Logotipo Afya
Anúncio
Pediatria21 agosto 2025

Uso de dexametasona em crises asmáticas

Estudo mostra aumento no uso de dexametasona em crises asmáticas pediátricas, com menor risco de hospitalização e mais retornos.

Nos últimos 30 anos, muitas pesquisas têm demonstrado que a dexametasona é uma alternativa adequada à prednisolona/prednisona para exacerbações agudas de asma em pacientes pediátricos. No entanto, a extensão da adesão a essa abordagem terapêutica nesta condição é desconhecida. Um artigo publicado na Pediatrics mostrou os resultados de um estudo que avaliou a adoção de dexametasona no manejo de exacerbações de asma em departamentos de emergência pediátrica (DEP). 

Veja também: Caso clínico: asma em crianças

Metodologia 

Buscando analisar as tendências no uso de dexametasona no tratamento de crises asmáticas em pacientes que receberam alta de DEP e avaliar a associação da escolha do corticoide com as consultas de retorno e hospitalizações, pesquisadores de Chicago conduziram uma análise transversal retrospectiva com dados de 28 hospitais no período entre 1º de janeiro de 2010 a 30 de junho de 2024. 

Foram incluídas pacientes com idades entre 2 a 18 anos que receberam alta do DEP após exacerbação aguda de asma e receberam dexametasona ou prednisolona/prednisona. As altas do pronto-socorro foram o foco do estudo porque crianças hospitalizadas podem ter maior probabilidade de receber corticosteroides parenterais alternativos, como metilprednisolona. Foram excluídas visitas de pacientes que não receberam dexametasona e/ou prednisolona/prednisona, que receberam ambos os tipos de corticosteroides durante a mesma ida ao pronto-socorro ou que receberam metilprednisolona. 

 Resultados 

Durante os 14 anos de estudo, houve 758.557 atendimentos de crianças com asma que receberam alta do DEP com diagnóstico primário de asma ou sibilância na alta, das quais 618.853 receberam albuterol durante o mesmo atendimento. Destes, 1.996 (0,3%) receberam dexametasona e prednisolona/prednisona e 123.062 (19,9%) não receberam nenhum dos corticosteroides estudados. Dos restantes, 2.219 atendimentos foram excluídos devido à administração de metilprednisolona. 

A amostra final incluiu 310.270 pacientes distintos e um total de 491.576 atendimentos. A idade mediana dos pacientes era 6,2 anos e 62,4% eram meninos. Destes, 274.702 (55,9%) receberam dexametasona e 216.874 (44,1%) receberam prednisolona/prednisona. 

Os pesquisadores observaram que houve um aumento no uso de dexametasona ao longo dos anos, pois 91,1% receberam prednisolona/prednisona em 2010 e 95,3% receberam dexametasona até 2024. Em setembro de 2013 e em dezembro de 2015, foram identificados pontos de interrupção. No entanto, nos 27 meses entre esses pontos, a adoção do uso de dexametasona aumentou 0,7% ao mês (intervalo de confiança de 95% [IC95%] 0,6–0,9%). Além disso, o estudo mostrou que o uso de dexametasona foi associado a uma menor probabilidade ajustada de hospitalização em sete dias em relação à prednisolona/prednisona (0,90, IC 95% 0,84–0,97) e a uma maior probabilidade ajustada de retorno (1,07, IC 95% 1,03–1,11). 

Conclusão 

O estudo mostrou que, ao longo de 14 anos, houve uma transição significativa para o uso de dexametasona, particularmente pronunciada entre 2013 e 2015, o que parece refletir a evolução das evidências, diretrizes clínicas e vantagens práticas, como maior adesão e redução dos efeitos colaterais. Houve uma associação entre o uso da dexametasona e uma maior probabilidade de retornos ao DEP, entretanto, o medicamento foi associado a um risco ligeiramente menor de hospitalização subsequente. Dessa forma, os pesquisadores destacaram a necessidade de mais pesquisas para otimizar os regimes de corticosteroides, especialmente para a compreensão dos fatores que influenciam os retornos e no enfrentamento das lacunas nos dados clínicos. 

Comentários 

De fato, na prática clínica, observo que a prednisolona ou a prednisona são prescritas com maior frequência, considerando, particularmente, o contexto do Rio de Janeiro, onde trabalho, sendo estas as opções que também costumo prescrever de rotina. Na crise asmática, reservo o uso de dexametasona somente para casos nos quais identifico laringite concomitante. É interessante ressaltar a importância de considerar a dexametasona como uma alternativa válida em cenários de escassez de insumos. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Pediatria