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Psiquiatria7 novembro 2025

Eficácia e segurança de antidepressivos na depressão pós-IAM: metanálise

Artigo aponta para a provável segurança e eficácia do tratamento antidepressivo em pacientes com transtorno depressivo maior após IAM.

Este artigo se baseia numa forte associação entre depressão e infarto do miocárdio (IAM). É frequente a observação de depressão em pacientes que infartaram, embora a prevalência seja variada entre 5% e mais de 30%. Evidências prévias indicam que a identificação e o manejo adequados podem aliviar sintomas e que sintomas depressivos subclínicos se associam a uma maior morbimortalidade nessa população. Persistem, porém, dúvidas sobre o uso de antidepressivos após o IAM. Nesse contexto, Wan et al. conduziram uma revisão sistemática e meta-análise para avaliar segurança e eficácia do tratamento antidepressivo em pacientes no período pós-infarto. 

Métodos

O estudo seguiu a diretriz PRISMA e pesquisou seis bases (PubMed, Embase, Web of Science, Ovid, EBSCO e Cochrane Library), incluindo publicações até 31 de outubro de 2024. Foram elegíveis estudos que diagnosticaram depressão por instrumentos validados ou entrevistas psiquiátricas estruturadas. Dois pesquisadores selecionaram os artigos, com um terceiro revisor para resolver divergências. A certeza da evidência foi avaliada pelo GRADE. As análises estatísticas foram feitas no Stata; a heterogeneidade foi quantificada por I² e teste Q, e o viés de publicação verificado pelos testes de Begg e Egger. 

No total, 12 estudos foram incluídos. Alguns trabalhos foram excluídos por falta de acesso ao texto completo, o que pode introduzir viés de seleção. Entre os estudos incluídos, tipo e dose dos antidepressivos nem sempre foram reportados, de modo que, no conjunto analisado, apenas ISRSs e mirtazapina puderam ser considerados. Aceitação, adesão e eventos adversos não foram consistentemente avaliados. Predominaram desfechos de longo prazo. Para combinar diferentes escalas de depressão, utilizou-se a diferença média padronizada (SMD) — que pode inflar tamanhos de efeito em algumas circunstâncias. 

Resultados

Os resultados mostraram que o uso de antidepressivos em pacientes com depressão pós-IAM reduziu os escores de depressão no longo prazo e não aumentou o risco de reinternação por doença cardíaca, eventos cardíacos adversos ou mortalidade por todas as causas. Houve ainda sinais de possível redução no risco de novo infarto e de procedimentos de revascularização, mas esses benefícios cardiovasculares adicionais apresentam baixa certeza, devendo ser considerados com cautela. 

A depressão após o infarto do miocárdio se associa a um risco de mau prognóstico cardíaco. Os pacientes que desenvolvem depressão e ansiedade após um infarto podem sofrer com um impacto negativo na adesão ao tratamento, recuperação e qualidade de vida. Ainda assim, nem sempre o quadro é reconhecido pelos profissionais de saúde, atrasando o diagnóstico e o tratamento.  Os autores mencionam que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) podem ser considerados como uma opção de primeira linha, embora sejam necessários estudos comparativos com outras classes e ensaios clínicos randomizados adicionais para consolidar esses resultados. 

Conclusão e mensagem prática

Concluindo, este artigo aponta para a provável segurança e eficácia do tratamento antidepressivo em pacientes com transtorno depressivo maior após IAM, com melhora de sintomas e sem piora dos desfechos cardiovasculares avaliados. A redução de eventos cardiovasculares permanece incerta e requer confirmação em estudos futuros, como ensaios clínicos randomizados. 

 

Autoria

Foto de Paula Benevenuto Hartmann

Paula Benevenuto Hartmann

Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Psiquiatra pelo Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF ⦁ Mestranda em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto, Portugal.

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