A exacerbação aguda de asma é causa comum de atendimento pediátrico de emergência. Nos últimos anos, alguns conceitos e orientações foram atualizados, o que motivou uma revisão e publicação conjunta da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
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Definição de exacerbação
- Obstrução do fluxo aéreo levando à piora aguda ou subaguda dos sintomas da asma e da função pulmonar, sendo caracterizada por:
- Falta de ar;
- Tosse;
- “Chiado”;
- Sensação de aperto torácico.
Principais gatilhos para exacerbação
- Infecções respiratórias virais;
- Exposição a fumaça, poluentes e alérgenos inalatórios (ex.: ácaros, pólen);
- Medicamentos;
- Atividade física;
- Distúrbios psicossociais;
- Baixa adesão ao tratamento com corticosteróides inalados (CI).
Objetivos do tratamento na exacerbação da asma
- Reverter a obstrução ao fluxo aéreo;
- Corrigir a hipoxemia;
- Minimizar o risco de recidiva dos sintomas;
- Prevenir novas exacerbações.
Pacientes com maior risco de exacerbações graves
- História de asma quase fatal (internação em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica [UTIP] e intubação);
- Exacerbação com necessidade de emergência ou internação no último ano;
- Uso excessivo de β-2 agonistas de curta duração (SABA);
- Ausência de uso de corticosteroides inalados;
- Má adesão ao tratamento;
- Baixa percepção de gravidade;
- Comorbidades (ex.: pneumonia, cardiopatia).
Sinais de gravidade da exacerbação
- Saturação de O2 (SO2) < 90% ou 92% em menores de 5 anos;
- Alteração do nível de consciência (agitação, sonolência);
- Dificuldade de falar sentenças;
- Sinais de desconforto respiratório (tiragem subcostal, intercostal, retração de fúrcula ou batimento de aletas nasais);
- Pico de fluxo expiratório (PFE) < 50% do previsto para o paciente.
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Tratamento
- Hipóxia
- O risco de insuficiência respiratória é maior em crianças, principalmente lactentes;
- No tratamento com SABA, pode haver piora da SO2 em 5% ou mais nos primeiros 30 minutos após a dose inicial;
- O objetivo é manter a SO2 ≥ 94%, sendo geralmente suficiente, na maioria dos casos, a administração de 1-3 L/min de O2 via cateter nasal ou máscara facial;
- A intubação deve ser considerada em caso de rebaixamento do nível de consciência, hipoxemia, acidose respiratória, depressão respiratória e/ou bradicardia.
- Broncoespasmo
- Evento chave na exacerbação da asma. É caracterizado pela obstrução do fluxo de ar decorrente da contração de músculo liso brônquico, cuja principal manifestação clínica é a sibilância.
- A sibilância não é parâmetro confiável de gravidade. A ausência de sibilos pode ser sinal de obstrução grave do fluxo de ar, devendo-se considerar outros sinais e sintomas, como o uso de musculatura acessória, agitação e dificuldade para falar;
- O PFE oferece avaliação simples, econômica e rápida do grau de obstrução e resposta à terapia instituída.
- Valores entre 50-79% indicam necessidade de tratamento médico imediato com SABA;
- Valores < 35% estão associados a episódios mais graves e com risco de vida.
- Inflamação
Medicação | Nome e marca referência | Comentários | Via | Doses |
SABA | Salbutamol / Aerolin® | 1ª linha de tratamento, pois promove broncodilatação.
Disponibilizado gratuitamente pelo MS. Doses a cada 20 min dentro da 1ª h de tratamento. |
IN
| 2-10 jatos/dose
5-10 kg: 4 jatos 10-20 kg: 6 jatos > 20 kg: 8 jatos |
BI | Brometo de Ipratrópio / Atrovent® | Promove relaxamento do músculo liso das vias aéreas por inibição no receptor muscarínico.
Não é adequado como agente único nas exacerbações. Combinado com um SABA, pode reduzir o risco de internação hospitalar. Até 3 doses, com intervalo de 20 min. | IN | < 4 anos: 10-20 gotas
> 4 anos: 20-40 gotas |
MgSO4 | Uso IV não é recomendado de rotina nas exacerbações.
> 2 anos: pode ser considerado em exacerbações graves que não respondem ao tratamento inicial. GINA 2021 descreve o IN como opção de tratamento, porém não há evidências de que haja benefício substancial. | IN
IV | > 2 anos com exacerbação grave: nebulizar com 150 mg, 3 vezes, com intervalo de 20 min
DU de 40-50 mg/kg (máx: 2g), em infusão lenta (20-60 min) | |
CS | Prednisolona / Predsim®
Prednisona / Meticorten®
Metilprednisolona / Solu-medrol® | Reduzem a inflamação e aumentam a eficácia dos broncodilatadores.
Preferíveis nas exacerbações graves. Via de administração não interfere na eficácia, sendo a 1ª escolha a VO (se possível). Administrar na 1ª h de tratamento, pois levam 4h para impactar na melhora clínica. | VO
IV / IM | 1-2 mg/kg/dia (máx: 40 mg/dia) por 3-7 dias
1 mg/kg/dose a cada 6 h no 1° dia |
CI | Beclometasona / Clenil HFA ®
Outros Fluticasona / Flixotide® Budesonida / Busonid Caps® | Em doses altas ou associado ao CS, reduzem a internação hospitalar.
> 12 anos: devem receber prescrição de CI antes da alta, se não utilizavam. Nos pacientes que utilizavam CI, intensificar o tratamento (até 4x a dose basal) por 2-4 semanas e lembrar sobre a importância da adesão ao tratamento. | IN | < 6 anos: 100 mcg/dia
6-11 anos 100-200 mcg/dia: dose baixa 200-400 mcg/dia: dose média > 400 mcg/dia: dose alta > 12 anos 200-500 mcg/dia: dose baixa 500-1000 mcg/dia: dose média > 1000 mcg/dia: dose alta |
Referências bibliográficas:
- Pastorino AC, et al. Guia Prático de Atualização no tratamento da exacerbação de asma na criança e no adolescente – Posicionamento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e Sociedade Brasileira de Pediatria. Arquivos de Asmas Alergia e Imunologia. 2021;5(4). DOI: 10.5935/2526-5393.20210053.
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