Pesquisadores italianos associaram casos de Covid-19 à miastenia grave em um estudo publicado no dia 10 de agosto na revista científica Annals of Internal Medicine.
A miastenia gravis é uma doença autoimune na qual os anticorpos se ligam aos receptores de acetilcolina (AChRs) ou a moléculas funcionalmente relacionadas na membrana pós-sináptica na junção neuromuscular.
No artigo, cientistas de três universidades da Itália descrevem três casos de pacientes que não tinham doença autoimune ou neurológica, mas que desenvolveram a miastenia grave cerca de uma semana após terem febre alta (por volta de 39 °C) por causa da doença.
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Confira os casos e os sintomas desenvolvidos:
Paciente 1: homem de 64 anos que, após quatro dias de febre, apresentou diplopia e fadiga muscular
Embora a radiografia de tórax fosse normal, o swab nasofaríngeo e o teste de reação em cadeia da polimerase da transcriptase reversa em tempo real (RT-PCR) para a Covid-19 mostraram um resultado positivo.
Os pesquisadores suspeitaram de miastenia gravis por causa dos sintomas. O exame neurológico estava normal. A tomografia computadorizada (TC) de tórax excluiu timoma.
A estimulação repetitiva do nervo facial mostrou um decréscimo de 57%, confirmando o envolvimento da junção neuromuscular pós-sináptica, e a concentração de anticorpos AChR no soro estava elevada (22,8 pmol/L; valor normal, < 0,4 pmol/L).
Foi administrado brometo de piridostigmina e prednisona.
Paciente 2: homem de 68 anos que apresentou fadiga muscular, diplopia e disfagia depois de sete dias de febre
Embora a tomografia computadorizada de tórax fosse normal, o swab nasofaríngeo e o teste de RT-PCR para a Covid-19 apresentaram resultados positivos.
Novamente, os pesquisadores suspeitaram de miastenia gravis por causa dos sintomas. O exame neurológico do paciente estava normal e a sua tomografia computadorizada de tórax excluía timoma.
A estimulação nervosa repetitiva mostrou um déficit pós-sináptico da transmissão neuromuscular dos nervos facial (52%) e ulnar (21%). O nível sérico de anticorpos AChR estava elevado (27,6 pmol/L). O paciente melhorou após um ciclo de tratamento com imunoglobulina intravenosa.
Paciente 3: mulher de 71 anos que desenvolveu hipofonia e disfagia após seis dias de febre
A paciente 3 era uma mulher de 71 anos que apresentou tosse e febre a 38,6 °C por seis dias. O esfregaço nasofaríngeo e o teste de RT-PCR para a Covid-19 mostraram um resultado negativo.
Cinco dias após o início dos sintomas, ela desenvolveu ptose ocular bilateral, diplopia e hipofonia. A TC de tórax revelou pneumonia intersticial bilateral e excluiu timoma. Um dia depois, ela evoluiu com disfagia e insuficiência respiratória e foi transferida para a unidade de terapia intensiva, onde recebeu ventilação mecânica por traqueostomia.
A estimulação nervosa repetitiva mostrou um déficit pós-sináptico de transmissão neuromuscular do nervo ulnar (56%), e seu nível sérico de anticorpos AChR estava elevado (35,6 pmol/L).
Cinco dias depois, a paciente fez um segundo teste de esfregaço nasofaríngeo para a Covid-19 e o resultado foi positivo.
Quando a plasmaférese foi iniciada, ela melhorou e foi extubada.
Relação entre miastenia grave e o novo coronavírus
De acordo com o artigo, a miastenia grave ocorreu nos pacientes após o vírus induzir o corpo a atacar o cérebro, acionando o sistema imunológico para produzir anticorpos que, erroneamente, tiveram como alvo os tecidos ou órgãos da própria pessoa.
Os cientistas italianos lembram que problemas neurológicos como tremores, convulsões e comprometimento da consciência são associados ao novo coronavírus desde o início da pandemia.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- G1. Cientistas identificam três casos de miastenia, doença neuromuscular, em pacientes com Covid-19. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/08/13/cientistas-identificam-tres-casos-de-miastenia-doenca-neuromuscular-em-pacientes-com-covid-19.ghtml
- Restivo DA, et al. Myasthenia Gravis Associated With SARS-CoV-2 Infection. Annals of Internal Medicine. 2020. Letters. https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/L20-0845
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