Idade dos órgãos pode influenciar na prevenção de doenças
Estudo de Stanford aponta que cerca de 20% da população tem pelo menos um dos órgãos se deteriorando rapidamente.
A Escola de Medicina de Stanford desenvolveu um método inovador capaz de avaliar a idade de órgãos do corpo humano e, com isso, prever o desenvolvimento de doenças. Em artigo publicado recentemente pela revista científica Nature, o estudo realizado com base no método foi aplicado em 5.676 pessoas, revelando que cerca de 20% delas apresenta biomarcadores de envelhecimento fortemente acelerado em pelo menos um dos 11 órgãos analisados.
De acordo com Tony Wyss-Coray, professor de neurologia que conduziu o estudo, os números não devem ser ignorados, pois essa aceleração está relacionada a um risco de morte de 20 a 50% superior ao da população normal.
“Descobrimos que indivíduos com envelhecimento cardíaco acelerado, por exemplo, apresentam risco aumentado em 250% para doenças nesse órgão num prazo de 15 anos”, afirma o autor. Pessoas com mais de um órgão afetado aparecem em porcentagem bem menor: 1 a cada 60 indivíduos. “No entanto, o risco de morte para eles é seis vezes maior em relação a alguém sem nenhum órgão envelhecido”, alerta.
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Benefícios
Apesar de impactante, saber quais órgãos estão em rápido declínio pode ajudar a revelar quais problemas de saúde podem estar prestes a surgir e a pensar em intervenções terapêuticas muito antes dos sintomas clínicos se manifestarem.
De acordo com a Professora Dra. Patrícia Aline Boer, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, trata-se de um trabalho fantástico por diversos fatores: é o primeiro a descrever um método não invasivo e inovador pelo qual se pode analisar a capacidade de cada órgão; o método viabiliza a realização de manobras de prevenção em casos de constatação do envelhecimento; e ainda reforça no paciente a necessidade da adoção de um estilo de vida que não agrave a condição do órgão alvo.
“Somos seres únicos, cujas características são determinadas pela genética e epigenética e moduladas pelos hábitos de nossos pais, principalmente durante a gestação, e pelo nosso próprio entorno”, diz a especialista. “As exposições ambientais ao estresse, à má nutrição, aos agrotóxicos, aos poluentes e comportamentos como sedentarismo e tabagismo têm efeitos durante a formação do nosso organismo”, completa a pesquisadora.
O estudo
O teste é relativamente simples, baseado em exame de sangue e machine learning. Os pesquisadores treinam um algoritmo de aprendizado de máquina com informações sobre a distribuição, a abundância, as modificações, as interações e as funções de uma ou de um grupo de proteínas, ou do conjunto de proteínas em células de determinados órgãos e tecidos. Em laboratório, é aplicada a técnica proteômica sobre a amostra de sangue do paciente. A partir do conteúdo das diferentes proteínas presentes no sangue, a inteligência artificial irá associar cada uma dessas moléculas ao envelhecimento normal ou acelerado dos órgãos avaliados.
Nessa primeira fase, o estudo avaliou as seguintes tecidos e órgãos: tecido adiposo, tecido arterial, cérebro, coração, sistema imune, intestino, rins, fígado, pulmão, músculos e pâncreas. Agora, estudos adicionais são necessários para aprimorar a técnica, baratear o processo e possibilitar a inclusão de mais órgãos ao mesmo tempo. A Universidade de Stanford já apresentou a documentação para patentear o teste, caso ele possa ser usado e vendido no futuro.
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O futuro
Métodos como o de Stanford se encaixam naquilo que chamamos de “medicina personalizada”. Atualmente, os protocolos de abordagem mais conhecidas implicam em adaptar o tratamento da doença conforme a reação do organismo do paciente. “O conhecimento que este exame possibilita nos permitirá o uso precoce de manobras. A prevenção é e sempre a melhor conduta”, finaliza Dra. Patrícia.
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