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Pediatria18 agosto 2025

Terapia com bonecos em clínica odontológica pediátrica de emergência

Estudo avaliou a técnica de terapia com bonecos para manejo comportamental em comparação ao método diga-mostre-faça para tratamento odontológico de emergência em crianças

A resposta emocional de uma criança às consultas odontológicas influencia significativamente os resultados do tratamento, particularmente em emergências que exigem anestesia local sem experiência odontológica prévia. Embora métodos psicoterapêuticos como o método “diga-mostre-faça” (tell-show-do – TSD) sejam comumente utilizados para o manejo comportamental, sua eficácia pode ser limitada em situações dolorosas ou de elevada ansiedade. A terapia com bonecos (puppet play therapy – PPT), fundamentada nas teorias do desenvolvimento de Erikson e Piaget, tem se mostrado promissora em contextos médicos, mas permanece inexplorada na odontopediatria.  

Um ensaio clínico randomizado (ECR) teve como objetivo avaliar a PPT como técnica de manejo comportamental em comparação ao TSD para crianças submetidas a tratamento odontológico de emergência e se encontra sintetizado a seguir. 

criança em consultório odontológico

Metodologia 

Conduzido entre junho de 2022 e janeiro de 2023 na clínica odontológica pediátrica de emergência do Hospital Universitário King Abdulaziz (KAUH), em Jeddah, Arábia Saudita. Foram incluídas crianças de três a seis anos sem experiência odontológica prévia, que frequentavam a clínica odontológica de emergência e precisavam de tratamento odontológico que exigisse anestesia local (AL). Os critérios de exclusão englobaram crianças que não precisavam de AL para tratamento odontológico de emergência, que apresentavam deficiências cognitivas que afetassem a orientação comportamental ou cujos pais se recusassem a participar da pesquisa. 

Os pacientes foram randomizados em 2 grupos idênticos:  

  1. Grupo PPT: o manejo do comportamento foi fornecido usando PPT; 
  2. Grupo TSD: o TSD foi usado como técnica de orientação comportamental.  

Os níveis de ansiedade foram avaliados usando a Escala de Índice Facial (Facial Index Scale – FIS) e a Escala de Avaliação de Ansiedade de Venham. As taxas de pulso foram medidas antes, durante e após a administração da anestesia. O comportamento da criança também foi pontuado usando a Escala de Avaliação de Comportamento de Frankl e a Escala de Avaliação de Comportamento de Venham. Para a avaliação de dor, foi aplicada a escala Face, Legs, Activity, Cry, Consolability (FLACC).  

Eis o cenário da PPT descrito no artigo: 

  • “Olá, meu nome é Dr. Fantoche. Qual é o seu nome?” 
  • “Você sabe o que faremos hoje?” 
  • “Primeiro, usaremos estas pequenas toalhas para secar sua boca (o fantoche aponta para rolos de algodão).” 
  • “Depois, aplicaremos este gel de morango em sua gengiva; o cheiro é maravilhoso (o fantoche se propõe a cheirar o anestésico tópico e oferece à criança para cheirá-lo).” 
  • “Em seguida, faremos o dente dormir, abraçando-o com força, e então ele dormirá (o fantoche age como se estivesse dormindo e roncando).” 
  • “Por favor, mantenha a boca bem aberta (o fantoche mantém a boca bem aberta) e não se mova (o fantoche demonstra movimento excessivo) e, se precisar de algo, levante a mão (o fantoche demonstra levantar a mão).” 
  • “Você tem alguma pergunta?” 
  • “O fantoche também abordou quaisquer preocupações que a criança possa ter.” 
  • “O boneco foi então colocado de lado e excluído dos procedimentos clínicos subsequentes.” 

Resultados 

Cinquenta pacientes pediátricos foram recrutados e distribuídos de forma aleatória em dois grupos, PPT e TSD, com 25 crianças cada. A média de idade dos participantes foi de 4,96 ± 0,79 anos, sendo 11 (44,0%) e 12 (48,0%) meninos nos grupos PPT e TSD, respectivamente, sem diferenças estatisticamente significativas entre os dois (P = 0,777). 

Antes, durante e após a AL, as frequências cardíacas (FC) médias foram menores nos pacientes que receberam PPT (94,12 ± 15,71; 106,88 ± 12,67 e 103,16 ± 13,6) em comparação aos que receberam TSD (103,4 ± 20,94; 112,5 ± 23,17 e 111,48 ± 25,07), respectivamente. Além disso, os níveis de ansiedade aferidos pelo FIS foram significativamente menores com o uso de PPT (p < 0,001) em comparação aos que receberam TSD. Por fim, as pontuações nas escalas FLACC, Frankl e Venham mostraram menor nível de ansiedade e comportamento odontológico positivo para o PPT em comparação com o TSD, embora sem significância estatística.  

Conclusão 

Os resultados desse estudo sugerem que a PPT oferece um método de modificação comportamental para reduzir a ansiedade e melhorar o comportamento de crianças pequenas diante de procedimentos odontológicos invasivos imediatos, com níveis de eficácia comparáveis aos do método TSD. No entanto, os pesquisadores descrevem a necessidade de mais pesquisas para confirmar esses achados e explorar os potenciais benefícios da PPT nesse contexto. 

Comentário 

Considero extremamente relevantes os estudos que abordam a abordagem não farmacológica na pediatria: criança tem que ser tratada como criança. Sempre.

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Referências bibliográficas

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