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Pediatria10 dezembro 2025

Revisão sistemática analisa o impacto de protocolos de analgesia e sedação em UTIP

Revisão mostra que sedação protocolada por enfermeiros em UTIP reduz SAI e benzodiazepínicos, com impacto variável em opioides e ventilação.

Em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), crianças graves necessitam, frequentemente, de analgesia e sedação para procedimentos invasivos, sincronia ventilatória e estabilidade pós-operatória, mas equilibrar conforto e segurança continua sendo um desafio. A sedação excessiva pode prolongar a ventilação mecânica (VM) e causar síndrome de abstinência iatrogênica (SAI) ou delirium, enquanto o tratamento insuficiente da dor e da ansiedade leva a sofrimento e complicações.  

Apesar das diretrizes que promovem sedação mínima, extubação precoce e analgesia adequada, as práticas clínicas variam amplamente. Abordagens protocoladas prescritas por médicos, mas implementadas por enfermeiros, podem padronizar o atendimento, aprimorar a colaboração e melhorar os desfechos, embora as evidências atuais em populações pediátricas sejam inconsistentes. Uma revisão sistemática muito interessante foi publicada no Nursing in Critical Care e abordou essas questões. 

Metodologia 

As pesquisadoras Schianchi e Harris conduziram uma revisão sistemática da literatura, com busca em diversas bases de dados, incluindo Academic Search Complete, CINAHL, Cochrane Library e MEDLINE.  

Os critérios de inclusão foram estudos conduzidos em UTIP envolvendo pacientes menores de 18 anos, utilizando protocolos de analgesia e/ou sedação conduzidos por enfermeiros e medindo a exposição a opioides e/ou benzodiazepínicos. Devido à escassez de ensaios clínicos randomizados, nenhuma restrição foi imposta de acordo com o desenho do estudo dos artigos selecionados. Os artigos foram revisados ​​por pares, publicados nos últimos dez  anos e escritos em inglês. Estudos conduzidos em unidades de terapia intensiva adulto ou neonatal e aqueles envolvendo exclusivamente pacientes em oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) foram excluídos.  

O objetivo principal do estudo foi determinar se o uso de tais protocolos pode reduzir as doses de opioides e benzodiazepínicos. Os desfechos secundários incluíram a documentação dos escores de dor e sedação, incidência de SAI, duração da VM e tempo de internação na UTIP e no hospital. 

Resultados 

Dez artigos foram incluídos na revisão para análise. Os estudos foram conduzidos nos Estados Unidos, Irlanda, França, Alemanha e Austrália. O tamanho das amostras variou de 65 a 2.449 pacientes pediátricos, abrangendo populações clínicas e pós-cirúrgicas. 

Os pesquisadores observaram que a sedação protocolada conduzida por enfermeiros reduziu significativamente as doses administradas de benzodiazepínicos  (particularmente quando combinados com agentes alfa-2 adrenérgicos, como a clonidina) e a incidência de SAI. A implementação de protocolos de analgesia e sedação também melhorou significativamente a documentação e a frequência das avaliações da escala COMFORT-B. Todavia, a maioria dos estudos não encontrou nenhuma mudança estatisticamente significativa no uso de opioides após a implementação de protocolos de analgesia e sedação conduzidos por enfermeiros, embora vários tenham relatado reduções significativas. Também não foram encontradas diferenças significativas no uso de opioides, na duração da VM e no tempo de internação na UTIP/hospital. No entanto, análises de subgrupos para duração da VM e tempo de internação na UTIP/hospital mostraram resultados positivos em crianças mais velhas e nos pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca. 

Conclusão 

O estudo concluiu que protocolos de analgesia e sedação conduzidos por enfermeiros podem reduzir a sedação excessiva e a SAI em crianças graves em UTIP e, consequentemente, podem melhorar os desfechos e reduzir custos. Contudo, estudos futuros devem explorar o uso de protocolos em subgrupos de pacientes nos quais resultados positivos tenham sido relatados. É importante lembrar que, na prática, a implementação eficaz requer treinamento e auditorias para aumentar a confiança e a autonomia da enfermagem. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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