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Gastroenterologia15 dezembro 2022

Não existe dose segura para ingestão de álcool em pacientes cirróticos compensados

O consumo de álcool e o dano hepático é proporcional, com risco aumentado de cirrose se ingestão superior a 20-30 g de álcool por dia.

O consumo excessivo de álcool é a principal causa de cirrose nos países ocidentais. Nenhum estudo recente avaliou a influência da ingestão de diferentes quantidades de álcool em pacientes com cirrose. Louvet e colaboradores avaliaram prospectivamente uma grande coorte de pacientes com cirrose etanólica, denominada CIRRAL, visando a determinar a relação entre o consumo de álcool e sobrevida livre de descompensação e hepatocarcinoma nessa população.

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Não existe dose segura para ingestão de álcool em pacientes cirróticos compensados

Metodologia

Os critérios de inclusão foram: a) maiores de 18 anos; b) cirrose comprovada por biópsia, independente do tempo da biópsia; c) abuso crônico de álcool de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (mais de 21 doses por semana para mulheres e mais de 28 doses por semana para homens) há pelo menos dez anos; d) sorologia negativa para hepatite B, C ou outras causes de cirrose; e) Child-Pugh A no início do estudo; f) ausência de neoplasia primária de fígado e lesões focais hepáticas suspeitas detectáveis na linha de base na avaliação pré-inclusão. Os pacientes poderiam estar abstinentes ou não no momento da inclusão e a cessação do álcool não era um critério de inclusão.

Os pacientes foram acompanhados prospectivamente a cada 6 meses, com avaliação clínica e US de abdome superior com doppler de vasos hepáticos. Além disso, exames de sangue foram realizados pelo menos uma vez por ano e a vigilância endoscópica regular foi agendada de acordo com as diretrizes internacionais e francesas. O consumo de álcool foi registrado em cada consulta como o número médio de copos por semana desde a última visita, dividido em 5 categorias: 1-6; 7-20; 21-27; 28-69 e 70 copos ou mais por semana. Na França, um copo padrão equivale a 10 gramas de álcool puro.

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O desfecho primário foi a primeira recaída alcoólica (definida como consumo de ≥1 copo/semana) em pacientes abstinentes. Os desfechos secundários foram sobrevida livre de eventos hepáticos e sobrevida global. A sobrevida livre de eventos hepáticos foi definida como o tempo até a descompensação hepática (definida como ascite, encefalopatia ou hemorragia digestiva), CHC ou morte, o que ocorrer primeiro. Transplante de fígado foi tratado como morte.

Resultados

Foram incluídos 650 pacientes com cirrose etanólica compensada. A idade mediana foi de 58 anos [IQR, 51 a 64], 438 (67%) eram do sexo masculino e o tempo de seguimento médio foi de 46 meses [IQR, 33 a 70]. No início do estudo, 456 (70%) pacientes já haviam parado de consumir álcool há uma mediana de 24 meses [IQR, 9 – 71], enquanto os 194 pacientes restantes tiveram um consumo médio diário de álcool de 2 copos [IQR, 0,5 – 7]. A mediana de exposição ao álcool anterior ao início do estudo foi de 55 [8,9-156] copos-ano (isto é, 55 copos por dia durante um ano ou 5,5 copos por dia durante 10 anos). 30,9% dos pacientes abstinentes recaíram ao longo do seguimento, sendo esse risco foi maior em pacientes com história de abuso de drogas (sHR=2,06, IC95%, 1,06-3,99) e naqueles com tempos de interrupção de álcool mais curtos (sHR=1,07/ano, IC95%, 1,01-1,16).

Durante o seguimento, a descompensações hepáticas (medidas por ascite, encefalopatia ou sangramento gastrointestinal) ocorreram em 97 pacientes, enquanto 61 desenvolveram CHC e 156 morreram ou foram transplantados (n=3). A sobrevida mediana foi de 97 meses. Idade, consumo de álcool no início do estudo, contagem de plaquetas e escore de Child-Pugh >5 foram associados com sobrevida global e livre de eventos hepáticos na análise multivariada. O consumo de café protegeu contra descompensação e morte em 40%. Consumo de álcool de mais de 25 copos-ano, durante o seguimento, foi independentemente associado com menor sobrevida. Gráficos de Simon e Makuch confirmam o benefício de não consumir álcool (<1 copo/semana) em ambos os resultados e impacto dose dependente do álcool ao longo do tempo. O risco de morte aumentou proporcionalmente a dose de bebida ingerida no início da coorte:  consumo de 1-6 copos de álcool por semana = HR de morte 1,49 (IC95%, 1,00 – 2,24); consumo de 28 copos por semana ou mais =HR= 1,98, 95% CI, 1,21 a 3,24.

Mensagens práticas

A recaída no consumo de álcool é observada em mais de 30% dos pacientes após o diagnóstico de cirrose compensada. A ingestão de álcool reduz a sobrevida global e livre de decompensações hepáticas. Pacientes com cirrose alcoólica compensada devem ser aconselhados a interromper completamente a ingestão de álcool, mesmo em pequenas quantidades. Nenhum consumo de álcool pode ser considerado seguro em cirróticos.

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Referências bibliográficas

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