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Pediatria9 maio 2019

Sobrevida de crianças com insuficiência respiratória submetidas à ECMO

O período mais longo de ECMO em crianças antes do ano 2000 foi de 62 dias, porém, tem aumentado relatos de pacientes submetidos a períodos mais prolongados.

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Apesar da utilização da oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) ter aumentado nos últimos anos, poucos são os dados disponíveis a respeito dos resultados deste método de suporte em crianças submetidas por um período prolongado. O período mais longo de uso de ECMO em crianças relatado antes do ano 2000 foi de 62 dias, porém, na última década, tem havido aumento dos relatos de pacientes submetidos a períodos mais prolongados (129 dias).

Dessa forma, Zaulan, Annich e Barbaro analisaram todos os pacientes pediátricos com idades entre 1 a 18 anos que foram submetidos à ECMO por insuficiência respiratória aguda por um período superior a 14 dias, registrados pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO).

Os autores encontraram registros de 5.158 crianças que foram submetidas a ECMO de 1989 a 2017. Deste total, 24,8% permaneceram em ECMO por um período igual ou superior a 14 dias. A média de idade dos pacientes foi de 7,83 anos. O peso médio foi de 31,9 kg. A sobrevivência foi de 45,8%. Houve a divisão do tempo em duas eras, 1989 a 2007 versus 2007 a 2017, e que foram comparadas. Foram notadas diferenças nestas duas eras em relação a idade, peso, raça, tempo na ECMO, tempo desde a intubação até o início da ECMO e ajustes no ventilador e e nos gases sanguíneos pré-ECMO.

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De 2007 a 2017, sobreviventes versus não sobreviventes demonstraram diferenças em relação à idade (média de 8,2 versus 9,2 anos, respectivamente – p=0,02), menor duração da ECMO (mediana de 20,4 dias versus 25,5 dias, respectivamente – p<0,001) e menor tempo desde a intubação até o início da ECMO (mediana de 71 horas versus 77 horas, respectivamente). No que concerne à coorte inteira, a sobrevivência em ECMO venovenosa (VV) em comparação à ECMO venoarterial (VA) foi significativamente maior (48,8% versus 41,9%).

Entre duas e cinco semanas de ECMO, a sobrevivência na ECMO caiu significativamente de 66% para 36%. No entanto, a sobrevivência se manteve em torno de 30 a 36% em pacientes com mais de cinco semanas em ECMO. Pneumonia viral, pneumonia não especificada, influenza e pneumonia por aspiração/pneumonite química tiveram taxas de sobrevivência mais elevadas.

Os autores observaram que os registros atuais da ELSO são insuficientes para avaliar características específicas de pacientes sobreviventes a ECMO prolongada. Além disso, os escores de gravidade não predizem sobrevivência nem servem como guias para que a equipe avalie a descontinuação da ECMO. É provável que as estratégias para redução de falência orgânica e lesão pulmonar, por exemplo, possam influenciar na sobrevivência, porém, segundo os autores, são necessários mais estudos.

Os autores concluíram que, recentemente, há uma tendência para que a ECMO seja iniciada para tratamento da insuficiência respiratória aguda e que ela seja mais prolongada. A ECMO realizada por um período superior a seis semanas demonstrou, de acordo com os registros da ELSO, uma taxa de sobrevivência estável, de aproximadamente 30 a 35%, sem descontinuação sendo relatada por complicações.

A ELSO define ECMO prolongada como tendo duração superior a 14 dias. Este estudo de Zaulan, Annich e Barbaro abre portas para que esta definição seja rediscutida.

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Referências:

  • ZAULAN, O.; ANNICH, G.; BARBARO, R. Outcomes of pediatric patients with acute respiratory failure supported with prolonged ECMO. Perfusion, v.34, n.1S, p.250, 2019.
  • CORTINA, G. et al. Prolonged extracorporeal membrane oxygenation for pediatric necrotizing pneumonia due to Streptococcus pneumonia and influenza H1N1 co-infection: how long should we wait for native lung recovery? Journal of Artificial Organs, v.21, n.3, p.367–370, 2018.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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