A utilização de inteligências artificiais no desenvolvimento de novos medicamentos tem crescido cada vez mais com o surgimento de novas ferramentas de aprendizado de máquina.
Recentemente, pesquisadores dos Estados unidos e Canadá utilizaram uma ferramenta de inteligência artificial no desenvolvimento de um novo antibiótico capaz de ser usado no tratamento contra infeções por Acinetobacter baumannii. Essa bactéria, segundo a OMS, é uma das três com maior urgência para o desenvolvimento de novos antibióticos.
Em entrevista à BBC, o autor principal no estudo, Dr. Jonathan Stokes, definiu a bactéria como “inimigo público número 1” devido a sua resistência a quase todos antibióticos utilizados normalmente.

Desenvolvimento
No estudo publicado na Nature Chemical Biology, a equipe de pesquisadores utilizou uma rede neural artificial (um método de processamento de dados por IA) para analisar uma lista de aproximadamente 7.500 moléculas capazes de inibir a proliferação in vitro do A. baumannii. A partir dessa análise, descobriram o Abaucin.
Esse composto foi capaz de controlar a infecção de forma localizada em camundongos, atacando apenas o A. baumannii. Segundo os pesquisadores, essa característica torna o Aubacin ainda mais promissor, uma vez que dificultaria o surgimento de cepas resistentes a antibióticos.
Inteligência artificial na medicina
Coautor da pesquisa e professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), James J. Collins declarou que “As abordagens de IA na descoberta de medicamentos vieram para ficar e continuarão a ser refinadas, nós sabemos que modelos algoritmos funcionam, agora é uma questão de adotar esses métodos de forma abrangente para descobrir novos antibióticos de maneira mais eficiente e menos onerosa.”
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Percalços
Apesar do otimismo sempre presente em notícias sobre o uso de IA no desenvolvimento de novos medicamentos, justificado pelas possibilidades de avanço rápido e eficaz, ainda há muito pela frente antes que esses medicamentos possam ser utilizados em larga escala. O Dr. Stokes prevê a disponibilidade do Abaucin apenas para 2030.
A equipe envolvida no desenvolvimento do Abaucin está longe de novata no campo. Em 2021, a ferramenta utilizada por eles, AlphaFold, identificou 296 proteínas essenciais de E. coli e 218 compostos antibacterianos e calculou a força das interações entre eles.
Em artigo publicado no blog do National Institutes of Health (NIH), o diretor do instituto, Lawrence A. Tabak, falou sobre os problemas encontrados: “Acabou que esse rastreio de compostos bacterianos contra alvos em potencial no E. coli levou a muitas previsões imprecisas. Por exemplo, quando comparavam no laboratório as previsões computacionais com as interações reais para 12 proteínas essenciais, descobriam que o modelo de simulação tinha uma chance de 50% de estar certo. Em outras palavras, não poderia identificar interações reais entre os medicamentos e proteínas melhor do que palpites aleatórios.”
Limitações
Segundo o artigo do NIH e o estudo mais recente publicado, os modelos e dados que alimentam a IA foram atualizados e melhorados. Contudo, como explica o colaborador do portal PEBMED, o Dr. Felipe Mesquita: “As pesquisas in silico trouxeram a capacidade de testar múltiplas hipóteses em um curto espaço de tempo, utilizando-se do aumento exponencial do poder computacional para processamento de grandes dados. A partir de dados relacionados à conformação da molécula base do medicamento e da estrutura da bactéria, esse tipo de pesquisa busca simular diferentes cenários em que o mecanismo de ação da droga sobre o microrganismo seja otimizado. A força de evidência desse modelo de pesquisa é baixa, comparável aos estudos pré-clínicos, uma vez que não é posto à prova em um meio cheio de incertezas como é o organismo vivo.”
O tipo de modelo utilizado nesse tipo de pesquisa impacta de forma significativa os resultados. Segundo Felipe Mesquita, a maior parte dos estudos divulgados utiliza ferramentas de inteligência artificial classificadas como narrow (limitadas), essas ferramentas encontram padrões em dados e através disso tentam prever resultados. “Dessa forma, é óbvio dizermos que a qualidade do resultado gerado está intrinsecamente relacionado à qualidade da informação disponível. Assim, cada vez mais o uso da inteligência artificial para análise de dados e pesquisa clínica tem assumido a forma de ferramenta que busca otimizar o trabalho humano, porém, de forma alguma, substituí-lo, uma vez que a tutoria humana é fundamental com base em aspectos éticos, jurídicos e técnicos (avaliando a confiabilidade do dado)”, concluiu.
Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.
Autoria

Augusto Coutinho
Jornalista formado pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) em 2009, com extensão em Produção Editorial (UNESP) e Planejamento Digital (M2BR Academy).
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