A taxa de mortalidade hospitalar em pacientes com problemas cardíacos em decorrência da Covid-19 é de 42%, de acordo com os pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCFMUSP), que realizaram o primeiro estudo brasileiro para avaliar os impactos da Covid-19 no coração.
No entanto, os fatores que podem aumentar ainda mais o risco de óbitos nesses pacientes ainda são desconhecidos.
O estudo foi publicado neste mês na revista científica “IJC Heart & Vasculature”, com o professor e cardiologista Roberto Kalil Filho, presidente do InCor, como responsável.
Método realizado
Para chegar a essa conclusão foram avaliados os prontuários médicos de 2.546 pacientes, com idade média de 65 anos, com Covid-19 e características de alto risco de acordo com critérios clínicos e/ou laboratoriais em 21 centros no Brasil de 10 de junho a 23 de outubro de 2020, até que tivessem alta hospitalar ou viessem a óbito.
Kalil Filho ressaltou que a Covid-19 é uma doença predominantemente pulmonar, mas que afeta diversos órgãos, como o coração. “A síndrome pós-Covid pode trazer consequências para o coração após a alta hospitalar. Por conta desses fatores, é fundamental o acompanhamento clínico, mesmo que o paciente tenha se recuperado da doença”.
Resultados
No geral, 70,8% foram internados em unidades de terapia intensiva e 54,2% apresentavam níveis elevados de troponina. Com mortalidade hospitalar de 41,7%. Foi encontrada interação entre sexo, idade e mortalidade (p = 0,007). As mulheres mais jovens apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas (30,0% vs 22,9%), enquanto os pacientes masculinos mais velhos apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas (57,6% vs 49,2%).
Os fatores mais fortes associados à mortalidade hospitalar foram a necessidade de ventilação mecânica, proteína C reativa elevada, câncer e níveis elevados de troponina.
Segundo o estudo, a elevação nos níveis de troponina (proteína liberada quando ocorrem lesões no coração) é um dos principais fatores de alerta para a elevação do risco de mortalidade. No total, 70,8% dos participantes foram internados em unidades de terapia intensiva e 54,2% apresentavam níveis elevados de troponina.
Em menor percentual, outros fatores de risco também foram identificados, como a insuficiência cardíaca prévia (12,6%), alterações no ecocardiograma (6%), síndromes coronárias agudas (5,7%) e arritmias (4,5%).
Nesses casos, a mortalidade está associada à idade avançada, a necessidade de ventilação mecânica, aos altos índices de inflamação, alterações no músculo cardíaco e no sistema de coagulação do sangue.
Ouça agora: Síndrome pós-Covid: como abordar essa condição? [podcast]
Corona Heart Risk Score
A equipe do InCor desenvolveu um score de risco, o Corona Heart Risk Score, para auxiliar médicos na avaliação precoce e na orientação dos cuidados e dos potenciais tratamentos em pacientes infectados com Covid-19.
“Primeiro na América do Sul, esse estudo passa agora a compor o conjunto mundial de informações sobre intercorrências cardíacas em pacientes com Covid-19, ao lado de pesquisas da Itália, Estados Unidos e Inglaterra. Como cada população tem sua especificidade, é importante que tenhamos esse estudo como um recorte brasileiro”, reforçou o cardiologista Kalil Filho.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED
Referências bibliográficas:
- Patrícia O. Guimarães, et al. High risk coronavirus disease 2019: The primary results of the CoronaHeart multi-center cohort study, IJC Heart & Vasculature, Volume 36, 2021, 100853, ISSN 2352-9067, https://doi.org/10.1016/j.ijcha.2021.100853
- InCor. Estudo do InCor aponta alta mortalidade em pacientes com
alterações cardíacas causadas pela covid-19. 5 de outubro de 2021. Disponível em: https://www.incor.usp.br/sites/incor2013/docs/2021_Outubro_Release_CoronaHeart.pdf - Mortalidade de pacientes com problemas no coração após covid-19 é de 42%. Jornal da USP. 21 de outubro de 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/mortalidade-de-pacientes-com-problemas-no-coracao-apos-covid-19-e-de-42/
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.