Os critérios de Roma, estabelecidos para diagnosticar os distúrbios da interação intestino-cérebro (DGBI), representam um desenvolvimento fundamental no campo da gastroenterologia. Essas diretrizes evoluíram significativamente desde sua criação, marcando uma transição de ver essas condições como puramente psicológicas para reconhecer uma complexa rede de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Essa evolução reflete nossa compreensão crescente de como o intestino e o cérebro interagem, levando a estratégias de tratamento mais eficaz e foi apresentada uma prévia durante o Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, o WCPGHAN 2024, em Buenos Aires, na Argentina.
- Mudança de Perspectivas
Inicialmente, os DGBIs eram vistos principalmente através de uma lente psicológica, o que muitas vezes resultava na estigmatização dos pacientes e na incompreensão de seus sintomas. As diretrizes originais, estabelecidas em 1990, visavam classificar esses distúrbios com base em clusters de sintomas, em vez de marcadores fisiológicos claros. Com o tempo, houve uma mudança notável para um modelo biopsicossocial. Este modelo considera não apenas aspectos psicológicos, mas também integra marcadores biológicos e influências sociais, levando a uma compreensão mais holística desses distúrbios. Essa mudança ajuda os profissionais a reconhecerem que os pacientes estão experimentando manifestações fisiológicas reais de seus sintomas, validando suas experiências e orientando um cuidado mais compassivo.
Veja também: ESPGHAN 2024: Fatores de risco para distúrbios da interação intestino-cérebro
- Impacto no Diagnóstico e Pesquisa
O estabelecimento dos Critérios de Roma melhorou significativamente as capacidades diagnósticas. Ao categorizar os sintomas em critérios distintos, os profissionais de saúde podem diagnosticar DGBIs sem depender de procedimentos invasivos como endoscopias ou testes médicos extensos. Isso facilita a intervenção precoce e melhores metodologias de pesquisa.
Além disso, a classificação clara permite que os pesquisadores identifiquem mecanismos patofisiológicos específicos envolvidos nos DGBIs, incentivando a exploração de terapias direcionadas e o desenvolvimento de novos modos de tratamento.
Atualização: Introdução dos Critérios de Roma V
Com os próximos Critérios de Roma V, que devem ser publicadas em 2026, há um foco significativo em adotar uma abordagem regional, em vez de uma baseada apenas na idade, dividindo-os em grupos superiores e inferiores. As principais categorias incluem distúrbios esofágicos, como manifestação de sintomas superiores e distúrbios de dor abdominal, como inferiores por exemplo. Mas detalhes sobre essa classificação, teremos apenas após a sua publicação.
- Incorporação de Biomarcadores
Um elemento importante dos Critérios de Roma V é o impulso para integrar biomarcadores no processo diagnóstico. Esse desenvolvimento representa um grande avanço em direção à medicina personalizada na gestão de DGBIs. Os biomarcadores podem fornecer dados objetivos para informar decisões de tratamento, movendo-se para longe de um diagnóstico baseado apenas em sintomas. Isso permitirá intervenções personalizadas com base em perfis individuais de pacientes.
- Abordagem da sobreposição dsa DGBI
Um dos desafios dentro do ramo de DGBI é a sobreposição de sintomas entre diferentes distúrbios, o que pode complicar diagnósticos e estratégias de tratamento. A Fundação Roma está trabalhando ativamente para refinar as diretrizes e abordar essas sobreposições de maneira mais eficaz, visto que para muitos pacientes, os sintomas podem não se encaixar perfeitamente em uma única classificação, ressaltando a necessidade de uma abordagem mais nuançada.
Conclusão e mensagens práticas
- Os critérios de Roma estão evoluindo para refletir melhor a compreensão atual e as necessidades dos pacientes com DGBI.
- Os próximos critérios de Roma V trarão mudanças significativas, incluindo uma mudança para um sistema de classificação regional e a inclusão de novas categorias de distúrbios, como distúrbios funcionais da alimentação e distúrbios de desconforto
- Os esforços contínuos de pesquisa e validação visam refinar os critérios e melhorar o diagnóstico e o manejo dos DGBI.
Confira a cobertura completa do WCPGHAN 2024.
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