A pandemia de Covid-19 trouxe uma série de desafios para praticamente todas as comunidades e para pessoas de diferentes classes sociais e faixas etárias. Uma das maiores preocupações relacionadas aos adolescentes, além do risco de adoecimento pela Covid-19, está relacionado a aspectos de saúde mental desses jovens.
Antes da pandemia, preocupações relacionadas às questões de saúde mental já estavam sendo colocadas para os adolescentes, com vários alertas a respeito do aumento dos índices de comportamentos suicidas, bullying e cyber-bullying, abuso do uso de mídias sociais e isolamento social crescente entre os jovens.
Os adolescentes são um grupo de indivíduos com particularidades próprias e, dentre essas, o aspecto social toma uma grande importância na vida dessas pessoas. A socialização desses seres é extremamente importante e, em um contexto de isolamento social, pode trazer prejuízo de várias ordens para a saúde mental. O isolamento social e a instalação de modelo escolar baseado em atividades remotas, amplamente utilizado no contexto da pandemia para redução da transmissão da doença, levantaram preocupações com relação a um possível aumento do número de transtornos mentais nos adolescentes, como transtornos depressivos ou de ansiedade, piora do sono e transtornos alimentares.
Novo artigo
Muitos artigos têm tentado entender como esse período de isolamento social intensivo pode ter modulado a prevalência de transtornos mentais em adolescentes. Da mesma maneira, o artigo Assessment of Mental Health of High School Students During Social Distancing and Remote Schooling During the COVID-19 Pandemic in Austria traz um estudo do tipo transversal que investiga a presença de transtornos psiquiátricos relacionados a um ano de isolamento social e ao uso de aulas remotas por um semestre.
O estudo foi realizado com 3.052 adolescentes austríacos, com idade entre 14 e 20 anos, que responderam, de forma online, a cinco diferentes avaliações relacionadas ao bem-estar, sintomas depressivos, sintomas de ansiedade, qualidade do sono e distúrbios alimentares, durante o mês de fevereiro de 2021. Investigou-se também a relação do uso aumentado de telefones celulares com a saúde mental desses jovens.
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O grupo foi composto, em sua maioria, por adolescentes do sexo feminino (70,1%). Os resultados são surpreendentes: 55% dos jovens apresentaram critérios para sintomas depressivos, 47% relataram sintomas de ansiedade, 22,8% tiveram insônia moderada, e 59,5% apresentaram transtornos alimentares. A prevalência de ideação suicida nas últimas 2 semanas foi de 36,9% da amostra. Observou-se também que houve associação entre o uso aumentado de telefones celulares e piora da saúde mental, ou seja, quanto mais horas diárias de uso de celulares, piores os índices de saúde mental dos adolescentes.
O estudo também comparou os índices de bem-estar dos adolescentes durante o período de pandemia com dados disponíveis de período anterior (2018). Observou-se que houve uma piora estatisticamente significativa nos índices de bem-estar e da satisfação com a vida desses adolescentes, para ambos os sexos. Os outros índices também apresentaram piora quando comparados os anos de 2018 e 2021. Também houve aumento do uso de celular quando comparados os dois anos.
Novas preocupações com a saúde mental dos adolescentes
Apesar do estudo não poder concluir associação entre o isolamento social e a realização de atividades remotas e a piora da saúde mental de adolescentes, devido ao seu caráter transversal, os dados apontam a necessidade de implementação de programas de saúde mental voltados especificamente para essa faixa etária, uma vez que a prevalência desses transtornos é considerada alta e crescente. Certamente, mais um desafio para o mundo pós-pandemia.
Referências bibliográficas:
- Pieh C, et al. Assessment of Mental Health of High School Students During Social Distancing and Remote Schooling During the COVID-19 Pandemic in Austria. JAMA Network Open. 2021;4(6):e2114866-e2114866. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2021.14866.
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