Em março deste ano, a American Academy of Pediatrics publicou um relatório técnico abordando um assunto muito atual também no Brasil: a superlotação dos serviços de pronto-atendimento pediátrico. O artigo discorre sobre as causas desse fenômeno estar ocorrendo de forma tão pronunciada nos últimos anos, seus potenciais riscos e estratégias para melhorar a prestação de atendimento a todas as nos serviços de emergência infantil.
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Metodologia
Para a realização do estudo foram compilados dados coletados a partir de uma série de outros estudos e iniciativas envolvendo os Estados Unidos e outros países sobre os principais motivos da superlotação nos departamentos de emergência infantil. Foram consideradas as práticas clínicas adotadas pelos médicos para o atendimento dessas crianças e o impacto da superlotação na saúde pública.
Resultados
Os autores observaram que a presença de crianças com doenças virais simples e sem sinais de alarme nos departamentos de emergência é um problema frequente em muitos países, sendo parte do problema da superlotação. Isso ficou ainda mais claro com a drástica redução nos atendimentos pediátricos durante o período da pandemia, especialmente no que tange os atendimentos triados como não urgentes. O artigo ainda cita situações como a procura por serviço de emergência para fornecimento de atestados de saúde e situações de traumas mínimos, como pequenos cortes e quedas sem sinais de alarme.
O grande número de pacientes aguardando atendimento aumenta os riscos de infecções cruzadas, aumenta o atraso no controle da dor e na administração de antibióticos. Além disso, a capacidade dos profissionais de saúde de oferecer um atendimento de qualidade é comprometida, o que pode resultar em um maior número de internações e complicações nas condições dos pacientes.
Para abordar o problema do superlotação, foram sugeridas várias estratégias em diferentes países. Uma das estratégias mais utilizadas é a triagem de pacientes, em que a prioridade é dada aos pacientes com condições mais graves. Essa triagem pode ser feita por meio de sistemas informatizados que levam em consideração a gravidade do caso, a idade do paciente e outros fatores.
Além disso, a educação dos pacientes e seus responsáveis é fundamental para evitar a superlotação nos departamentos de emergência. Uma das formas de fazer isso é divulgar informações sobre o que é uma emergência médica, quais seriam os sinais de alarme para os quadros febris em crianças e quando é apropriado priorizar uma avaliação ambulatorial.
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Outra estratégia sugerida é a criação de novos serviços de saúde, como clínicas de atendimento rápido, que podem oferecer atendimento de qualidade para pacientes com condições não emergenciais. Esses serviços podem ajudar a aliviar o fluxo de pacientes nos departamentos de emergência e a garantir que cada paciente receba o tipo de atendimento apropriado.
Há ainda, iniciativas relacionadas ao uso da telemedicina para aliviar o fluxo de pacientes buscando diretamente os serviços de pronto-atendimento, sendo demonstrada uma redução de 22% nos atendimento de emergência em Rochester (Nova Iorque) dentre crianças com acesso a este serviço.
De qualquer forma, é importante destacar que a solução do problema da superlotação dos serviços de pronto-atendimento infantis não é simples e demanda um esforço conjunto de todos os envolvidos. Profissionais de saúde, governos, pacientes e suas famílias precisam trabalhar juntos para garantir que os serviços de emergência estejam disponíveis para aqueles que mais necessitam, sem comprometer a qualidade do atendimento ou a segurança dos pacientes.
Conclusões
O artigo conclui que a situação de superlotação nos departamentos de emergência infantil é um problema complexo que deve ser abordado de forma multidisciplinar, envolvendo medidas governamentais, práticas clínicas aprimoradas e conscientização da população sobre a gravidade do problema.
Comentários
A estrutura dos sistema de saúde americano é muito diferente do sistema brasileiro, ainda assim fica claro que sofremos com problemas similares.
Principalmente ao final de 2021, quando as regras de isolamento passaram a ser flexibilizadas e as crianças retornaram à escola após um longo período de isolamento, tem sido observado no Brasil um grande aumento de quadros virais simples recorrentes em crianças, o que tem gerado enorme aumento no número de atendimentos e os mesmos potenciais prejuízos citados no artigo tanto em hospitais públicos como privados. Além dos prejuízos no atendimento e os riscos aos quais os pacientes estão expostos, cabe citar a situação de exaustão absoluta dos profissionais de saúde que não raramente evoluem para burnout, prejudicando ainda mais o sistema de saúde.
Mensagem prática
Faz-se necessário a adoção de urgentes medidas no sentido de educar a população a cerca do que deve ou não ser motivo de levar uma criança a um serviço de emergência infantil e quais são os riscos de fazê-lo de forma indiscriminada.
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