A gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) é um procedimento essencial para garantir a nutrição adequada de crianças com distúrbios da deglutição ou com necessidades nutricionais elevadas que não podem ser supridas por via oral. Em pacientes de baixo peso, especialmente aqueles com menos de 10 kg, o acesso enteral direto apresenta desafios técnicos e riscos aumentados. A técnica clássica “pull-PEG” pode ser menos adequada nesses casos devido ao risco de trauma orofaríngeo e infecção. A alternativa de punção direta com fixação do estômago por T-fasteners (“push-PEG“) permite inserção direta do botão de gastrostomia com potencial para menor risco de complicações infecciosas e maior estabilidade do dispositivo.
Neste contexto, um estudo retrospectivo realizado entre fevereiro de 2016 e setembro de 2024, avaliou a viabilidade, segurança e frequência de complicações desta técnica em um grupo de crianças abaixo de 10 kg. As principais variáveis clínicas e epidemiológicas avaliadas, seguidas dos resultados principais foram os seguintes:
- Amostra: 70 crianças com peso inferior a 10 kg (peso mediano: 7,2 kg; idade mediana: 346 dias)
- Indicações principais:
- Doenças neuromusculares ou genéticas complexas: 40%
- Doenças renais: 34,3%
- Doenças cardíacas: 15,7%
- Duração mediana do procedimento: 20 minutos
- Tempo de internação (mediana): 4 dias
- Uso de antibióticos perioperatórios: 95,7%
Complicações nos primeiros 30 dias pós-procedimento:
- Total de complicações: 28,5%
- Grau I (infecção local leve): 17,1%
- Grau II (infecção com necessidade de antibótico sistêmico): 7,1%
- Grau IIIb (necessitaram intervenção cirúrgica): 5,7%
- Perfuração gástrica: 3 casos
- Abscesso subcutâneo: 1 caso
- Complicações específicas adicionais:
- Migração de T-fastener: 1 caso (resolvido sem intercorrência)
- Hemorragia pós-operatória leve: 1 caso
- Nenhum caso de desinserção precoce do tubo
- Não houve correlação entre idade, peso ou diagnóstico e a ocorrência de complicações
Discussão e conclusão
Os resultados demonstram que a técnica push-PEG é segura e viável mesmo em crianças com peso inferior a 10 kg. A maioria das complicações foi de baixa gravidade e manejada de forma conservadora. As complicações graves estavam associadas principalmente à perfuração pela haste metálica dos T-fasteners, reforçando a necessidade de precaução na aplicação desses dispositivos, especialmente em pacientes com parede gástrica fina ou perfusão comprometida. A experiência da equipe também se mostrou um fator determinante para o sucesso do procedimento.
Sendo assim, a inserção de GEP por punção direta com T-fasteners é uma alternativa segura à técnica clássica em crianças pequenas, com perfil de complicações aceitável. A adoção de protocolos padronizados e equipes experientes pode contribuir para a redução das complicações e melhor desfecho clínico.
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