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Psiquiatria17 abril 2020

Saúde mental durante a crise por Covid-19: recomendações da OMS

Preocupados com os impactos que a crise pela Covid-19 pode causar, optamos por fazer mais um artigo sobre saúde mental a partir das orientações da OMS.

Preocupados com os impactos que a crise pela Covid-19 pode causar, optamos por fazer mais um artigo sobre saúde mental a partir das orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), liberadas em março deste ano. O link para o documento original pode ser acessado na bibliografia.

Essa doença vem chamando a atenção de todos desde o começo do ano e, com ela e as medidas que se seguiram, questões importantes referentes à saúde mental têm sido cada vez mais discutidas. Por isso a OMS desenvolveu esse documento sobre saúde mental, que terá suas recomendações divididas em alguns grupos: população geral, funcionários da área de saúde, gestores de saúde, cuidadores de idosos e de crianças. Vamos resumir aqui os principais pontos desse documento.

Recomendações de saúde mental na Covid-19

População geral

  • Evite as notícias que aumentam a ansiedade ou que causem uma sensação de angústia. É normal que a exposição constante às notícias ou o excesso delas aumente o grau de preocupação. Por isso tente buscar informações em fontes confiáveis (ex: no site OMS ou de autoridades locais) apenas 1 ou 2 vezes ao dia e em horários determinados. Fontes confiáveis ajudam a distinguir fake news de fatos concretos;
  • Proteja-se e ajude quem precisar. Ex.: ligue para os seus vizinhos e pergunte se eles precisam de ajuda;
  • O quadro de Covid-19 já atinge vários países, então não relacione a doença a uma nacionalidade ou etnia específica e tente ser empático com os que foram afetados;
  • Não associe a identidade de uma pessoa ao Covid-19, pois isso poderia criar um estigma. Portanto, ao invés de falar: “famílias com Covid-19”, “casos de Covid-19”, “doentes” ou “vítimas” prefira “pessoas com Covid-19”, “pessoas que estão se recuperando da Covid-19”, “pessoas que estão sendo tratadas para Covid-19”.
  • Respeite e valorize os profissionais de saúde e cuidadores que estão trabalhando com as pessoas infectadas com Covid-19!
  • Ajude a espalhar mensagens, histórias ou imagens positivas ou de esperança de pessoas que se recuperaram após a Covid-19 ou que ajudaram alguém em sua recuperação.

População em isolamento

  • Nos momentos de estresse, preste atenção aos seus sentimentos e necessidades. Procure fazer atividades físicas agradáveis e relaxantes de forma regular; mantenha uma rotina de sono e de alimentação saudável e, finalmente, mantenha a perspectiva: estudiosos e órgãos de saúde no mundo inteiro estão trabalhando neste assunto e em como cuidar da melhor maneira daqueles que foram afetados;
  • Como já orientado acima, ficar assistindo ou lendo notícias sobre a situação da Covid-19 constantemente pode causar angústia e ansiedade. Então, se atualize 1 ou 2 vezes por dia através de fontes confiáveis e evite rumores ou fake news.
  • Mantenha-se conectado, inclusive junto às suas redes sociais e, mesmo em isolamento, tente manter suas rotinas diárias. No caso de recomendação de distanciamento social mantenha o contato através de e-mails, telefonemas ou videoconferências.

Gestores da área de saúde e lideranças

  • Proteja os funcionários de saúde do estresse crônico ou de problemas de saúde mental, pois isso ajudará no desempenho da função. É necessário pensar na capacidade laboral a longo prazo;
  • Garanta informações de qualidade, atualizadas e confiáveis para todos os trabalhadores. Além disso, promova rodízios entre os profissionais de saúde para que alternem atividades mais e menos estressantes; coloque um funcionário menos experiente junto a um mais experiente; encoraje e inicie intervalos no trabalho e flexibilize a escala daqueles que forem afetados por um evento estressante ou que possuem familiares nessa situação;
  • Garanta que os profissionais saibam onde encontrar auxílio psicológico ou voltado para a saúde mental, ou, pelo menos, facilite o acesso a estes. Os próprios gestores também sofrem com muita pressão e estresse e podem se beneficiar desta medida;
  • Oriente os voluntários, motoristas de ambulância, professores, líderes comunitários, enfermeiros e pessoas que trabalham em locais onde há quarentena sobre como fornecer suporte emocional aos que foram afetados. As estratégias citadas para essa função chamam-se primeiros cuidados psicológicos e estão disponíveis em um documento também da OMS em parceria com outras instituições. O link para essa referencia encontra-se na bibliografia e está disponível em português;
  • Avalie as queixas ou condições neurológicas urgentes ou relacionadas à saúde mental (ex: delirium, transtornos ansioso ou depressivos graves, transtornos psicóticos) nas emergências ou nas unidades de saúde. Pode ser necessário que haja uma equipe especializada e treinada para isso;
  • Tente garantir a disponibilidade das medicações psicotrópicas essenciais a todas unidades de saúde, pois a descontinuação abrupta dos mesmos deve ser evitada.

Ouça também: Saúde mental dos profissionais em tempos de coronavírus [podcast]

Funcionários da área de saúde

  • É possível que o profissional ou mesmo toda a equipe de saúde sinta-se estressada, o que pode ser considerado normal diante das circunstâncias. Mas lembre-se: o estresse e os sentimentos associados não são um sinal de fraqueza ou de que você é incapaz de realizar seu trabalho. Tente administrar o estresse e seu bem-estar psicossocial, pois isso é tão importante quanto cuidar da sua saúde física;
  • Ao tentar se comunicar com uma pessoa com déficits cognitivos, psicossociais ou intelectuais tente ser o mais claro possível. Sempre que possível inclua formas de informação não verbais;
  • Procure saber como oferecer apoio aos afetados pela Covid-19 e como vinculá-los aos recursos disponíveis, especialmente na população que precisa de ajuda psicossocial ou relacionada à saúde mental. O estigma à ambas condições podem fazer com que o paciente evite procurar ajuda. Para maiores informações a OMS disponibiliza o mhGAP Humanitarian Intervention Guide (disponível em inglês, com link na bibliografia);
  • Cuide-se! Sempre que possível use estratégias de enfrentamento e tente descansar no turno de trabalho ou entre plantões; garanta sua hidratação e alimentação; pratique atividade física e mantenha contato com amigos e familiares. Evite o tabagismo ou o uso de álcool ou drogas, pois a longo prazo pode haver comprometimento da saúde mental e do seu bem-estar físico;
  • Infelizmente os profissionais de saúde podem sofrer com a evitação de suas famílias ou de outras pessoas por medo ou estigma. Se possível, mantenha o contato com as pessoas que lhe são importantes, ou com colegas que estão vivendo uma situação semelhante, usando recursos digitais para isso.

Para idosos, portadores de comorbidades e seus cuidadores

  • Idosos, especialmente aqueles em isolamento, com quadros demenciais ou alterações cognitivas, podem se sentir mais estressados, ansiosos, agitados ou com raiva neste momento de quarentena/crise. Dessa forma, deve-se tentar garantir suporte emocional, especialmente a partir de familiares e profissionais de saúde;
  • Compartilhe informações simples e claras sobre o que está acontecendo e como reduzir o risco de infecção, adaptando, quando necessário, a linguagem para que aqueles com prejuízo cognitivo possam compreender o que está acontecendo. Repita essas informações sempre que for necessário e as comunique de forma clara, concisa, paciente e respeitosa. Tente fazer com que a família ou outros grupos de apoio também forneçam informações e ajudem com as medidas preventivas (ex: lavar as mãos). Outra estratégia é disponibilizar esses dados através de imagens ou de documentos escritos;
  • Caso você tenha alguma comorbidade, tente garantir o acesso a todas as medicações que esteja usando. Se necessário, peça ajuda com isso;
  • Prepare-se e antecipe onde pode solicitar ajuda, caso necessário (ex: acesso aos cuidados médicos, como conseguir comida ou um transporte). Garanta suas medicações regulares por pelo menos 2 semanas.
  • Aprenda e faça exercícios físicos simples regularmente durante a quarentena ou isolamento. Isso ajuda a manter a mobilidade e a diminuir o tédio;
  • Tente manter uma rotina de atividades e mantenha contato com as pessoas queridas (ex: através de emails, telefonemas, mídias sociais ou teleconferências).

Leia também: Humanização do caos: intervenções da psicologia hospitalar frente ao coronavírus

Pais e cuidadores de crianças

  • Nesta época de crise as crianças podem estar mais apegadas e/ou demandantes. Converse e explique o que está acontecendo, adaptando o discurso para a idade delas. Caso estejam ou fiquem preocupadas, tente reuni-las ou ficar mais próximo a eles para aliviar suas ansiedades. Lembre-se que as crianças buscam nos pais ou adultos próximos exemplos de como devem lidar com as suas emoções e reagir nos momento de dificuldade;
  • Se for seguro, mantenha as famílias unidas e as crianças próximas de seus pais. Evite separá-los sempre que possível. Caso a criança precise ser separada de seus pais, garanta uma opção adequada para que ela seja cuidada e mantenha contato regular entre a criança e seus pais ou responsáveis através dos recursos disponíveis (ex: telefonemas) e, se possível, em horários programados;
  • Tente buscar maneiras positivas através das quais as crianças possam expressar seus sentimentos (ex: medo ou tristeza). Lembre-se de que cada criança tem uma maneira única de se expressar e dividir seus sentimentos pode-lhes trazer alívio. Exemplo: atividades criativas, jogos ou fazer desenhos;
  • Na medida do possível, tente manter ou criar uma rotina, especialmente se as crianças também estiverem de quarentena. Tente envolvê-las em atividades próprias para a idade, inclusive estudos, e estimule que continuem brincando e se socializando da maneira que for possível.

Referências bibliográficas:

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