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Pediatria17 abril 2025

Toxina botulínica no tratamento de distúrbios gastrointestinais em crianças

Estudo explorou indicações e evidências do uso da toxina botulínica como alternativa minimamente invasiva para doenças relacionadas à motilidade gastrointestinal
Por Jôbert Neves

A toxina botulínica (BTX), produzida pela bactéria Clostridium botulinum, atua inibindo a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, causando uma paralisia muscular temporária. Seu uso terapêutico, inicialmente voltado para estrabismo, expandiu-se para diversas condições clínicas, incluindo distúrbios do trato gastrointestinal (TGI). Na pediatria, a BTX tem sido explorada como alternativa minimamente invasiva para doenças relacionadas à motilidade gastrointestinal, como acalásia, gastroparesia, constipação funcional e doença de Hirschsprung (DH), especialmente em casos refratários ao tratamento convencional. 

Com o objetivo de melhor explorar essas indicações e suas evidências, especialistas dos grupos de trabalho em endoscopia e motilidade da ESPGHAN (European Society for Pediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition) realizou uma revisão sistemática da literatura até novembro de 2023. As bases de dados utilizadas incluíram PubMed, MEDLINE, EMBASE, Cochrane e Scopus, com os descritores: “botulinum toxin”, “constipation”, “achalasia”, “gastroparesis”, “Hirschsprung disease” e “obesity”. Os estudos selecionados envolviam pacientes pediátricos, e os dados foram analisados de forma crítica, com os seguintes resultado por segmento do TGI:  

Esôfago 

BTX mostrou eficácia variável no tratamento de acalásia cricofaríngea e disfagia em crianças, com resolução completa dos sintomas em parte dos pacientes. No esfíncter esofágico inferior, os efeitos foram transitórios (média de 4 meses), sendo recomendada apenas em casos onde a cirurgia não é viável. 

Estômago 

Em crianças com gastroparesia, a injeção intrapilórica de BTX demonstrou alívio temporário dos sintomas, com melhor resposta em pacientes com náuseas e vômitos refratários. Estudos utilizando EndoFLIP sugerem que a distensibilidade pilórica pode ajudar na predição da resposta, mas os dados ainda são limitados. Até o momento, o uso para perda de peso e estenose hipertrófica de piloro (EHP) não é recomendado, dada a escassez de evidências. 

Intestinos 

A BTX tem papel promissor no manejo de: 

  • DH pós-cirurgia: melhora sintomas obstrutivos e reduz episódios de enterocolite;
  • Acalásia do esfíncter anal interno: opção menos invasiva que a miotomia, com bons resultados clínicos;
  • Constipação funcional refratária: resposta positiva em 70% dos casos em um grande estudo retrospectivo;
  • Fissura anal crônica: dados pediátricos são escassos, mas extrapolações de estudos em adultos sustentam seu uso em casos selecionados. 

Conclusão  

A toxina botulínica é uma ferramenta terapêutica útil em diversos distúrbios gastrointestinais pediátricos, principalmente nos casos de difícil manejo clínico. Apesar dos benefícios observados, sua eficácia é geralmente temporária, e a decisão pelo uso deve considerar individualmente o contexto clínico. No Brasil ainda é limitado o acesso a essa terapêutica,  visto que poucos centros têm disponível um profissional treinado em distúrbios da motilidade gastrointestinal. Sendo assim, mais estudos prospectivos e randomizados são necessários para estabelecer protocolos padronizados de dose, técnica e indicações específicas em pediatria. 

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