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Pediatria5 junho 2024

WFPICCS 2024: Estratégias de desmame da ventilação mecânica em crianças

O elemento B do bundle consiste em duas diferentes abordagens, B1 e B2. O Dr. Zimmerman (ex-presidente da Society of Critical Care Medicine - SCCM).

O segundo elemento do A-F bundle corresponde ao Breathe: Mechanical Ventilation Weaning Strategies in Critically Ill Children = Respire: Estratégias de desmame da ventilação mecânica em crianças gravemente enfermas. O tema foi compartilhado pelos palestrantes Jerry Zimmerman e  John Lin, ambos dos Estados Unidos, no WFPICCS 2024.

B) Breathe: Mechanical Ventilation Weaning Strategies in Critically Ill Children = Respire: Estratégias de desmame da ventilação mecânica em crianças gravemente enfermas

O elemento B do bundle consiste em duas diferentes abordagens, B1 e B2. O Dr. Zimmerman (ex-presidente da Society of Critical Care Medicine – SCCM), abordou a abordagem B1, referente a estratégias de despertar espontâneo: 

  • Avaliações programadas de dor/agitação/delirium pela enfermagem são necessárias: há muitos desafios na diferenciação de dor, agitação/ansiedade, delirium, abstinência e comportamento normal da criança; 
  • É relevante a adoção de um protocolo com orientações sobre a analgosedação e a administração dos medicamentos em bolus, além de titulação da infusão. A titulação conduzida pela enfermagem mostrou, em alguns estudos, estar associada a menor administração total de medicamentos analgosedativos e outros desfechos clinicamente significativos; 
  • Intervenções não farmacológicas devem ser priorizadas, assim como o uso de analgésicos simples e até mesmo de anti-inflamatórios não esteroidais para poupar o uso de opioides; 
  • A interrupção diária da sedação (IDS) não é sugerida pela SCCM, devido à falta evidências na melhoria dos desfechos dos pacientes, mas há um ensaio controlado randomizado de 2012 (Gupta et al.) que descrever que o tempo de ventilação mecânica (VM), o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP), a dose total de midazolam e o custo médio calculado do tratamento foram significativamente reduzidos no grupo submetido à IDS, em comparação ao grupo de sedação contínua; 
  • Conforme sugere guideline de 2022 da SCCM (PANDEM), a sedação contínua com propofol <4 mg/kg/h (correspondendo a 67 μg/kg/min) e por menos de 48h pode ser uma opção segura de sedação para reduzir o risco de síndrome de infusão relacionada ao propofol. Dessa forma, a sedação com propofol em período < 48 h, isto é, por curto período, pode ser um adjuvante útil durante a peri-extubação, com o objetivo de facilitar o desmame de outros analgésicos antes de se extubar o paciente.  

Para uma performance efetiva da abordagem B1, o palestrante mencionou o seguinte planejamento

  • Discutir um alvo para a pontuações das escalas SBS (State Behavioral Scale) ou RASS (Richmond Agitation and Sedation Scale) nos rounds matinais que descreva uma estratégia para titulação da sedação; 
  • Verificar ou atualizar o plano de sedação durante os rounds noturnos; 
  • Garantir um plano eficaz para controle da dor; 
  • Explorar intervenções não farmacológicas para abordar a agitação/ansiedade que incluam a participação dos pais, se possível; 
  • Apoiar todos os colegas que praticam no topo de suas habilidades; 
  • Iniciar e avançar com nutrição enteral conforme apropriado; 
  • Abordar questões ambientais que possam impactar a agitação/ansiedade (luz, ruído, perturbações do sono). 

A abordagem B2 do elemento B consiste em um desmame seguro e proativo da VM e foi debatida pelo Dr. John Lin.  

A VM possui os seguintes benefícios: 

  • Ajustes de déficits reversos nas trocas gasosas decorrentes de doença pulmonar parenquimatosa (hipercarbia, hipoxemia); 
  • Substituir o impulso respiratório nativo inadequado: lesão neurológica x iatrogenias; hiperventilação intencional; 
  • Reduzir o trabalho respiratório intrínseco excessivo; 
  • Redução da pós-carga ventricular sistêmica (suporte cardíaco); 
  • Manter a permeabilidade das vias aéreas (estreitamento anatômico, tônus ​​inadequado das vias aéreas); 
  • Suporte durante a execução de procedimentos invasivos. 

No entanto, a VM possui os seguintes eventos adversos associados: lesão parenquimatosa pulmonar associada à ventilação; lesão nas vias aéreas; pneumonia associada à VM; traqueíte; atrofia muscular (especialmente diafragmática); imobilização; anemia; infecção da corrente sanguínea; sedação intensa; delirium. 

O Dr. John Lin disse que existem dois princípios básicos para a abordagem 2: 

  • “Crianças que não precisam de VM invasiva… não deveriam receber VM invasiva”. 
  • “Abordagens padronizadas para avaliar a respiração espontânea e a prontidão para extubação… são seguras e mais eficientes do que o julgamento clínico individual”. 

Para finalizar, o palestrante mostrou os resultados do PALISI Ventilator Liberation Guidelines, que contou com  a participação de 26 especialistas internacionais (fisioterapeutas, enfermeiros e médicos) e mostra 3 recomendações principais, 12 recomendações de revisão sistemática, 91 referências no texto principal e 119 no suplemento. 

Recomendações principais do PALISI

  • Sugere-se o uso de triagem protocolizada ao invés de nenhuma para avaliar a elegibilidade do paciente para testes de prontidão para extubação; 
  • Sugere-se o uso de testes de respiração espontânea(TRE) protocolizados ao invés da avaliação clínica da prontidão para extubação; 
  • Sugere-se a realização de um TRE como parte de um bundle para avaliar objetivamente a capacidade do paciente de manter, de forma independente, ventilação-minuto adequada e troca gasosa sem esforço respiratório excessivo, caso seja liberado da VM invasiva. 

Recomendações de revisões sistemáticas

  • Sugere-se o uso de aumento de pressão de suporte (PS) com pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) ou CPAP isolado durante o TRE em crianças sob VM com risco padrão de falha na extubação;
  • Sugere-se o uso de CPAP sem aumento de PS durante o TRE para melhor avaliação da prontidão para extubação em crianças com maior risco de falha na extubação;
  • Sugere-se que o TRE seja realizado por 30 minutos ou 60 a 120 minutos, dependendo do risco de falha na extubação;
  • Sugere-se o uso da medição da pressão inspiratória máxima durante a oclusão das vias aéreas (PiMax) como um elemento do bundle de TRE para crianças gravemente enfermas com risco de fraqueza muscular ou com risco de falha na extubação;
  • Sugere-se o uso do teste de vazamento de ar em crianças com tubo endotraqueal (TET) com balonete como parte do bundle TRE para avaliar o risco de desenvolvimento de obstrução de vias aéreas superiores (OVS) pós-extubação;
  • Sugere-se o uso de dexametasona pelo menos seis horas antes da extubação em crianças com alto risco de desenvolver OVS pós-extubação;
  • Sugere-se o uso de suporte respiratório não invasivo [SRN; incluindo cateter nasal de alto fluxo (CNAF), CPAP ou VM não invasiva (VNI)], ao invés de oxigenoterapia convencional imediatamente após a extubação;
  • Sugere-se o uso de SRN ao invés do uso continuado de oxigenoterapia convencional para crianças que desenvolvem desconforto respiratório enquanto recebem oxigenoterapia convencional após a extubação;
  • Sugere-se o uso de CPAP ao invés de CNAF para crianças com menos de 1 ano de idade que estão iniciando SRN (planejado ou de resgate); 

A seguir, observa-se o retorno do desmame de sedação, isto é, avaliar e manejar a sedação com a extubação em mente

  • Recomenda-se que o nível de sedação, a eficácia da tosse e a capacidade de controlar as secreções orofaríngeas seja avaliada antes da extubação;
  • Recomenda-se uma estratégia direcionada de manejo da sedação, utilizando uma ferramenta validada e confiável para definir metas de sedação;
  • Sugere-se usar ou não um protocolo padronizado de titulação de sedação para orientar o manejo direcionado da sedação durante VM invasiva e TRE. 

Veja os destaques do congresso da World Federation of Pediatric Intensive and Critical Care Societies!

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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