A náusea é um sintoma comum e desafiador, particularmente em crianças e adolescentes com desordens da interação intestino-cérebro. Durante o Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, o WCPGHAN 2024, foi explorada a complexidade da náusea, sua prevalência, impacto e várias abordagens de tratamento, enfatizando uma compreensão multifatorial de sua fisiopatologia.
Definindo Náusea
A náusea é frequentemente descrita como uma sensação subjetiva e desagradável, caracterizada por uma necessidade iminente de vomitar. Geralmente, se manifesta dentro do sistema digestivo ou na garganta e pode ser particularmente difícil de articular, especialmente em crianças mais novas. Compreender esse sintoma é crucial, pois forma a base para diagnosticar e tratar eficazmente as desordens da interação intestino-cérebro.
Náusea e dispepsia funcional
Os critérios de Roma IV, introduzidos em 2016, oferecem uma estrutura para identificar essas condições. A náusea serve como um sintoma-chave tanto na náusea funcional quanto em seus subgrupos de dispepsia funcional, que incluem a síndrome de desconforto pós-prandial e a síndrome de dor epigástrica. Reconhecer essas condições ajuda os profissionais de saúde a adaptar sua abordagem ao tratamento.
A fisiopatologia da náusea é multifacetada, envolvendo interações complexas entre o cérebro e o intestino. Essa complexidade pode dificultar o diagnóstico das causas subjacentes. Muitos pacientes apresentam náuseas sem nenhuma causa orgânica identificável, ressaltando a importância de um diagnóstico diferencial minucioso para descartar outras condições possíveis.
Qual o papel do esvaziamento gástrico?
Um aspecto considerável da discussão envolve o papel do esvaziamento gástrico em pacientes que experimentam náusea. Embora a compreensão de sua função ainda permaneça incerta, debates sugerem que novos estudos podem levá-la a ser considerada em critérios diagnósticos futuros, por talvez estes pacientes apresentarem um tempo de esvaziamento gástrico mais lentificado.
Abordagens de tratamento: Existem evidências?
No que diz respeito ao manejo da náusea, estão disponíveis vários tratamentos farmacológicos. No entanto, durante a plenária no WCPGHAN, o palestrante reconheceu que as evidências que apoiam a eficácia desses tratamentos são limitadas e devem ser individualizadas. Veja quais os potenciais tratamentos:
Tratamentos Farmacológicos:
- Medicamentos comuns utilizados incluem:
- Domperidona (eficaz para muitas crianças, apesar da variabilidade na disponibilidade).
- Ondansetrona (eficaz para alguns casos nos EUA).
- Omeprazol e Famotidina (mostrando benefício na dispepsia funcional).
- Ciproeptadina (eficaz em cerca de 50% dos casos, embora sua disponibilidade possa variar).
- Preparações fitoterápicas como Iberogast mostram potencial, mas carecem de estudos robustos em crianças.
Abordagens Não-Farmacológicas:
- A hipnoterapia demonstrou ser eficaz:
- Um estudo com 100 crianças mostrou que tanto a hipnoterapia quanto um algoritmo de atendimento médico padrão geraram taxas de melhora semelhantes na alívio dos sintomas.
- Pais e pacientes relataram sucesso sustentado após um ano, juntamente com reduções na ansiedade e depressão.
Tratamentos Emergentes:
- Técnicas como a Estimulação Elétrica de Mudança Perfeita estão sendo exploradas por sua eficácia na gestão da náusea.
Conclusão e mensagem prática
- A náusea é um sintoma complexo que requer uma compreensão muito detalhada e uma abordagem colaborativa para o manejo.
- Embora existam várias opções de tratamento, é crucial reconhecer as evidências limitadas que cercam sua eficácia, o que leva a um chamado por mais pesquisas sobre este tema.
- Os critérios de Roma devem ser consultados na tentativa de fechar o diagnóstico dos pacientes com sintomas e sem diagnóstico de base que justifique.
Confira a cobertura completa do WCPGHAN 2024.
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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