Na última sexta-feira foi anunciado o desenvolvimento da primeira vacina nacional contra a Covid-19, produzida pelo Butantan. Segundo o presidente do Instituto, Dimas Covas, os testes em seres humanos começarão daqui a três meses.
A expectativa é que o país receba 40 milhões de doses do novo imunizante em julho, conseguindo, assim, disponibilizar uma capacidade de produção de 100 milhões de doses por ano.
Naturalmente, o uso e a aprovação da vacina dependerão do sucesso dos testes realizados em voluntários e da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Queremos fazer os estudos em dois meses, dois meses e meio, no máximo três meses, para disponibilizar as doses no segundo semestre”, anunciou Dimas Covas em coletiva de imprensa.
Vacina 100% nacional?
No mesmo dia do anúncio, a Folha de São Paulo publicou uma reportagem com uma entrevista do professor Peter Palese, do Instituto Mount Sinai, nos Estados Unidos, afirmando que o imunizante anunciado pelo Instituto Butantan conta com tecnologia desenvolvida por ele e sua equipe, o que indicaria que a vacina não seria 100% nacional.
Em nota, o Butantan reconheceu que usa a técnica de produção da vacina a partir do vírus Newcastle, o que foi desenvolvido no Mount Sinai. Entretanto, destacou que a maior parte do projeto é mesmo nacional, incluindo a planejada produção das doses.
“A tecnologia da Butanvac, que será fabricada com custos baixo no Brasil, sem dependência de insumo importado, usa o vírus da doença de NewCastle, desenvolvido por cientistas do Icahn School of Medicine no Mount Sinai, em Nova York. A proteína S estabilizada do novo coronavírus utilizada na vacina com tecnologia HexaPro foi desenvolvida na Universidade do Texas, em Austin. O desenvolvimento da vacina está sendo realizado pelo Butantan na mesma plataforma usada para a vacina da influenza. Todos os processos produtivos serão realizados integralmente pelo Butantan”, diz a nota.
Tecnologia utilizada
A Butanvac vai utilizar a mesma tecnologia da vacina contra a Influenza, que também é fabricada pelo instituto. O vetor utilizado é um vírus chamado Newcastle, que infecta aves, desenvolvido no Mount Sinai, em Nova York.
Os pesquisadores injetam nesse vírus os genes da spike do novo coronavírus, como é chamada a proteína que se encaixa nas células humanas, para promover a infecção. Esse vírus foi modificado geneticamente e expressa a proteína S, que desenvolve imunidade de uma forma muito mais efetiva que essas outras vacinas no mercado. Após essa modificação no vírus, ele é introduzido em ovos de galinha, onde se multiplica.
Segundo Dimas Covas, o uso de ovos para fabricar vacinas é uma tecnologia segura e barata, o que deve favorecer a fabricação de milhões de doses a um custo baixo.
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Número de doses, variantes e cronograma
O Butantan entrou na última sexta-feira com pedido na Anvisa para iniciar os estudos clínicos com seres humanos. A meta anunciada é iniciar a vacinação da população brasileira com esse novo produto em julho deste ano.
Dimas Covas disse que, quando a vacina estiver liberada para uso, o instituto conseguirá produzir 100 milhões de doses por ano.
Perguntado sobre como seria possível fazer testes das fases 1, 2 e 3 em apenas três meses, o presidente do instituto defendeu que os processos podem ser “encurtados”, pelo fato de a vacina utilizar uma tecnologia conhecida, a mesma da gripe, e pela experiência prévia do Butantan com a testagem da CoronaVac.
“O que leva a termos esse cronograma é a experiência adquirida com o estudo clínico da Coronavac. Ganhamos muita experiência nesse período e o estudo para essa vacina pode ser encurtado. Não é um estudo de uma nova vacina de que não se conhece nada sobre o assunto. Pode ser feita de maneira comparativa com as vacinas já em utilização”, disse Dimas Covas.
O número de doses ainda não está definido. Durante os ensaios clínicos, os pesquisadores testarão a resposta imunológica dos participantes a diferentes doses e com intervalos variados.
Sobre a eficácia da nova vacina contra as variantes, o presidente do Butantan disse que os pesquisadores já estão utilizando os aspectos genéticos da variante de Manaus, apelidada de P.1, nas pesquisas para produzir a Butanvac.
“Estamos trabalhando na vacina com a variante P1. Se for necessário, adaptaremos para outras variantes”, afirmou Dimas Covas.
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Anvisa autoriza pesquisa de soro do Butantan contra Covid-19
Outra boa notícia é que a Anvisa autorizou a pesquisa clínica com seres humanos do soro hiperimune anti-Sars-CoV-2, também desenvolvido pelo Instituto Butantan.
A autorização foi condicionada a um Termo de Compromisso, que prevê a entrega de informações complementares. Para isso, será enviado um ofício com apontamento das pendências ao Butantan, o que já estava acordado entre a Anvisa e o Instituto.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- Butanvac: O que se sabe sobre vacina 100% brasileira que pode trazer 40 milhões de novas doses em julho. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56525590
- ButanVac será barata e é resultado do acúmulo de experiências do Butantan com produção da CoronaVac. Instituto Butantan. https://butantan.gov.br/noticias/butanvac-sera-barata-e-e-resultado-do-acumulo-de-experiencias-do-butantan-com-producao-da-coronavac
- Em nota, Butantan esclarece parceria com Mount Sinai sobre desenvolvimento da Butanvac. Instituto Butantan. https://butantan.gov.br/temp/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/butantan-esclarece-parceria-com-mount-sinai-sobre-desenvolvimento-da-butanvac
- Anvisa autoriza pesquisa de soro do Butantan contra Covid. Portal Anvisa. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-autoriza-pesquisa-de-soro-contra-covid-do-butantan
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