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Carreira25 setembro 2024

Desafios silenciosos: médicas surdas contam sobre os desafios da profissão

Em seus relatos, profissionais contam como o uso correto da tecnologia e a implementação de políticas de inclusão podem transformar vidas
Por Redação Afya

No Dia do Surdo, conheça as histórias inspiradoras de Beatriz Galhano e Cinthia Guimarães, que transformaram suas limitações auditivas em forças, provando que a determinação é o melhor remédio para qualquer desafio na carreira médica.

Na Medicina, onde precisão e comunicação são cruciais, a presença de profissionais com deficiência auditiva é uma prova viva de enfrentamento e determinação, já que para eles, cada consulta, cada diagnóstico, representa uma vitória sobre barreiras que a maioria sequer imagina existir.

Em seus relatos, as médicas Beatriz Galhano e Cinthia Guimarães, contam como não apenas sentiram o chamado para salvar vidas, como fizeram desse sonho uma realidade e hoje inspiram futuras gerações a seguirem o mesmo caminho.

surdos

Superação e motivação

A motivação para seguir a carreira médica é algo pessoal e profundo, e para as médicas com deficiência auditiva, essa escolha é um exemplo claro de resiliência.

A Dra. Beatriz Galhano, que perdeu parte da audição aos 20 anos, já dentro da faculdade, relembra: “Desde nova sempre quis ser da área da saúde, e Medicina foi minha escolha depois que tive contato com a área de emergência. Os desafios da deficiência só foram vindo à tona durante a formação acadêmica”.

Sobre a escolha pela carreira, Dra. Cinthia Guimarães destaca a importância da rede de apoio a pessoas atípicas no dia a dia e nas escolhas sobre o futuro. “Ajudar as pessoas é o meu propósito e ser médica sempre foi a minha primeira opção. Sabia que seria desafiador, mas tive uma base familiar muito sólida e de muito apoio”, afirma.

Obstáculos e adaptações

Durante a formação médica, as dificuldades para estudantes com deficiência auditiva são diversas, desde a comunicação em ambientes clínicos até a utilização de equipamentos específicos.

“Lidar com o diagnóstico de surdez parcial e progressiva foi um dos maiores desafios, principalmente durante os estágios práticos e o internato. A leitura labial se tornou essencial, mas com o uso de máscaras na pandemia, me senti muito frustrada”, relembra Dra. Beatriz.

Reiterando a ideia de que dificuldades existem para serem superadas, Dra. Cinthia nos fala sobre como driblou situações que, para pessoas ouvintes, podem parecer simples. “No 2º ano da faculdade, quando iniciei a semiologia médica, tive receio de como seria avaliar a ausculta pulmonar e cardíaca dos pacientes. Precisei de mais tempo para definir os sons no exame físico, e recorri a tecnologias como estetoscópios com amplificadores de som durante a residência, devido à progressão da perda auditiva”, afirma.

Ambientes adaptados?

A inclusão de estudantes e profissionais da saúde com deficiência auditiva ainda está em processo de evolução. “Infelizmente, o ambiente acadêmico e os hospitais não estão totalmente preparados”, afirma Dra. Beatriz. “Ainda há muito desconhecimento sobre a surdez e suas diferentes necessidades das pessoas surdas. Educação e conscientização são passos fundamentais para melhorar o processo de inclusão dos profissionais”, diz, citando como exemplo de acessibilidade o uso de legendas e LIBRAS.

Já Dra. Cinthia ressalta que, em um comparativo, hoje em dia, a sociedade como um todo está bem mais preparado do que há 10 anos, graças à ampliação de políticas públicas inclusivas. Mas frisa: “Ainda é necessário erradicar o capacitismo e facilitar a comunicação, como manter os lábios à mostra para leitura labial e disponibilizar intérpretes para os que usam linguagem de sinais”.

Tecnologia como aliada

Como sabemos, a tecnologia desempenha um papel nas comunicações em geral. Na vida de pessoas com surdez ou perda auditiva, elas podem ser ainda mais essenciais no que diz respeito à entrada desses profissionais no mercado de trabalho.

“Sempre me apresento como deficiente auditiva e explico que faço leitura labial, e peço para quem falem comigo frente e com calma. Também busco falar a sós com o paciente ou acompanhante, para garantir uma comunicação mais clara”, diz Dra. Beatriz, que faz uso do implante coclear, mas não tem 100% da audição melhorada.

Segundo nos define a Dra. Cinthia, a tecnologia é uma das principais aliadas das pessoas surdas. “Precisei fazer o implante coclear em um dos ouvidos em 2018, na época não era Bluetooth. Na residência médica de pediatria, só podia usar apenas um lado da minha audição para examinar. Recorri às tecnologias dos estetoscópios com amplificadores de som. Aliás, uma dica é investir na tecnologia”.

Representatividade

“Nossa área ainda é muito elitizada, e há um viés em crer que médicos devem ser perfeitos. A deficiência não impede que sejamos ótimos profissionais; basta paciência e acessibilidade”, diz Dra. Beatriz Galhano, que complementa:

“Busquem profissionais médicos e fonoaudiólogos especializados para reabilitar a audição, busquem seus direitos e formas de acessibilidade no meio em que estudam. Somos maiores do que nossas deficiências”.

Dra. Cinthia Guimarães reforça: “O profissional da saúde com deficiência auditiva é o símbolo de progressão da sociedade em leis de inclusão e da transformação da comunidade surda com a tecnologia”.

“Limitações todos os seres humanos apresentam, e a nossa é sobre audição, mas isso não te torna incapaz. Não deixe que sua deficiência fale sobre você, explore suas potencialidades”, finaliza.

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