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Pediatria19 março 2019

São Paulo é sede do Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium

São Paulo sediou no dia 13 de março o Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium em ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Delirium. Saiba mais:

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São Paulo sediou no dia 13 de março o Primeiro Simpósio Latino-Americano de Delirium em ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Delirium. O evento, organizado pelo Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e pelo Latin American Delirium Special Interest Group, capítulo da American Delirium Society na América Latina, contou com a participação de diversos pesquisadores do tema no Brasil e na América Latina, de diferentes especialidades clínicas.

Participaram do evento como moderadores os pesquisadores brasileiros: Enf Rennan Martins (enfermeiro intensivista), Dr. Orestes Forlenza (psiquiatra), Dra Viviane Veiga (intensivista), Dra Gisele Sampaio (neurologista), Dr Ciro Leite Mendes (intensivista, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB), Dra Denise Kusahara (enfermeira pediatra intensivista), Dr Thiago Avelino-Silva (geriatra) e Dr Arnaldo Prata Barbosa (pediatra intensivista).

Iniciando as palestras, o geriatra chileno Dr Felipe Salech abordou o histórico, a definição e a epidemiologia do delirium na América Latina. Ele mostrou como o diagnóstico de delirium sempre foi bastante controverso desde os tempos de Hipócrates e esclareceu que, atualmente, o delirium é definido como uma desordem aguda e flutuante da atenção e da cognição, mas que apesar de extremamente frequente, ainda é pouco diagnosticado e gera custos hospitalares exorbitantes.

Em relação à epidemiologia, o pesquisador relatou que são poucos os estudos latino-americanos sobre esta temática. No entanto, destacou um estudo uruguaio de 2017 realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Montevidéu, onde foi encontrada uma prevalência de 80% de delirium em pacientes adultos submetidos à ventilação mecânica (VM).

A segunda palestra, ministrada pela intensivista brasileira Dra Viviane Veiga, teve como tema os aspectos legais do delirium. O diagnóstico dedelirium deve estar sempre documentado em prontuário e os termos de consentimento informado para o tratamento devidamente preenchidos para que o paciente com este diagnóstico possa ter seus fatores de risco abordados pela equipe, pois em delirium o paciente não tem discernimento mental para ter qualquer tipo de decisão no momento em que o apresenta. Além disso, o uso de contenção física deve ser bastante restrito, respeitando-se a dignidade do paciente.

A terceira palestra foi dada pelo intensivista chileno Dr Eduardo Tobar. O Dr Tobar descreveu as manifestações clínicas do delirium e seus subtipos motores e citou trabalhos realizados em diferentes populações concluindo que as formas hipoativa e mista são as mais frequentemente encontradas, sendo, muitas vezes, confundidas com depressão.
A quarta palestra, cuja apresentadora foi a psiquiatra colombiana Dra Carmenza Ramírez, focou nos principais diagnósticos diferenciais do delirium. Dentre eles, estão a demência e a depressão. No entanto, deve-se ter cuidados porque ambos diagnósticos podem se sobrepor.

A fisiopatologia foi abordada pelo intensivista brasileiro Dr Heraldo Possolo. Dr. Possolo  descreveu  que existem inúmeras hipóteses para a ocorrência do delirium. No entanto, essas hipóteses são complexas e ainda não foram elucidadas, o que dificulta as recomendações para a abordagem farmacológica do delirium. Seguindo esta sequência, o intensivista brasileiro Dr Felipe Dal Pizzol relatou a importância dos neurotransmissores na fisiopatologia do delirium e mostrou dados de um estudo recente conduzido por ele que demonstrou que a neurogranina parece ser um bom biomarcador precoce de delirium em pacientes graves em UTI. No entanto, dados sobre biomarcadores para delirium ainda são inconsistentes.

O psiquiatra colombiano Dr José Gabriel Franco divulgou os primeiros resultados da ferramenta Delirium Diagnostic Tool-Provisional (DDT-Pro) em espanhol. Já a intensivista argentina Dra Rosa Reina apresentou sua experiência clínica com as ferramentas CAM e CAM-ICU. Ambas permitem o diagnóstico de delirium por profissionais da equipe multidisciplinar de saúde sem formação em psiquiatria, facilitando o diagnóstico precoce.

O terceiro módulo do simpósio incluiu as seguintes aulas: abordagem não farmacológica (Dra María Orellano, intensivista uruguaia), mobilização precoce (Beatriz Fagundes, fisioterapeuta brasileira) e o ABCDEF bundle (Dra Rosa Reina). As palestrantes frisaram a importância da humanização no ambiente hospitalar e o quanto a mobilização precoce vem demonstrando excelentes resultados na prevenção e no tratamento do delirium. Além disso, o ABCDEF bundle vem ganhando bastante espaço, principalmente após a introdução do componente F, relacionado à inclusão da família nos cuidados do paciente, para que ele seja libertado o mais rápido possível do ambiente de UTI. Por fim, o manejo farmacológico foi abordado pelo Dr Daniel Apolinario, geriatra brasileiro).

As conclusões deixadas pelo Dr Daniel incluíram a importância de minimizar os fatores de risco para odelirium antes de considerar a terapia antipsicótica; que ainda não há papel para terapia antipsicótica em baixas doses para prevenir o delirium em pacientes de UTI de alto risco; que há evidências mínimas para apoiar a administração rotineira de terapia antipsicótica para o delirium, a menos que os sintomas sejam graves; que os antipsicóticos devem ser administrados na dose mais baixa e na menor duração possível; e que pesquisas adicionais são necessárias para determinar os papéis específicos da terapia antipsicótica para o delirium.

Ademais, o Dr Daniel mostrou que apenas a dexmedetomidina tem sido recomendada para o manejo farmacológico do delirium segundo o último guideline de 2018 de Devlin et al. O Dr Daniel destacou que ainda há pouca evidência para o uso de melatonina na prevenção e no tratamento do delirium.

O Dr Thiago Avelino-Silva, geriatra brasileiro, falou sobre delirium em Geriatria e em Cuidados Paliativos. De acordo com o Dr Thiago, o deliriumsuperposto à demência e o delirium isoladamente são independentemente associados a um pior prognóstico em idosos hospitalizados. Portanto, os profissionais de saúde devem reconhecer a importância do delirium como um preditor de mortalidade hospitalar nesta população, independentemente da coexistência com demência.

Leia maisComo avaliar instrumentos para medição da gravidade do delirium?

A intensivista uruguaia Dra Patricia Mesa apresentou o tema “delirium em UTI” e mostrou os resultados de seus estudos na UTI onde atua em Montevidéu, Uruguai. Além de ter encontrado uma prevalência de 80% de delirium em pacientes em VM, como descrito na primeira palestra do dia, ela enfatizou a necessidade de uma avaliação objetiva para delirium com o uso de uma ferramenta confiável e válida.

Como palestrante do tema “delirium em Pediatria”, abordei a necessidade de pesquisas adicionais sobre o delirium pediátrico no Brasil e em toda a América Latina e enfatizei que a triagem de rotina do delirium é necessária em todas as crianças graves. Destaquei o estudo de Traube et al. (2017) que englobou diversas Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) em nove países: neste estudo, a prevalência de delirium foi de 25%.

Além disso, citei os fatores de risco mais comuns para o delirium em crianças relatados pela literatura incluindo: idade abaixo de 2 anos, a gravidade da doença (especificamente o uso de VM e vasopressores), fatores iatrogênicos e o maior tempo de permanência na UTIP. Por fim, encorajei o público para uma mudança no perfil de sedação em pediatria, deixando as crianças sendo mais alertas e participativas e menos profundamente sedadas.

Finalizando as palestras do dia, a geriatra brasileira Dra Flávia Garcez abordou os desfechos clínicos e cognitivos do delirium. De acordo com a pesquisadora, o delirium é um preditor independente de mortalidade hospitalar, tanto quando presente na admissão como quando observado durante a internação hospitalar.

Além disso, a Dra Flávia relatou que os profissionais de saúde precisam estar cientes da possibilidade de ocorrência de declínios cognitivos em pacientes que apresentaram delirium durante a internação hospitalar, principalmente idosos, pois podem evoluir para quadros demenciais mesmo após a alta hospitalar. O próximo simpósio latino-americano de delirium será realizado em março de 2021, em Santiago, Chile.

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