A realização da triagem auditiva neonatal universal é essencial para a identificação precoce de bebês com perda auditiva, possibilitando um desenvolvimento adequado na primeira infância. Infelizmente, a falta de tecnologia escalável e econômica é um grande obstáculo para a implementação desta estratégia em ambientes com escassez de recursos. Diante desta questão, pesquisadores de Seattle compararam o desempenho do uso de uma sonda de emissão otoacústica de baixo custo e um aplicativo para smartphone com dispositivos disponíveis comercialmente para triagem de perda auditiva em lactentes com menos de 6 meses. O estudo foi publicado no jornal Pediatrics.
Metodologia
A pesquisa foi realizada no Seattle Children’s Hospital. Foram incluídos lactentes de 0 a 6 meses de três ambulatórios com fatores de risco e alta prevalência de perda auditiva, que tivessem pelo menos um canal auditivo patente e fossem acompanhados por um cuidador principal capaz de fornecer assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídos os bebês que tivessem otorreia na data da visita ao ambulatório, que tivessem anatomia impeditiva do uso do implante auricular (como estenose do canal auditivo e atresia auricular) ou estivessem sob a tutela do Estado.
O objetivo do estudo era comparar os resultados de uma sonda de emissão otoacústica (EOA) de produto de distorção de código aberto de baixo custo e aplicativo para smartphone com um dispositivo EOA disponível comercialmente. Para confirmação do estado da audição, foram utilizados triagem auditiva neonatal, teste diagnóstico ou ambos. Os desfechos primários consistiram na taxa de encaminhamento, bem como sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) em comparação com o estado auditivo conhecido.
Resultados
O estudo foi realizado de março a outubro de 2022 e incluiu uma coorte de 76 bebês com média de idade de 3,1 ± 1,9 meses na triagem, sendo que 13% apresentaram perda auditiva.
A taxa de encaminhamento para o smartphone foi 24% e 26% para os dispositivos convencionais. Os resultados foram
- Sensibilidade: 100% (intervalo de confiança de 95% [IC 95%] 0,69–1,00) para ambos;
- VPN: 100% (IC 95% 0,94–1,00) para ambos;
- Especificidade: 88% (IC 95% 0,78–0,95) para o smartphone;
- Especificidade: 85% (IC 95% 0,74–0,92) para os dispositivos convencionais;
- VPP: 56% (IC 95% 0,31–0,78) para o smartphone;
- VPP: 50% (IC 95% 0,27–0,73) para o dispositivo convencional.
Conclusão
Na população do estudo, incluindo lactentes com fatores de risco e alta prevalência de perda auditiva, o dispositivo EOA baseado em smartphone rastreou efetivamente a audição, podendo ser uma solução promissora de baixo custo para a triagem auditiva universal em ambientes com limitação de recursos.
Veja também: Triagens neonatais obrigatórias na maternidade
Comentários
No Brasil, a triagem auditiva neonatal, conhecida também como “teste da orelhinha”, é obrigatória e gratuita desde 2010. Como o próprio nome diz, trata-se de uma triagem, portanto, não dá diagnóstico definitivo de perda auditiva. Dessa forma, caso o teste identifique alguma alteração ou perda auditiva, o bebê é encaminhado para a realização de exames complementares e avaliação de otorrinolaringologista. Problemas auditivos na infância podem trazer sérias complicações, como dificuldades de aprendizagem e comunicação social.
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