Medicina Baseada em Evidências: como avaliar um guideline?
Os guidelines são importantes instrumentos na prática médica e em outras profissões relacionadas aos cuidados em saúde.
A nova edição da Revista PEBMED trará tudo o que o médico precisa saber sobre a Medicina Baseada em Evidências. Como forma de te deixar por dentro do que ela abordará, estamos trazendo, ao longo da semana, um pouco dos principais temas. Hoje, apresentamos o artigo que vai te ajudar a avaliar os guidelines.
Guidelines
As diretrizes clínicas são importantes instrumentos na prática médica e em outras profissões relacionadas aos cuidados em saúde. Idealmente devem ser produzidas a partir de revisões sistemáticas da literatura, sendo fontes de recomendações que colaboram na tomada de decisão de clínicos e usuários do sistema de saúde com relação a situações específicas. Diferente das revisões sistemáticas, os guidelines devem não apenas revisar as evidências científicas, mas também pesar os desfechos positivos e negativos e fazer recomendações baseadas nessas evidências.
Com a enorme produção de diretrizes clínicas, muitos profissionais podem se questionar com relação a relevância e qualidade delas. A qualidade da diretriz é fundamental para o seu potencial benefício, e padrões rigorosos devem ser adotados para sua produção. Problemas como não aderência a padrões metodológicos, não descrição dos desfechos de interesse, da população-alvo, ou dos usuários das diretrizes são problemas comumente encontrados.
Existem várias ferramentas para avaliação da qualidade de uma diretriz clínica. Uma das mais utilizadas é o instrumento AGREE-II, criado por um grupo internacional de desenvolvedores de diretrizes clínicas e pesquisadores, o AGREE Collaboration. O AGREE-II apresenta a finalidade de auxiliar na avaliação e formulação de diretrizes clínicas claras, com alta qualidade de evidências e que possam descrever claramente os fatores que estão ligados à sua aplicação, bem como a existência de potenciais vieses do desenvolvimento da diretriz.
AGREE-II
Com a finalidade de aprofundar a discussão sobre essa ferramenta, e trazer ao leitor um exemplo de como o AGREE-II pode ser aplicado na avaliação prática de uma diretriz clínica, o artigo traz uma análise do documento Surviving Sepsis Campaign International Guidelines for the Management of Septic Shock and Sepsis-Associated Organ Dysfunction in Children.
A avaliação de um guideline pode não parecer simples, mas é fundamental para que possamos oferecer condutas com a melhor qualidade possível para nossos pacientes, além de ser fundamental para o trabalho de gestão em saúde. A utilização de uma ferramenta como o AGREE-II, pode ajudar a considerar a aplicação de um guideline, ou mesmo, para preferir uma ou outra diretriz quando nos deparamos com situações de conflito entre documentos produzidos por grupos diferentes.
A sétima edição da Revista PEBMED será lançada no próximo dia 25/01. Fique ligado!
Confira outros temas abordados na revista:
- PICO: como formular uma pergunta clínica?
- Como não afundar no oceano de informações?
- Avaliando ensaios clínicos randomizados: uma abordagem prática
Referências bibliográficas:
- AGREE NEXT STEPS CONSORTIUM. The AGREE II Instrument [versão eletrônica]. 2009. Disponível em: http://www.agreetrust.org. Acesso em: 20/09/2021.
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- SHANEYFELT, T. M.; MAYO-SMITH, M. F.; ROTHWANGL, J. Are guidelines following guidelines?: The methodological quality of clinical practice guidelines in the peer-reviewed medical literature. JAMA, v. 281, n. 20, p. 1900-1905, 1999.
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