A música faz parte da humanidade e é cada vez mais explorada no atendimento clínico por meio de duas abordagens principais: música medicinal (ministrada por profissionais de saúde) e musicoterapia (MT – ministrada por terapeutas certificados para fins terapêuticos). A música influencia as respostas emocionais e fisiológicas, reduzindo potencialmente a ansiedade, a dor e o estresse por meio da liberação de endorfina e da modulação da frequência cardíaca (FC) e dos níveis de cortisol. Em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), onde os estressores e o desconforto são elevados, intervenções não farmacológicas, como a música, são recomendadas por diretrizes recentes (como a PANDEM 2022 da Society of Critical Care Medicine) para aumentar o conforto e reduzir a exposição a sedativos.
Apesar dos dados promissores em adultos, as evidências em crianças graves permanecem escassas, destacando a necessidade de mais pesquisas sobre o seu papel na analgesia, sedação e manejo do delirium pediátrico (DP). Para abordar essa questão, uma revisão sistemática realizada na Tailândia avaliou a literatura atual e seus resultados estão publicados no jornal “Pediatrics International”.

Metodologia
O estudo consistiu em uma busca bibliográfica por meio das bases de dados EMBASE, Google Acadêmico, MEDLINE, PUBMED, por textos publicados desde o início até 31 de dezembro de 2024, utilizando títulos de assuntos médicos relevantes e termos de busca específicos. Para a seleção de artigos, os pesquisadores seguiram a estratégia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) e dois revisores trabalharam nos critérios de elegibilidade de forma independente e, em caso de desacordo, era feita uma discussão com um terceiro revisor.
Somente artigos em inglês foram incluídos na análise: ensaios clínicos randomizados (ECR), estudos piloto, estudos quase experimentais e revisões sistemáticas. Foram excluídos estudos duplicados, cartas, comentários, editoriais, diretrizes, anais, resumos de congressos, relatos de caso, estudos que incluíram a população mista adulta e pediátrica sem análise de subgrupos para crianças graves, estudos envolvendo apenas neonatos e estudos abordando múltiplas intervenções sem uma análise específica do efeito da intervenção musical.
O risco de viés foi avaliado e a qualidade da evidência foi verificada através da metodologia GRADE.
Resultados
A análise final incluiu um ECR cruzado, três ECR (dois estudos piloto) e três estudos quase experimentais de pré-teste e pós-teste usando comparações intra sujeito (um estudo piloto). A qualidade geral das evidências foi classificada como baixa devido ao risco de viés, heterogeneidade e tamanho amostral reduzido. Seis estudos utilizaram MT como parâmetro e um utilizou intervenção musical.
A revisão apontou para o fato de que a música levou à redução da FC em cinco estudos, à redução da dor relacionada ao procedimento em dois estudos e ao aumento do conforto em quatro estudos. Em um estudo piloto unicêntrico, não foi observada melhora nos escores de DP.
Conclusão
A revisão concluiu, com base nas evidências limitadas atuais, que a MT é promissora como intervenção não farmacológica para analgesia e sedação em crianças graves. No entanto, descreve que mais estudos são necessários para estabelecer sua eficácia no DP e determinar o método ideal de administração da MT.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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