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Neurologia4 fevereiro 2022

Qual malformação cerebral traz mais risco de epilepsia neonatal?

Em um estudo, os distúrbios da migração e organização neuronal foram malformações cerebrais associadas ao maior risco de epilepsia neonatal.

Por Camila Silveira

Em um estudo da Universidade da Califórnia, os distúrbios da migração e organização neuronal, como a polimicrogiria e a lisencefalia, foram as malformações cerebrais associadas ao maior risco de epilepsia neonatal. Boa parte das crises foram exclusivamente eletrográficas, reforçando a recomendação de 2011 da Sociedade Americana de Eletrofisiologia Clínica, de monitorar com eletroencefalograma (EEG) os recém-nascidos (RN) com malformações cerebrais congênitas.

Saiba mais: ILAE divulga recomendações para as convulsões neonatais

malformação cerebral

Justificativa 

Crises epilépticas no período neonatal são bem conhecidas dos neonatologistas. A maioria delas é causada por um evento perinatal agudo, especialmente por encefalopatia hipóxico-isquêmica, mas não podemos esquecer das epilepsias de início precoce. Estima-se que até 15% das crises no RN estejam relacionadas a epilepsias e a etiologia de 1/3 destas é atribuída a malformações cerebrais.  

É amplamente estabelecido que as malformações cerebrais aumentam o risco de epilepsia, mas pouco se sabe a respeito da incidência neonatal de epilepsia nestes casos. Essa informação é importante para: 

  • Melhorar o aconselhamento dos pais;
  • Amparar a decisão clínica de monitoramento desses bebês com EEG.

Método

Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo, incluindo os bebês que tiveram malformações congênitas identificadas por ressonância magnética (RM) pré ou pós-natal e que foram avaliados por neurologista infantil durante o período neonatal. Os critérios de exclusão foram a presença de lesões cerebrais agudas e/ou de malformações não associadas a epilepsia.  

As malformações foram classificadas em uma das seguintes categorias: 

Transtornos do desenvolvimento do prosencéfalo

  • Hipoplasia/displasia do corpo caloso; 
  • Agenesia completa do corpo caloso; 
  • Displasia septo-óptica; 
  • Holoprosencefalia; 
  • Anencefalia.

Hidrocefalia congênita

Transtornos do desenvolvimento da fossa posterior

  • Hipoplasia/displasia cerebelar; 
  • Malformação de Dandy-Walker; 
  • Hipoplasia isolada do vermis cerebelar; 
  • Síndrome de Joubert; 
  • Hipoplasia ponto-cerebelar; 
  • Rombencefalosinapse.

Transtornos da migração e organização neuronal

  • Polimicrogiria; 
  • Lisencefalia/ paquigiria; 
  • Simplificação giral; 
  • Heterotopia; 
  • Esquizencefalia.

Malformações complexas  

  • Malformação complexa total não especificada; 
  • Complexo esclerose tuberosa; 
  • Síndrome de Aicardi; 
  • Síndrome de DiGeorge; 
  • Síndrome L1 (causada por variante patogênica do gene L1CAM, cursa com hidrocefalia com agenesia/hipogenesia do corpo caloso, hipoplasia cerebelar, tronco cerebral pequeno e agenesia do trato córtico-espinhal); 
  • Trissomia do 18; 
  • Síndrome de Walker Warburg.

Bebês com múltiplas malformações foram classificados de acordo com aquela mais proeminente. A realização de EEG contínuo ficou a critério do médico assistente e os realizados foram monitorados por neurofisiologistas pediátricos.  

Foi utilizada a definição de crises neonatais da International League Against Epilepsy (ILAE): evento eletrográfico caracterizado por ondas estereotipadas de início súbito, rítmicas, com início, evolução e fim. E também a classificação da ILAE de crises neonatais: exclusivamente eletrográficas (sem sinais clínicos) ou eletroclínicas (com sinais clínicos). 

Resultados 

Foram incluídos 132 bebês. Destes, 18 (14%) foram diagnosticados com epilepsia de início neonatal. 

Seis dentre os 18 bebês eram portadores de polimicrogiria. O risco de epilepsia neonatal de acordo com o tipo de malformação cerebral foi de: 

  • 26% para os transtornos da migração e organização neuronal;
  • 16% para os transtornos do desenvolvimento do prosencéfalo;
  • 13% para as malformações complexas;
  • 3% para os transtornos do desenvolvimento da fossa posterior. 

Dos 18 bebês com epilepsia, 16 tiveram crises exclusivamente eletrográficas em algum momento durante a monitoração, e cinco destes tiveram somente crises sem correspondente clínico em todo o período de observação.

Leia também: O risco de doença cardíaca congênita está associado à história materna de perda gestacional?

Mensagem prática 

Recém-nascidos com malformações cerebrais, especialmente com transtornos da migração e da organização neuronal, têm alto risco de epilepsia de início neonatal e, às vezes, apresentam crises exclusivamente eletrográficas (sem sinais clínicos). Estes achados reforçam a importância de monitorá-los com EEG contínuo sempre que disponível.

Referências bibliográficas:

  • Simmons R, Martinez AB, Barkovich J, et al. Disorders of Neuronal Migration/Organization Convey the Highest Risk of Neonatal Onset Epilepsy Compared With Other Congenital Brain Malformations. Pediatr Neurol. 2022;127:20-27. doi:10.1016/j.pediatrneurol.2021.11.005 
  • Pressler, Ronit M., et al. “The ILAE classification of seizures and the epilepsies: Modification for seizures in the neonate. Position paper by the ILAE Task Force on Neonatal Seizures.” Epilepsia 62.3 (2021): 615-628. https://doi.org/10.1111/epi.16815
  • Stumpel C, Vos YJ. L1 Syndrome. 2004 Apr 28 [Updated 2021 Jan 7]. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2022. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1484/ 

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