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Pneumologia27 maio 2024

ATS 2024: Clinical Year in Review  

Apresentaremos os principais destaques da American Thoracic Society (ATS) no último ano
Por Bruna Provenzano

Todo ano, o congresso da American Thoracic Society (ATS) realiza o Clinical Year in Review, onde são apresentados os principais destaques do último ano em diversos assuntos da terapia intensiva e da pneumologia. 

ATS 2024: Clinical Year in Review  

Asma  

  • Realocar famílias pobres para regiões mais ricas de Baltimore (EUA) reduziu a chance de exacerbação em 54%; 
  • A infecção por VSR, seja leve, seja grave, é fator de risco para desenvolvimento de asma na infância. Prevenir essa infecção poderia reduzir em 15% o número de casos de asma; 
  • O conceito de remissão em vigência de imunobiológico está em desenvolvimento. Em um estudo retrospectivo, remissão foi atingida por 18% dos pacientes. O principal fator associado à não remissão foi a carga de sintomas e não a função pulmonar. A chance de remissão diminui com o tempo de doença;
  • Estudo, randomizado, aberto, demonstrou que é seguro e possível a redução de dose de corticoide inalatório em pacientes em uso de imunobiológico;
  • Avaliação de aprisionamento aéreo em tomografias se mostrou um bom biomarcador de gravidade e risco de exacerbação;
  • Após estudo de prevalência, a presença de resposta broncodilatadora não auxilia na diferenciação de asma e DPOC, não sendo definidor de asma. Presença de resposta broncodilatadora é preditor de exacerbação sendo um traço tratável. 

Leia também: Caso clínico: paciente com ascite, diarreia e tosse seca

DPOC  

  • Publicação do Estudo Boreas: uso de dupilumabe reduziu em 30% as exacerbações (IC 95% 0.58-0.86 p0.001), além de melhorar função pulmonar e qualidade de vida; 
  • Publicação do Estudo Enhace 1 e 2: Ensifentrina é um inibidor duplo de fosfodiesterase 3 e 4 inalado que melhorou função pulmonar e reduziu exacerbações; 
  • Resultados do estudo STARR2 mostrou que o uso de corticoide sistêmico na exacerbação só teve benefício nos pacientes com perfil eosinofílico; 
  • Estudo com tomografia demonstrou que quanto maior o escore de plug de muco, maior mortalidade por DPOC;
  • O resultado do SPIROMICS, paciente sintomáticos estão sob maior risco de exacerbar. 

Doença intersticial pulmonar:  

  • Estudo PACIFY COUGH avaliou o uso de morfina de liberação controlada em pacientes com FPI, com redução em 39% na frequência de sintomas, sendo bem tolerada e com boa adesão terapêutica; 
  • Estudo EVER-ILD avaliou a eficácia da combinação de rituximabe com micofenolato em pacientes com pneumopatia intersticial não específica, com resultados favorecendo o uso da combinação; 
  • Resultados de estudo restrospectivo mostrou que pacientes com doença intersticial fibrosante não-FPI, com telômetro curto, que receberam imunossupressão, têm pior desfecho. Telômero pode ser um importante biomarcador para definições terapêuticas;  
  • Estudo retrospectivo sobre acompanhamento a longo prazo de alterações intersticiais em tomografia mostrou uma média de tempo de 3 anos para progressão. A presença de favolamento é sinal de gravidade e o seguimento deve ser mais curto; 
  • Cerca de 8% dos pacientes que receberam alta após internação com covid mantém alterações intersticiais; 
  • Nova diretriz da ATS sobre tratamento de esclerose sistêmica associada à doença intersticial apresenta recomendação forte para micofenolato. 

Câncer de pulmão: 

  • A mortalidade do câncer de pulmão está reduzindo mais rapidamente que a incidência; 
  • Mais casos com doença localizada tem sido diagnosticados, refletindo o benefício do rastreio; 
  • American Cancer Society atualizou a indicação de rastreio: pacientes entre 50 a 80 anos com carga tabágica > 20 maços/ano, retirando o critério de interrupção do tabagismo; 
  • Estudo de vida real com mais de um milhão de pacientes mostrou que apenas 23% seguiu com a realização de TC anual; 
  • Estudo retrospectivo (PROSPR) sobre complicações secundárias ao rastreio de nódulo, mostrou que as complicações na vida real são mais frequentes que no NLST. 76% das complicações ocorreram em pacientes com câncer; 
  • Ressecção sublobar é não inferior à ressecção lobar nos casos T1aN0; 
  • Resultados do ADAURA mostram benefício no uso de osimertinibe após ressecção cirúrgica  de pacientes estágio IIB e IIIA;  
  • Atividade física aumentou probabilidade de sobreviver ao câncer de pulmão.

Doença vascular pulmonar  

  • Resultados do estudo STELLAR mostrou que Sotatercept melhorou não somente a performance no TC6M como também teve impacto em outros parâmetros hemodinâmicos da doença, mostrando reversão parcial do remodelamento vascular Logo, o uso dessa medicação poderá melhorar a qualidade de vida e prognóstico de muitos pacientes; 
  • De acordo com a análise do COMPERA, registro que incluiu 1.120 pacientes HAP tipo 1, 81% desses têm pelo menos uma comorbidade associada e isso foi associado à menor taxa de resposta ao tratamento; 
  • Estudo sobre os efeitos a longo prazo da endarterectomia na HAP por TEP crônico mostrou que, embora seja o tratamento de escolha, 42% dos pacientes mantiveram hipertensão pulmonar no pós operatório; 
  • Resultados da extensão do estudo INCREASE sobre o uso de trepostinil na HAP associada à doença intersticial confirmou o benefício no TC6M, além de ter havido redução na taxa de exacerbação; 
  • Cerca de 80% dos pacientes com disfunção diastólica e ICFEP apresentam HP associada, sendo considerado fator de mau prognóstico.

Saiba mais: Como identificar a possível causa da tosse persistente?

Terapia Intensiva:  

  • Estudo CAPE COD sobre corticoide em PAC mostrou benefício com redução de mortalidade em pacientes graves com início precoce; 
  • Ensaio clínico sobre intubação em pacientes com rebaixamento do nível de consciência por intoxicação exógena mostrou que em casos, sem crise convulsiva, a não intubação foi não inferior à intubação  
  • Intubação eletiva com videolaringo tem maior taxa de sucesso em primeira tentativa que laringoscópio tradicional; 
  • Estudo PATCH trauma confirmou resultado do CRASH-2 sobre o uso de ácido tranexâmico, onde o grupo intervenção teve redução de mortalidade; 
  • Estudo randomizado PROPHY-VAP sobre profilaxia de PAV em pacientes com lesão cerebral aguda mostrou redução de mortalidade e menos dias de antibiótico no grupo que fez dose única de ceftriaxone após intubação.

Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA):  

  • Critérios globais de definição de SDRA: Mais sensível e menos específico que Berlim. Ainda não endossado pelas sociedades médicas; 
  • Imagem: inclusão do USG com linhas B e/ou consolidações; 
  • Gravidade: divisão entre intubados e não intubados;
  • Não intubados: P/F < 300 ou SpO2/FiO2 < 315 em CNAF com > 30L ou CPAP com PEEP > 5 cmH2O; 
  • Intubados: segue classificação tradicional, incorporando a relação SpO2/FiO2 < 315; 
  • Relação SpO2/FiO2 só tem valor quando SpO2 < 97%. Atenção especial aos pacientes de pele preta;  
  • Escore SDRA para USG: tão sensível quanto os critérios usados atualmente, aumentando a acurácia do diagnostico. Contudo, restam dúvidas quanto ao método ser examinador dependente;
  • SDRA por covid-19: plasma convalescente com altos títulos de anticorpos reduziu mortalidade em 28 dias em pacientes graves e no início da doença; sinvastatina não fez diferença; 
  • ATS x ESICM: Principal divergência é sobre o uso de bloqueador neuromuscular, onde a sociedade europeia é contra e a americana faz uma recomendação condicional. 

 Sepse  

  • Sepse é uma síndrome heterogênea com dois perfis fenotípicos: hipoinflamatório e hiperinflamatório, assim como ocorre na SDRA;  
  • Perfil hiperinflamatório apresenta maior mortalidade; 
  • Análise post-hoc do estudo PROWESS-SHOCK identificou benefício de utilizar proteína C ativada no grupo hiperinflamatório; 
  • Estudo de coorte retrospectiva avaliou tempo de antibiótico e mortalidade, reforçando que paciente com choque deve ter início precoce; 
  • Estudo randomizado controlado comparando tazobactan com piperacilina X cefepime, avaliando o risco de toxicidade de cada um desses, mostrou uma discreta redução de dias livres de delirium ou coma no grupo do tazobactan (OR 0,79 IC95% 0,65 – 0,95);  
  • Estudo comparando hidrocortisona com hidrocortisona e fludrocortisona na sepse mostrou discreto benefício em mortalidade no grupo combinado; 
  • Estudo chinês sobre Xuebijing na sepse mostrou que o grupo que utilizou essa substancia teve redução de mortalidade em 25%; 
  • Estudo randomizado STRESS-L com betabloqueador em sepse foi interrompido por ausência de benefício.

ECMO  

  • Estudo controlado, randomizado, aberto sobre uso de ECMO VA em choque cardiogênico não mostrou benefício em mortalidade no braço da ECMO, com mais complicações ocorrendo no grupo intervenção. Se houver, o benefício do suporte extracorpóreo deve ser balanceado com as complicações relacionadas ao dispositivo; 
  • Estudo multicêntrico, randomizado aberto sobre o uso de ECMO durante PCR por arritmia ventricular não mostrou diferença em mortalidade em 3 a 6 meses, embora uma proporção maior de pacientes com o ECMO tenha sobrevivido até ser admitido para na unidade de terapia intensiva do que a RCP convencional;  
  • Estudo controlado, multicêntrico e randomizado sobre prona na ECMO mostrou que não houve aumento de eventos adversos no grupo da prona, embora a realização dessa manobra não tenha diminuído o número de dias de ECMO. Chama atenção que no grupo da prona, a taxa de PCR foi menor que no grupo controle com OR 0,27 [IC 95% 0,08;0,92], P=0,05; 
  • Estudo retrospectivo, observacional em obesos com SDRA e ECMO (ECMObesity Study) mostrou que a obesidade está associado a uma diminuição da mortalidade na UTI: OR 0,63 [IC 95% 0,43;0,93];
  • Estudo prospectivo, observacional sobre transfusão no ECMO (PROTECMO) não mostrou benefício em manter valores de hemoglobina mais elevado, reforçando que o limiar para transfusão no paciente com ECMO deve ser o mesmo de pacientes sem ECMO; 
  • Estudo multicêntrico, aberto sobre a farmacocinética de 11 antimicrobianos no ECMO mostrou que dosagem sérica é fundamental, visto a grande variação entre os participantes (coeficientes de variação ≥ 30%). Essa variação aumentou ainda mais com o uso de hemodiálise concomitante.

Saúde pulmonar mundial  

  • O uso de fogão à combustível fóssil aumentou consideravelmente o risco de doenças respiratórias quando comparado ao fogão por indução. Risco de pneumonia (OR 1,26, 1,03 -1,53; p=0,025) e de DPOC (OR 1,15, 1,06-1.25; p=0,0011);
  • Comparando gás com carvão, o risco com fogão à gás é menor, sendo uma fonte de energia de transição, enquanto não é possível utilizar eletricidade para todos;
  • Tuberculose na infância está relacionado à piora da função pulmonar em fase adulta, assim como tuberculose na fase adulta também está associada à pior qualidade de vida. 

Tuberculose  

  • Estudo TRUNCATE TB mostrou que o tratamento com bedaquilina e linezolida em esquema de 12 semanas teve não inferioridade ao esquema tradicional de 26 semanas, com maior adesão terapêutica;
  • STREAM stage 2 é um estudo sobre tratamento em tuberculose resistente onde se comparou o esquema de 9 meses oral com bedaquilina X injetável, sendo o esquema oral superior ao injetável;
  • Atualmente, há uma compreensão de que o comportamento da tuberculose não é tão binário (latente x ativa), havendo um estágio subclínico de transição entre essas;
  • Estudo RATIOS mostrou que suplementação nutricional reduziu em 40% a incidência de casos de tuberculose de pessoas contactantes. 

Doença ocupacional  

  • Incêndio florestal provocou aumento na incidência de exacerbações por asma; 
  • Silicose atinge principalmente imigrantes latino-americanos nos EUA, os quais não estão assistidos pelo sistema de saúde; 
  • Estudo sobre a exposição ao gás mostarda no Irã demonstrou que mais de 50% apresenta pneumopatia;
  • Estudo sobre exposição ambiental e sarcoidose mostrou que exposição a metais aumenta a chance na população afrodescendente; 
  • Trabalho avaliando risco de asma e uso de gás na cozinha mostrou que 12% dos casos de asma poderiam ser evitados com fogão elétrico; 
  • Exposição ao benzeno aumenta a chance de câncer de pulmão.

Medicina do sono  

  • MARIPOSA trial é um estudo de fase II que avaliou a segurança e eficácia do uso de Aroxibutinina (antimuscarinico) e Atomoxetina (inibidor de recaptação de norepinefrina) na SAOS teve redução dos eventos noturno; 
  • Meta-análise sobre os efeitos do CPAP na prevenção de eventos cardiovasculares demonstrou que a adesão reduziu um risco de recorrência de eventos cardiovasculares, sugerindo que a adesão é um fator chave no prevenção de eventos cardiovasculares em pacientes com SAOS. 

Autoria

Foto de Bruna Provenzano

Bruna Provenzano

Medica formada pela UERJ em 2014. Residência de clínica médica pela UERJ de 2015 a 2017. Pós-graduação em terapia intensiva pelo ID'Or. Título de terapia intensiva pela AMIB. Pneumologista pela UERJ.

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