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Pediatria25 setembro 2025

UNICEF publica relatório sobre ambientes alimentares e nutrição infantil

Relatório da UNICEF mostra avanço da obesidade infantil, impulsionada por ultraprocessados, marketing agressivo e falta de regulação.

Recentemente, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou o “Relatório de Nutrição Infantil 2025: Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares estão Falhando com as Crianças”. A publicação descreve de forma bastante categórica como o aumento do consumo de produtos ultraprocessados, associado à debilidade de políticas públicas, tem modificado o padrão de problemas de saúde infantil no mundo todo de desnutrição para sobrepeso e obesidade. A UNICEF destaca que milhões de crianças e adolescentes convivem em ambientes alimentares nocivos, onde fast food, lanches industrializados e bebidas açucaradas são mais acessíveis, mais baratos e propagandeados de forma bastante competitiva. Esses ambientes têm contribuído para o consumo de dietas pobres em nutrientes e, consequentemente, para o aumento da obesidade e manutenção da desnutrição em países de baixa e média renda. Esses resultados trazem implicações não somente para famílias e para a saúde pública, mas também para a economia.  

O relatório descreve que uma em cada cinco crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos já vive com excesso de peso, enquanto uma em cada 20 crianças com menos de 5 anos enfrenta o mesmo problema. Desde o ano 2000, o número de crianças com sobrepeso dobrou, destacando-se os países de baixa e média renda, que hoje concentram 81% da carga global. Infelizmente, em 2025, pela primeira vez, a obesidade superou a desnutrição como a forma predominante de má nutrição entre 5 e 19 anos. Isso é bastante preocupante, já que a obesidade representa um maior risco de doenças crônicas como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 e alguns tipos de câncer, além de impactos psicológicos, como ansiedade, baixa autoestima e depressão. 

O relatório enfatiza que a alimentação da população pediátrica global já é amplamente composta por produtos ultraprocessados. No mundo todo, mais de 60% dos adolescentes consomem mais de um alimento ou bebida açucarada por dia e, em países como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, esses alimentos chegam a corresponder à metade da ingestão calórica. Além disso, a UNICEF salienta que as escolas foram invadidas por fast foods, bebidas açucaradas e parcerias público-privadas que introduzem marcas de ultraprocessados na rotina das crianças e adolescentes, ignorando o papel protetor da escola. 

A análise da UNICEF também mostra quatro veículos principais que impulsionam esse quadro:  

  1. A invasão dos mercados por produtos ultraprocessados baratos, subsidiados por políticas agrícolas; 
  1. A exposição massiva de crianças ao marketing agressivo, especialmente digital; 
  1. A influência política da indústria para enfraquecer regulações;  
  1. A escassez de medidas legais nacionais.  

É importante lembrar que a indústria de produtos ultraprocessados com seus gigantescos recursos financeiros aplica estratégias de marketing, lobby e gestão de reputação para atrasar ou bloquear políticas públicas de proteção. Lamentavelmente, até mesmo em situações de crises, como ocorreu durante a pandemia de covid-19, a indústria vasculhou brechas para melhorar sua imagem e expandir mercados.  

Diante desse contexto alarmante, o relatório da UNICEF exibe oito recomendações centrais: 

  1. Implementar o Código Internacional de Marketing de Substitutos do Leite Materno;  
  1. Adotar medidas legais obrigatórias para restringir a oferta e promoção de ultraprocessados;  
  1. Ampliar a produção e acesso a alimentos nutritivos;  
  1. Criar salvaguardas contra a interferência da indústria;  
  1. Desenvolver campanhas sociais de conscientização;  
  1. Fortalecer programas de proteção social; 
  1. Engajar jovens na formulação de políticas;  
  1. Consolidar sistemas de dados para monitorar ambientes alimentares e políticas implementadas. 

Por fim, a UNICEF, por meio deste relatório, delimita responsabilidades específicas: 

  • Governos devem aprovar e aplicar regulações abrangentes e criar estruturas contra o lobby empresarial; 
  • A sociedade civil e a mídia devem conscientizar e fiscalizar práticas nocivas; 
  • Organizações humanitárias devem apoiar políticas globais e agrícolas voltadas à nutrição saudável; 
  • Acadêmicos e pesquisadores devem produzir estudos independentes para embasar políticas; 
  • A indústria alimentar deve alinhar-se aos tratados de direitos humanos e investir na produção de alimentos nutritivos, abandonando práticas de resistência a regulações. 

Conclusão 

Em síntese, o relatório adverte que a escalada da obesidade infantil ao posto de principal forma de má nutrição assinala um ponto de inflexão histórico. A persistência de ambientes alimentares não saudáveis compromete não apenas o desenvolvimento físico e emocional de crianças e adolescentes, mas também o futuro das sociedades e economias. Proteger o direito da população pediátrica à alimentação adequada exige ação urgente, coordenada e decisiva de governos, sociedade civil, mídia, universidades e setor privado, para garantir cenários alimentares equitativos e saudáveis em todo o mundo. 

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Referências bibliográficas

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