Crise de gota: tratar com naproxeno ou dose baixa de colchicina?
O tratamento da crise de gota envolve AINEs, outros anti-inflamatórios, como a colchicina, e, dependendo, até mesmo algum corticoide. Qual a melhor opção?
O tratamento da crise de gota pode envolver anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), outros anti-inflamatórios, como a colchicina, e, dependendo, até mesmo algum corticoide.
Como os efeitos colaterais dos AINEs são frequentes, e por isso seu uso contínuo sempre deve ser evitado, um estudo publicado no Annals of the Rheumatic Diseases decidiu comparar o naproxeno (AINE) com doses baixas de colchicina como primeira linha em pacientes com crise aguda de gota.
Naproxeno versus colchicina para gota
O estudo CONTACT, randomizado e multicêntrico, recrutou 399 adultos com crise de gota em 100 clínicas, que foram divididos em grupos: um com uso de naproxeno 750 mg imediatamente, seguido de 250 mg de 8/8 horas por sete dias; e outro com colchicina 500 mcg de 8/8 horas por quatro dias.
O desfecho primário foi a alteração na intensidade da dor nas últimas 24 horas (usando a escala numérica de dor, de 1 a 10), que foi medida diariamente, até o sétimo dia de tratamento. Do total de adultos (naproxeno n = 200, colchicina n = 199), 87,5% concluíram os sete dias.
Resultados
- A diferença entre os grupos de naproxeno e das doses baixas de colchicina em relação aos escores de dor não foi significativa (colchicina versus naproxeno: diferença média ‐0,18; IC95% ‐0,53 a 0,17; p = 0,32);
- Algumas reações foram mais comuns no grupo de colchicina: diarreia (45,9% vs 20,0%; OR 3,31; 2,01 a 5,44) e dor de cabeça (20,5% vs 10,7%; 1,92; 1,03 a 3,55);
- No grupo de naproxeno a constipação foi mais comum (colchicina 4,8% vs naproxeno 19,3%; 0,24; 0,11 a 0,54);
- Participantes do grupo da colchicina precisaram usar mais outros analgésicos (paracetamol, acetaminofeno ou codeína) do que no grupo do naproxeno.
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Conclusões
Apesar de a resolução do quadro de dor não ter sido diferente nos dois grupos, o naproxeno apresentou menos efeitos colaterais. Além disso, também esteve associado a menor número de associações com outros analgésicos durante os sete dias.
Sendo assim, este AINE pode ser considerado como escolha primária no tratamento da crise aguda de gota para aqueles pacientes que não possuem contraindicações.
É sempre importante lembrar, porém, que o tratamento individualizado é o mais importante para a melhora de qualquer quadro de dor.
Gota
A gota é uma doença caracterizada pela deposição de cristais de urato no meio extracelular de articulações, ossos e tecidos moles, acometendo principalmente os membros inferiores. Pode manifestar-se por ataques recorrentes de artrite (crise aguda de gota), artropatia crônica, depósitos tofáceos de cristais de urato, nefrolitíase e nefropatia crônica.
Os sinais e sintomas mais comuns são dor, inchaço e vermelhidão. Entre os fatores de risco podemos relacionar: idade avançada, obesidade, hipertensão arterial, hiperlipidemia, diabetes mellitus, doença renal crônica, fatores dietéticos, álcool e medicamentos que alteram o balanço do ácido úrico.
O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível após o início do episódio inflamatório, a fim de aliviar os sintomas e acelerar a recuperação. A terapia hipouricemiante deve ser iniciada após controle da crise aguda de gota. Em pacientes que já fazem uso dessas medicações, manter a dose estável durante a crise.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- Roddy E, Clarkson K, Blagojevic-Bucknall M, et alOpen-label randomised pragmatic trial (CONTACT) comparing naproxen and low-dose colchicine for the treatment of gout flares in primary careAnnals of the Rheumatic Diseases Published Online First: 30 October 2019. doi: 10.1136/annrheumdis-2019-216154
- Gota. Medicina Interna – Reumatologia. Whitebook Clinical Decision – aplicativo. Disponível em <https://whitebook.pebmed.com.br/>
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