A síndrome antifosfolípide (SAF) é uma doença autoimune que cursa, predominantemente, com manifestações trombóticas e gestacionais, na presença persistente dos anticorpos antifosfolípides (aPL). No entanto, diversas outras manifestações não trombóticas podem estar presentes, como plaquetopenia, valvopatia, nefropatia, livedo, entre várias outras.
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Apesar do conhecimento acumulado ao longos dos anos a respeito dessas manifestações não trombóticas, os critérios de classificação atuais (critérios de Sapporo modificado) não as contemplam, demonstrando um claro descompasso entre o conhecimento clínico da doença e os critérios de classificação vigentes.
Dessa maneira, visando atualizar a classificação dos pacientes, representações do ACR e EULAR colaboraram em uma iniciativa para a atualização desses critérios.
Metodologia e premissas
Os critérios de classificação existem para criar grupos homogêneos para pesquisa. Desse modo, não são equivalentes a critérios diagnósticos.
Para os novos critérios de SAF, os autores privilegiaram uma maior especificidade, em detrimento da sensibilidade. Sendo assim, é possível que um paciente que tenha o diagnóstico clínico da SAF não preencha esses novos critérios de classificação (assim como ocorre em qualquer outra doença autoimune que utiliza critérios de classificação, como o lúpus eritematoso sistêmico [LES]).
Foram realizadas múltiplas fases até que esses novos critérios fossem desenvolvidos.
O critério só deve ser considerado se ele for a explicação mais provável para a manifestação clínica. Além disso, o intervalo de tempo entre ocorrência do evento clínico e a determinação da presença dos aPL não deve ser maior que 3 anos. Só devemos pontuar a maior pontuação dentro de cada domínio.
Mudanças principais nos critérios de classificação ACR/EULAR para Síndrome Antifosfolípide (SAF)
Os novos critérios foram desenvolvidos em um novo formato, com inclusão de critérios de entrada, seguido pela aplicação de critérios ponderados, agrupados por domínios clínicos e laboratoriais. Sua estrutura ficou próxima daquela dos critérios de LES.
Com relação aos domínios venoso e arterial, foram incorporadas avaliação de risco trombótico na pontuação (pontuando menos se o paciente apresentar alto risco para o evento em questão). Já o domínio obstétrico foi mais detalhado, como podemos observar a seguir. Um marco importante foi a incorporação de novas manifestações em diferentes domínios: microvascular, valvar cardíaco e hematológico. Com relação aos domínios laboratoriais, também houve um maior detalhamento.
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Novos critérios de classificação propostos
Critérios de entrada:
Para que o paciente seja candidato à aplicação dos critérios, ele deve apresentar pelo menos 1 critério clínico + 1 critério laboratorial
Domínios clínicos:
Domínio venoso:
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Domínio arterial:
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Domínio microvascular:
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Domínio valvar cardíaco:
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Domínio hematológico:
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Domínio obstétrico:
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Domínios laboratoriais:
Domínio do anticoagulante lúpico (ensaio funcional):
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Domínio dos aPL por imunoensaio (ensaios de fase sólida):
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Lembre-se: devemos pontuar apenas o maior valor dentro de cada domínio!
Classificação
Caso o paciente atinja 3 pontos nos domínios clínicos + 3 pontos nos domínios laboratoriais, ele é classificado como Síndrome Antifosfolípide (SAF).
Comentários
Esses critérios foram apresentados como draft, ou seja, ainda estão em fase de aprovação pelo ACR/EULAR. Após essa aprovação, serão publicados. No entanto, a construção desses critérios foi bastante meticulosa e é pouco provável que sofram grandes alterações.
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