA2 têm um risco aumentado de câncer de mama e ovário, estimado em 70% para câncer de mama e 44% e 17% para o câncer de ovário. Essas pacientes requerem atenção especial e individualizada de acordo com sua fase de vida e desejo de gestar.
Em novembro de 2022 foi publicado um artigo na Human Reproduction Update com o objetivo de otimizar o aconselhamento sobre contracepção para as portadoras de BRCA1/2-PV. Portanto, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e meta-análise e investigaram a razão de risco para desenvolver câncer de mama ou câncer de ovário em portadoras de BRCA1/2-PV que usaram qualquer forma de contracepção versus não usuárias. Em segundo lugar, analisaram o risco de câncer de mama e ovário entre as portadoras de BRCA1/2-PV influenciadas pelo tempo de uso do anticoncepcional e pelo tempo desde o último uso.
Métodos
Os autores fizeram uma busca sistemática no banco de dados Medline e na biblioteca Cochrane, identificando estudos que descreviam risco de câncer de mama e/ou de ovário em portadoras de BRCA1/2-PV associando a contracepção até junho de 2021.
Resultados
De acordo com os pesquisadores, as metanálises de sete estudos com 7.525 mulheres revelaram uma taxa de risco (HR) de 1,55 (95% CI: 1,36–1,76) e de quatro estudos incluindo 9106 mulheres resultou em uma razão de chances de 1,06 (95% CI: 0,90–1,25), heterogeneidade 0% e 52%, respectivamente. O risco de câncer de mama foi ainda maior em usuárias frequentes em comparação com usuárias que nunca usaram (10 anos após o último uso de ACO). Em contraste, o risco de câncer de ovário diminuiu entre as usuárias de ACO: HR 0,62 (95% CI: 0,52–0,74) com base em dois estudos incluindo 10.981 mulheres e OR 0,49 (95% CI: 0,38– 0,63) baseado em oito estudos incluindo 10.390 mulheres. Sendo que o efeito protetor desapareceu após a interrupção do uso e a laqueadura de trompas também protegeu contra o câncer de ovário.
Conclusão
Os autores concluíram que o uso de ACO aumenta potencialmente o risco de câncer de mama, enquanto o risco de câncer de ovário diminui com o ACO e laqueadura tubária em portadoras de BRCA1/2-PV. Além disso eles destacaram a importância do aconselhamento de portadoras de BRCA1/2-PV, devendo ser personalizado; os fatores genéticos e não genéticos (como cirurgias anteriores de redução de risco, câncer de mama anterior e idade) e as preferências das pacientes (reversibilidade, facilidade de uso, confiabilidade e efeito no ciclo menstrual) devem ser equilibrados.
Câncer hereditário: mama e ovário
Considerações e mensagem prática
Para otimizar ainda mais o aconselhamento para mulheres de alto risco, o artigo pontua a necessidade de pesquisas futuras que devem se concentrar em outros métodos contraceptivos e riscos de câncer nesta população específica, e sobre o impacto potencial da mudança de formulações.
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