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Psiquiatria14 agosto 2023

Escala para avaliação de risco de suicídio após autolesão

Estudo desenvolveu e validou uma ferramenta para a predição de suicídio após uma autolesão.

Por Tayne Miranda

A prevenção de suicídio, além de intervenções populacionais, como garantir acesso a assistência em saúde mental e restrição de acesso a meios letais, passa por identificar e direcionar adequadamente o cuidado a grupos de alto risco. Entre as pessoas que apresentaram autolesão (16 milhões em todo o mundo em 2019), o risco de morte por suicídio no 1º ano após é 20 vezes maior do que na população geral.

Nesse sentido, a avaliação do risco futuro de suicídio é um passo importante para direcionar o cuidado clínico.

Fazel et al. desenvolveram e validaram externamente uma ferramenta para a predição de suicídio após uma autolesão com boas medidas de calibração e discriminação.

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Escala para avaliação de risco de suicídio após autolesão

Método

Para a criação do modelo foi feita uma coorte retrospectiva em banco de dados suecos, incluindo pacientes com no mínimo dez anos de idade que buscaram um hospital ou um especialista (psiquiatra, por exemplo), com autolesão não fatal entre 01/01/2008 e 31/12/2012. As informações de seguimento foram coletadas até 31/12/2013. Os desfechos foram morte por suicídio 6 e 12 meses após a data da autolesão.

Resultados

A coorte abarcou 53.172 sujeitos, 37.523 na amostra de desenvolvimento do modelo e 15.649 para a validação externa. Na amostra do modelo, 267 (0,7%) morreram de suicídio em seis meses, 391 (1,0%) em doze meses e 540 (1,4%) em dois anos. No grupo de validação externa, 108 (0,7%), 178 (1,1%) e 256 (1,6%), respectivamente. 44% da amostra de desenvolvimento e 47% da amostra de validação receberam um diagnóstico de transtorno mental nos 12 meses prévios. Autolesão por corte foi usada por 13% do grupo modelo e 10% do grupo de validação. Entre aqueles que morreram por suicídio o tempo médio de sobrevivência desde o evento índice foi de 11 meses.

O modelo proposto contém 11 fatores de risco. Fatores associados com alto risco de suicídio inclui sexo masculino, transtorno por uso de substância atual ou precedente, transtorno psiquiátrico e uso de medicação psicotrópica recente, história de autolesão, admissão durante à noite e forma de autolesão (overdose de medicação e enforcamento).

Nos dois anos de seguimento, um em cada 70 participantes morreu de suicídio e um em cada 100 em 12 meses após a autolesão.

O desempenho do modelo na validação externa foi bom, com c-index no 6º e 12º mês de 0,77. Com o ponto de corte de 1%, no 6º mês, a sensibilidade foi 68% e a especificidade foi 71%, com uma taxa de 29% de falso positivo.

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Um dos pontos fortes do modelo atual é o seu grande tamanho amostral. Muitos dos fatores incluídos na escala são prevalentes em menos de um quinto das pessoas que cometeram autolesão, o que argumenta contra a crítica de que essas ferramentas são construídas com fatores de risco comuns e que, portanto, não possuem utilidade clínica.

Trabalhos futuros deverão considerar como a ferramenta pode ser utilizada e como ela pode ser associada ao tratamento. Um uso recomendado é que ela sirva como um rastreio para que uma avaliação de risco mais detalhada seja conduzida nos grupos de maior risco. Ela pode ser utilizada como uma ferramenta auxiliar, uma vez que os clínicos tendem a ser muito otimistas quanto ao risco e concentrar-se excessivamente nos fatores recentes.

Dentre as limitações do estudo, estão a não inclusão de fatores de risco para suicídio após autolesão como desesperança e questões sobre risco futuro/intenção futura, uma vez que esses fatores são difíceis de serem avaliados retrospectivamente para o desenvolvimento de um modelo com adequado poder estatístico.

Conclusão

O modelo completo está disponível online como uma calculadora de risco que fornece a probabilidade de morte por suicídio 6 e 12 meses após o episódio de autolesão: OxSATS; https://oxrisk.com/oxsats/

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Referências bibliográficas

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