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Pneumologia30 março 2022

Atualização em asma e covid-19

Durante a pandemia de covid-19, postulou-se se pacientes com asma estariam sob risco de pior evolução da doença.

Os vírus respiratórios são os principais responsáveis pelas exacerbações agudas da asma. Durante a pandemia de covid-19  postulou-se se o novo vírus seria um fator de exacerbação e se pacientes asmáticos estariam sob risco de pior evolução da doença. O objetivo desta revisão é reunir o que há de evidência sobre a relação entre a covid-19 e os pacientes asmáticos.

Asma e COVID-19

​​A asma aumenta o risco de infecção por SARS-CoV-2?

A enzima conversora de angiotensina-2 (ACE2) é o principal receptor que medeia a entrada do SARS-CoV-2 nas células. Uma expressão aumentada de ACE2 expõe o pulmão a maior acometimento pelo SARS-CoV-2 e gravidade da covid-19. Estudos epidemiológicos sobre a pandemia de influenza A (H1N1) demonstraram que a infecção pelo H1N1 foi intimamente associada à asma em crianças e adultos. No entanto, estudos epidemiológicos iniciais relataram que a incidência de covid-19 em pessoas com asma foi relativamente baixa e que não houve aumento aparente do risco de infecção por SARS-CoV-2 nesses pacientes. Em uma análise de 22.254 pacientes testados para SARS-CoV-2, a prevalência de pacientes com asma entre pacientes foi de 7%, com variações a depender do país estudado. No geral, as evidências atuais apoiam o conceito de que a asma não aumenta o risco de infecção pelo SARS-CoV-2.

A asma aumenta o risco de covid-19 grave? 

A idade avançada e as comorbidades, como obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes, são consideradas fatores de risco independentes para covid-19 grave e aumento da mortalidade. Se a asma também deve ser considerada um fator de risco é incerto. Os diferentes níveis de gravidade e fenótipos da doença podem influenciar na evolução do quadro. A maioria dos trabalhos, após ajuste de variáveis, não encontrou relação da asma com pior evolução. Além disso, os estudos com asma grave e covid-19 são escassos.

Fenótipos da asma e covid-19

Estudos apontaram o fenótipo T2 baixo (não eosinofílico) como provável fator de pior evolução devido à maior expressão dos receptores ACE2. Em uma coorte coreana nacional, Yang et al.  relatou que pacientes com asma não alérgica tiveram um risco maior de positividade do teste para SARS-CoV-2 e quadro clínico grave resultados do covid-19 do que aqueles com asma alérgica, apoiando a ideia de que o fenótipo T2 baixo pode estar associado a um risco aumentado de covid-19 grave. Entretanto, muitos pacientes com asma T2 baixo são geralmente mais velhos com comorbidades como obesidade e diabetes e têm uma inflamação subclínica crônica devido à desregulação metabólica.

Curiosamente, pacientes hospitalizados com covid-19 geralmente não apresentavam exacerbações de asma, contrastando com achados em pacientes infectados com outros vírus respiratórios que são causas importantes de exacerbações  Uma das possíveis explicações para isso é a alta prevalência de inflamação T2, principalmente em crianças, o que tem um efeito protetor na infecção do SARS-CoV-2 e na gravidade da doença.

Corticoides inalatórios (CI) 

A maioria dos estudos epidemiológicos relataram que não há evidências de que o uso de CI aumente a infectividade do SARS-CoV-2 e a gravidade do covid-19. Os CI têm efeitos anti-inflamatórios nos pulmões, reduzem a expressão de ACE-2  em células epiteliais brônquicas e podem reduzir a replicação de SARS-CoV-2 em células epiteliais in vitro. Além disso, estudos de fase 2 mostraram que a budesonida inalada reduziu a carga de sintomas e o tempo de recuperação, com uma alta probabilidade de também reduzir a necessidade de internação hospitalar, além de reduzir visitas à emergência.

Com isso, parece que os corticoides inalatórios não são um fator de risco independente para aumento da infecção por SARS-CoV-2 ou gravidade da covid-19. Eles podem ter um papel no tratamento de covid-19 precoce na comunidade; no entanto, estudos maiores são necessários para entender melhor o efeito da medicação na fisiopatologia do covid-19, a eficácia de outros corticoides e o efeito em pessoas totalmente vacinadas com covid-19.

Corticoides sistêmicos

Um grande estudo israelense recente de 80.602 pacientes adultos com asma, relatou que uso crônico de corticóides sistêmicos (prednisona oral 5-40 mg por dia), bem como uso recente (definido como dentro de menos de 120 dias) e mais de duas prescrições (até 40 mg ao dia) por três dias ou mais para exacerbação durante o ano passado foram todos fatores de risco independentes para gravidade da covid-19 e mortalidade por todas as causas, porém sem aumento de chance de infecção. Em relação aos demais trabalhos, o uso de corticoide prévio é associado a gravidade da asma, sendo portanto, um fator associado a infecções mais graves.

Leia também: Atualizações sobre o tratamento da exacerbação de asma em pediatria (Parte 1)

Biológicos

A maioria dos biológicos bloqueia a via T2, associada a quadros leves de infecção por covid-19. Com isso, houve muito receio que essas drogas pudessem levar a quadros mais graves. No entanto, a evidência clínica mostra que o uso de biológicos é seguro. O uso de terapia biológica não foi associado com gravidade da covid-19 em coortes de asma grave da Itália e da Bélgica.

Mensagens práticas

  • A asma não configura uma fator de risco para covid-19 e não está relacionada com pior desfecho da doença;
  • Os pacientes devem manter as medicações de uso habitual, mesmo se infectados pelo  SARS-CoV-2;
  • Pacientes com asma grave geralmente possuem outras comorbidades que elevam o risco para pior evolução da doença;

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Referências bibliográficas

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