As novas diretrizes de Suporte Básico de Vida Pediátrico (SAVP) da American Heart Association junto com a American Academy of Pediatrics, publicadas em outubro de 2025 na Circulation, trazem as seguintes novidades:
- Para fazer as compressões torácicas em bebês, o uso dos dois maiores dedos ao longo do esterno foi eliminado por conta ineficácia em atingir a profundidade adequada. Agora, as técnicas de compressão recomendadas incluem o uso da técnica com a base de uma mão ou a técnica com os dois polegares envolvendo o tórax com as mãos. Se o socorrista não conseguir envolver fisicamente o tórax com as duas mãos, recomenda-se comprimir o tórax com a técnica com a base de uma das mãos;
- Para fazer as compressões torácicas em crianças, agora é preconizado comprimir somente com as duas mãos (antes o socorrista podia escolher entre comprimir com apenas a base de uma das mãos ou com as duas mãos);
- A cadeia de sobrevivência diante de parada cardiorrespiratória (PCR) incluir seis elos:
- Reconhecimento de PCR e ativar o sistema de emergência;
- RCP de alta qualidade;
- Desfibrilação (quando necessária);
- RCP avançada;
- Cuidados após retorno da circulação espontânea (RCE);
- Reabilitação e cuidado dos sobreviventes;

Divisão das vítimas em RCP
Em RCP, dividimos as vítimas em:
- Bebês, que são os menores de 1 ano de idade;
- Crianças, que são as vítimas a partir de 1 ano de idade até antes de entrada na puberdade, que em SBV é definida por presença de algum desenvolvimento mamário nas meninas (o mamilo deixa de ser plano), e presença de pêlos axilares nos meninos;
- Adultos, que são as vítimas que já entraram na puberdade.
Segurança da cena, diagnóstico de PCR e acionamento do sistema médico de urgência
Verificar a segurança da cena antes de socorrer a vítima. A PCR é diagnosticada diante de vítima não responsiva a estímulo tátil e verbal, que não respira ou apresenta somente gasping e sem pulso (profissionais de saúde devem checar o pulso central e, se não detectarem em até 10 segundos, considerar que está sem pulso).
Assim que diagnosticar PCR, acionar imediatamente o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) telefone 192 ou Bombeiros telefone 193. E solicitar que busquem o desfibrilador externo automático (DEA) idealmente de adulto se ≥8 anos de idade e DEA pediátrico (com carga atenuada) se <8 anos de idade. Se DEA com carga atenuada não estiver disponível, usar DEA de adulto. Se profissional de saúde treinado e desfibrilador manual disponível, preferencialmente usá-lo em bebê e criança. Usar o desfibrilador assim que disponível. As pás do desfibrilador devem ser posicionadas conforme o desenho das pás do DEA e com distância mínima de 1-2cm. Iniciar imediatamente RCP de alta qualidade.
RCP de alta qualidade
Os componentes da RCP de alta qualidade são:
- Usar o desfibrilador assim que disponível;
- Fazer sequência CAB (Compressões torácicas, Abertura de vias aéreas e Boa ventilação);
- Colocar vítima idealmente sobre superfície firme (ex. chão) para otimizar a efetividade das compressões torácicas;
- Iniciar imediatamente as compressões torácicas após o choque;
- Comprimir:
- FORTE (≥1∕3 do diâmetro anteroposterior do tórax, que é 4cm em bebês, 5cm em crianças e 5-6cm em adultos);
- RÁPIDO 100-120∕minuto;
- Local e forma de compressão conforme tipo de vítima:
- Bebê: comprimir o esterno da vítima com os dois polegares logo abaixo da linha intermamilar, mas se não conseguir envolver fisicamente o tórax com as duas mãos, recomenda-se comprimir o tórax com a base (região tenar e hipotenar) de uma das mãos;
- Crianças e adultos: comprimir terço inferior do esterno da vítima com a técnica das duas mãos (apoiando apenas a base da mão dominante e com a outra mão entrelaçada) com os membros superiores estendidos;
- Permitindo o retorno total do tórax;
- Minimizar interrupções das compressões torácicas (<10 segundos);
- Na Abertura de vias aéreas, fazer tração de mandíbula para todas as vítimas e , na ausência de suspeita de trauma, hiperestender a cabeça da vítima;
- Na Boa ventilação, inicialmente fazer ventilação com reanimador manual e máscara cobrindo nariz e boca (sem comprimir os olhos), vedando para evitar escape de ar, jogando ar suficiente para promover apenas leve elevação torácica. Evitar hiperventilação.
- Na ausência de via aérea avançada, relação de compressões para ventilações:
- 30: 2 se UM socorrista independentemente da idade da vítima;
- 15:2 se DOIS socorristas para bebês e crianças;
- 30: 2 se DOIS socorristas para adultos;
- Evitar hiperventilação;
- Fazer respiração boca-a-boca-nariz em bebê e respiração boca-a-boca em crianças e adultos. Se disponível, usar reanimador manual com máscara com fração inspirada de oxigênio (FiO2) a 100%.
- Mudar o socorrista compressor a cada 2 minutos ou antes se fadiga;
- Checar o ritmo cardíaco a cada 2 minutos;
Autoria

Renata Carneiro da Cruz
Editora médica de Pediatria da Afya ⦁ Mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFRJ ⦁ Residência em Pediatria Geral pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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