Uma infecção simultânea pelo vírus adeno associado do tipo 2 (AAV2) pode ser a causa do misterioso surto de hepatite em crianças, que tem preocupado autoridades e especialistas de diferentes nacionalidades. Segundo o novo estudo publicado na revista científica Nature, pesquisadores americanos explicam que essa coinfecção pelo AAV2 e um adenovírus humano parece deixar algumas crianças mais vulneráveis a essa hepatite.
No mesmo artigo foi anunciada a identificação de uma coinfecção por vírus Epstein-Barr (EBV), herpes-vírus humano (HHV) e enterovírus. Conforme apontam os cientistas, os vírus adeno associados não são considerados patogênicos por conta própria e precisam de um vírus auxiliar para causar infecção.
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“Estou bastante confiante de que identificamos os principais vírus envolvidos, porque usamos uma abordagem abrangente de sequenciamento metagenômico para procurar possíveis infecções por qualquer vírus ou por outro tipo de patógeno”, disse ao Medscape o médico Charles Chiu, Ph.D., autor sênior e professor de medicina laboratorial e doenças infecciosas na University of California San Francisco School of Medicine nos Estados Unidos.
Crianças mais suscetíveis após a pandemia
Entre abril e julho de 2022, mais de mil crianças em todo o mundo – sendo 350 delas nos Estados Unidos – foram diagnosticadas com hepatite sem causa conhecida. Quase 50 precisaram de transplantes de fígado e 22 crianças vieram a óbito, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os pesquisadores deste novo estudo sugerem que o confinamento e o isolamento social durante a pandemia da covid-19 deixaram as crianças mais suscetíveis, uma vez que elas deixaram de ser expostas a vírus e outros patógenos no início da vida, e acabaram não desenvolvendo uma resposta imunitária adaptativa.
“Por causa da covid-19, muitas atividades infantis foram suspensas e depois das vacinas elas podem ter sido subitamente expostas a vários vírus em um curto período de tempo, algo que, para um sistema imunitário mal treinado, teria aumentado o risco de evoluir para as formas graves das doenças”, explicou Charles Chiu.
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Os casos relatados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) atingem crianças de um mês a 16 anos. Apesar de não apresentar resultado positivo para os vírus típicos da hepatite (A, B, C, D ou E), o público atingido dispõe de um quadro de hepatite aguda. Os sintomas mais comuns foram dor abdominal, diarreia, náusea/vômito, perda de apetite e icterícia.
Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.
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