Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.
O tabagismo é a principal causa de mortalidade evitável no mundo. O consumo do tabaco atinge mais de um bilhão de pessoas no mundo, segundo a OMS. Além disso, é causa direta de 6 milhões de mortes anualmente, devendo atingir a marca de 10 milhões de mortes anuais em 2030. As evidências indicam que um em cada dois fumantes morrerá em decorrência do tabagismo.
O Brasil presencia reduções significativas dos níveis populacionais de tabagismo. Em 1989 o país detinha entre sua população 34,8% de tabagistas. Em 2009, 20 anos depois, a prevalência havia caído para 17,4%; em 2014, os resultados parciais de um programa de vigilância do ministério da saúde evidenciaram cerca de 10,8% de prevalência do tabagismo.
Leia mais: Cessação do tabagismo: qual terapia é mais eficaz?
Boa parte dessa conquista se deve às políticas públicas de alto impacto populacional para modificação do hábito de fumar. Isso inclui proibição de propagandas, aumento de impostos sobe o cigarro, proibição de consumo do tabaco em locais públicos e campanhas educativas. Por outro lado, ressoa o questionamento do que o profissional pode fazer para abordar essa questão junto ao paciente na prática cotidiana. Podemos dividir a abordagem inicial ao tabagismo em 5 etapas para abordagem no consultório.
-
Nível socioeconômico e de escolaridade
Estudos apontam que pessoas com menor grau de instrução e menor nível socioeconômico têm maiores dificuldades de cessar o tabagismo; entre os fatores que contribuem está a falta de acesso às drogas antitabagismo.
-
Antecedente pessoal prévio ou atual de transtorno de ansiedade, depressão ou abuso de drogas.
Esses grupos de pacientes apresentam maior carga tabágica diária. As considerações sobre a dificuldade de eliminar o hábito ou apresentar recaídas no curto prazo são controversas, pois há evidências tanto que apontam maior dificuldade quanto não tem diferença em relação à população geral. Contudo, as recomendações formais são que para se abordar bem a cessação do tabagismo que o paciente esteja estável do ponto de vista psiquiátrico.
-
Investigação do histórico de saúde
Recomenda-se uma investigação detalhada da história do paciente, suas comorbidades e principalmente as medicações em uso. Esses são pontos-chaves para a determinação das indicações e contraindicações das drogas antitabagismo.
-
Avaliação do grau de dependência à nicotina
A dependência do tabaco está intimamente atrelada à nicotina. A nicotina é responsável por aumentar os níveis de dopamina no núcleo accumbens, causando a sensação de prazer e bem estar. Para se avaliar o grau de dependência da nicotina pode-se utilizar a escala de Fangerström, um instrumento autoaplicável simples e que está disponível no Whitebook. O resultado da aplicação do questionário é um excelente preditor de sintomas de abstinência ao tabaco, o que demanda cuidados especiais ao paciente.
-
Avaliação do grau de motivação
Um dos pontos mais importantes para o abandono do hábito de fumar é a avaliação do grau de motivação do paciente. A motivação é essencial para o sucesso e manutenção da cessação do hábito de fumar, especialmente pelas questões comportamentais envolvidas e que devem ser modificadas. Para isso deve-se avaliar bem o grau de motivação. Uma das formas de avaliação é a categorização dentro dos estágios do modelo transteórico comportamental de Proschaska e colaboradores. Nesse modelo, os estágios que envolvem as modificações do comportamento são listados em: pré-contemplação, contemplação, preparação e ação.
Ao longo desse processo de abordagem, devemos estar ainda atentos a quatro ciladas do manejo sendo elas:
-
Desconsideram o tratamento para o tabagismo em indivíduos pré-contemplativos ou contemplativos.
Esses indivíduos se beneficiam de informações a cerca do hábito de fumar e essas intervenções são chaves para que eles mudem o estágio da modificação do comportamento.
-
Orientar indiscriminadamente a interrupção do tabagismo para tabagistas e etilistas. Esses indivíduos precisam ser avaliados individualmente e caso a caso decidido sobre a viabilidade de se abordar cada vício individualmente ou ao mesmo tempo.
-
Iniciar o tratamento com combinação de medicações.
A farmacoterapia deve ser focada no uso de apenas uma medicação. Em casos refratários ou graves deve-se cogitar a introdução de uma segunda droga antitabagismo.
-
Não avaliar antes da prescrição a existência de contraindicações para medicações antitabagismo.
Um dos pontos mais importantes para o estabelecimento da farmacoterapia é a triagem de critérios de inclusão ou exclusão para intervenção. Indivíduos que iniciam o uso das drogas antitabagismo e as interrompem têm menor chance de eliminar o hábito. Além disso, há ainda o risco inerente a cada uma das medicações.
Uma intervenção bem estruturada no consultório é capaz de ser eficaz e aumentar as chances da eliminação do hábito de fumar como já escrevemos aqui anteriormente. A mensagem a ser levada para casa é que a triagem adequada da população a sofrer a intervenção para a cessação do tabagismo é fundamental para garantia de sucesso na interrupção do hábito de fumar. Para isso agora você já sabe como agir.
É médico e também quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!
Referências:
- GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de Medicina de Família e Comunidade-: Princípios, Formação e Prática. Artes Medicas, 2018.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.