O ganho de peso excessivo durante a gravidez tornou-se um problema de saúde pública. O excesso de peso leva a consequências ruins para o binômio mãe-feto. Pelo lado materno, aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes gestacional (e posterior fator de risco para diabetes tipo 2), síndromes hipertensivas durante a gestação, partos cesarianas, obesidade materna. Pelo lado fetal, além da possibilidade de distocias durante o parto, o ganho excessivo de peso materno durante a gravidez pode ser o único fator para obesidade infantil, por exemplo. Se o ganho excessivo de peso é ruim com suas complicações, o ganho insuficiente também tem sua parcela de contribuição para complicar as gestações também podendo precipitar trabalho de parto prematuro e desnutrição intraútero com peso abaixo do esperado ao nascimento.
As revisões de literatura mostraram que as orientações realizadas diretamente às futuras mães são efetivas. Mas a necessidade de pessoal habilitado, espaço físico para as consultas tornam o custo inviável para serviços pequenos. Com isso, aliado à facilidade de acesso proporcionada pela mobilidade tecnológica atual, os aplicativos tornaram o acesso de pacientes e médicos (ou pessoal paramédico) a orientações de modo mais fácil, rápido e barato.

Análise do aplicativo
Baseado nesses dados, um trial randomizado (na verdade o primeiro) utilizando um aplicativo (HealthyMoms) para controle do ganho de peso excessivo (desfecho primário), gordura corporal, hábitos alimentares (Índice Sueco de Alimentação Saudável), atividade física moderada a intensa (AFMV), glicemia e resistência à insulina (desfecho secundário) na 37ª semana de gestação entre as mulheres suecas.
No período de 3 anos (outubro de 2017 a março de 2020) aproximadamente 4 mil mulheres foram recrutadas em sua consulta inicial para participarem do estudo, desde que tivessem mais de 18 anos de idade, gestações únicas e fossem capazes de entender sueco e manejar o aplicativo de forma eficiente. As pacientes do grupo controle seguiram recebendo as orientações tradicionais em consultas presenciais. Os casos receberam acesso ao aplicativo para controle, sugestões e acompanhamento de dieta, atividade física e orientações saudáveis diárias recebidas através das telas do aplicativo. O aplicativo permite o registro diário de peso, dieta e execução de atividade física. Além disso, 4x por semana as participantes recebiam mensagens de encorajamento.
Saiba mais: Guideline de atividade física na gravidez
Das 4 mil mulheres atendidas, 399 manifestaram interesse em participar do projeto. A partir desse número, restaram 305 para serem randomizadas nos grupos (algumas excluídas por abortamento, não preencherem critérios de inclusão, perderam contato ou desistiram por razões pessoais), divididas em 2 grupos e seguidos até 37 semanas de gestação. A avaliação de resistência à insulina foi feita através da medida usando-se amostras de glicemia e insulina e usando-se o índice de HOMA-IR.
Resultados
Os resultados do estudo mostraram que as gestantes que iniciaram o programa com sobrepeso ou obesas, tiveram um ganho de peso menor, não ideal, do que o grupo controle. A intervenção foi mais efetiva quando as pacientes obesas ou com sobrepeso seguiram o aplicativo. Em relação aos resultados secundários, não encontraram nenhum efeito na gordura corporal, atividade física moderada ou intensa, glicemia e resistência insulínica; no entanto, os participantes do grupo de intervenção tiveram uma pontuação mais alta no Índice Sueco de Alimentação Saudável com 37 semanas de gestação em comparação com o grupo controle. Apesar dos resultados indicarem resultado pouco satisfatório, serviu para mostrar o potencial da assistência remota podendo ser utilizada para suporte ao pré-natal de forma a utilizar menos recursos de assistência médica.
Referências bibliográficas:
- Sandborg J, Söderström E, Henriksson P, Bendtsen M, Henström M, Leppänen MH, Maddison R, Migueles JH, Blomberg M, Löf M. Effectiveness of a Smartphone App to Promote Healthy Weight Gain, Diet, and Physical Activity During Pregnancy (HealthyMoms): Randomized Controlled Trial. JMIR Mhealth Uhealth 2021;9(3):e26091. doi: 10.2196/26091
Autoria

João Marcelo Martins Coluna
Médico Ginecologista e Obstetra formado pela Universidade Estadual de Londrina • Mestrado em Fisiopatologia pela Unoeste (Universidade Oeste Paulista) • Docente da Unoeste (Presidente Prudente) - departamento materno infantil • Preceptor Residência Médica Hospital Regional Presidente Prudente - SP • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Hospital Regional Presidente Prudente • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Hospital Estadual Dr. Odilo Antunes Siqueira (Presidente Prudente - SP) • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Santa Casa de Misericórdia de Adamantina Plantonista Socorrista Santa Casa de Misericórdia Presidente Prudente • Médico Regulador ambulatorial município de Dracena - SP • Médico Preceptor ambulatorial UNIFADRA (Dracena - SP) • Ginecologista do serviço ambulatorial de Narandiba (SP) • Ginecologista e Obstetra do serviço ambulatorial de Pirapozinho (SP).
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