Recentemente, publicamos a atualização dos guidelines da British Society of Rheumatology (BSR) a respeito do uso de drogas antirreumáticas e imunossupressores na gestação e lactação. Além desse documento, a BSR também publicou uma recomendação a respeito do uso de diversas medicações comumente prescritas na reumatologia no contexto da gestação e lactação. Vamos resumir a seguir os pontos mais importantes desse documento.
Considerações para as diversas classes abordadas nesse consenso
- Analgésicos:
- Paracetamol e codeína podem ser utilizados durante toda a gestação e lactação;
- Tramadol não pode ser utilizado no período periconcepcional e no primeiro trimestre. Pode ser utilizado nos demais períodos.
- Tratamento para dor crônica:
- As seguintes medicações são compatíveis com todos os períodos: amitriptilina, gabapentina, pregabalina, venlafaxina, fluoxetina, paroxetina, sertralina e duloxetina. Algumas apresentam evidências limitadas, mas os autores julgam que o risco é improvável. Não se recomenda a suspensão de antidepressivos nos período puerperal;
- No caso do uso de gabapentina e prebagalina, devemos prescrever doses mais altas de ácido fólico (5 mg/dia) durante todo o período gestacional.
- Anti-inflamatório
- Tradicionais: compatíveis com período periconcepcional e segundo/terceiro trimestre até 30 semanas de idade gestacional e lactação. No primeiro trimestre, há associação duvidosa com perdas fetais e malformações; desse modo, evitar sempre que possível, preferindo uso intermitente se necessário. São compatíveis com a lactação;
- Inibidores da COX-2: incompatível com todos os períodos. Devem ser suspensos nas pacientes que estão tentando engravidar e não podem ser utilizados na lactação.
- Colchicina: compatível com todos os períodos.
- Dapsona: compatível com todos os períodos.
- Antiplaquetários:
- AAS em baixas doses: compatível com todos os períodos;
- Clopidogrel: evidência limitada, mas os autores julgam-no compatível com todos os períodos (risco improvável de complicações).
- Anticoagulantes:
- Varfarina: pode ser utilizada apenas em situações de exceção no segundo/terceiro trimestre. Deve ser suspensa no período periconcepcional e no primeiro trimestre. É compatível com a lactação;
- Heparina de baixo peso molecular: compatível com todos os períodos;
- Fondaparinux: compatível com todos os períodos (dados limitados, mas autores julgaram o risco improvável);
- DOACs: apenas a rivaroxabana é compatível com a lactação. Devem ser evitados em todos os períodos.
- Anti-hipertensivos:
- Nifedipino (< 90 mg/dia), anlodipino, labetalol e metildopa são compatíveis com todos os períodos. Alguns dados são limitados, mas o autores julgam o risco pequeno;
- iECA/BRA: Devem ser evitados sempre que possível em todos os períodos. Assim que a gestação for confirmada, devem ser suspensos. Podem ser utilizados apenas em situações de exceção no segundo/terceiro trimestre. Apenas o enalapril é compatível com a lactação.
- Bisfosfonatos: devem ser suspensos 3 meses antes do início das tentativas de engravidar. Não são compatíveis com nenhum período da gestação e não existem dados suficientes na lactação. Desse modo, deve ser evitado em todos os períodos.
- Vasodilatadores pulmonares: os dados são limitados. No entanto, devido à gravidade da situação e o risco iminente para mãe e feto, o uso de inibidores da PDE5, da endotelina e o protanoides podem ser considerados pela equipe multidisciplinar assistente.
- Exposição paterna: os dados são escassos, mas os autores julgam o risco pequeno para todas as medicações listadas. Desse modo, todas foram consideradas seguras para uso paterno.
Comentários
A gestação é um período crítico na vida de uma mulher. Além disso, o feto em formação é muito suscetível a efeitos externos, incluindo medicamentos.
O principal ponto que deve nortear a decisão clínica de manter os medicamentos durante a gestação é a avaliação de risco-benefício: se o risco de descompensação de uma condição clínica for deletéria para o feto e/ou para a mãe e o seu uso for relativamente seguro na gestação, esta medicação deve ser mantida. Caso a medicação não seja realmente necessária, vale o bom senso: considerar a sua suspensão, com controle clínico adequado.
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