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Pediatria8 setembro 2022

Quais as sequelas pós-agudas da infecção pelo SARS-CoV-2 em pediatria?

A compreensão atual da apresentação clínica das sequelas da infecção por SARS-CoV-2 (PASC) em crianças é limitada.

As sequelas pós-agudas da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 (postacute sequelae of SARS-CoV-2 infection – PASC) surgiram como uma complicação de longo prazo em pacientes adultos, sendo caracterizadas por dois tipos de manifestações:

  1. Sintomas inespecíficos persistentes, intermitentes ou recorrentes, como fadiga, cefaleia e dispneia – variante sindrômica;
  2. Condições que podem ser resultado direto da apresentação da doença aguda, como fibrose pulmonar, ou que podem surgir novamente após infecção, como doenças autoimunes – variante sistêmica.

Em crianças, com exceção da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), a compreensão atual da apresentação clínica da PASC é limitada. Há grande variabilidade nas estimativas de sua prevalência em pediatria, variando de 2% a 66%, devido à marcada heterogeneidade nos casos e na metodologia dos estudos existentes, bem como na falta de um grupo de comparação adequado.

Diante dessas limitações, pesquisadores do National Institute of Health Researching COVID to Enhance Recovery (RECOVER) conduziram um estudo retrospectivo de coorte que foi publicado recentemente no JAMA Pediatrics.

Quais as sequelas pós-agudas da infecção pelo SARS-CoV-2 em pediatria

Definições

As PASC têm um amplo espectro de manifestações clínicas que podem afetar vários sistemas. Seguem definições:

  • National Institutes of Health: sintomas contínuos, recorrentes ou novos ou outros efeitos à saúde que ocorrem após a fase aguda da infecção pelo SARS-CoV-2, presentes quatro ou mais semanas após a infecção aguda;
  • Centers for Disease Control and Prevention: as condições pós-COVID-19 incluem uma ampla gama de problemas de saúde novos, recorrentes ou persistentes que as pessoas experimentam quatro ou mais semanas após serem infectadas pelo SARS-CoV-2;
  • Organização Mundial da Saúde: condições que ocorrem três ou mais meses após o início da infecção pelo SARS-CoV-2 que não podem ser explicadas por um diagnóstico alternativo e duram, pelo menos, dois meses, reconhecendo que uma definição separada pode ser aplicável para crianças.

Leia também: Hiperglicemia e citopenias como sinais de infecção pela variante delta do SARS-CoV-2 em prematuros

Metodologia

Foram utilizados registros eletrônicos de nove hospitais infantis americanos para pacientes com menos de 21 anos de idade que foram submetidos a teste de antígeno ou RT-PCR para SARS-CoV-2 (entre 1º de março de 2020 e 31 de outubro de 2021). Os pesquisadores restringiram a amostra àqueles pacientes com, pelo menos, um encontro (incluindo telefone ou telessaúde) dentro dos sistemas de saúde do dia 7 ao dia 1095 antes da entrada na coorte para garantir atendimento prévio em uma instituição PEDSnet (rede de pesquisa clínica multi-institucional que agrega dados de prontuários eletrônicos de várias das maiores organizações de saúde infantil dos Estados Unidos). A exposição consistiu na positividade para o vírus SARS-CoV-2.

As características sindrômicas (sintomas), sistêmicas (condições) e medicamentosas foram identificadas nos 28 a 179 dias após a data inicial do teste. As razões de risco ajustadas (aHRs) foram obtidas para 151 características de PASC clinicamente previstas, contrastando grupos positivos para teste viral com grupos negativos usando modelos de riscos proporcionais, ajustando para local, idade, sexo, local do teste, raça e etnia e período de tempo de entrada da coorte. A proporção de incidência para qualquer característica de PASC sindrômica, sistêmica ou medicamentosa foi estimada nos dois grupos para obter uma carga de estimativa de PASC.

Resultados

A amostra consistiu em 659.286 crianças. Destas, 348.091 (52,8%) eram do sexo masculino, e a idade média foi de 8,1 anos.

Um total de 59.893 (9,1%) apresentou resultado positivo no teste viral para SARS-CoV-2 (599.393 deram negativo – 90,9%). A maioria foi testada ambulatorialmente (322.813 [50,3%]) ou em consultórios (162.138 [24,6%]).

As características sindrômicas, sistêmicas e medicamentosas mais comuns foram perda de paladar ou olfato (aHR, 1,96), miocardite (aHR, 3,10) e preparações para tosse e resfriado (aHR, 1,52), respectivamente.

A incidência de pelo menos uma característica sistêmica, sindrômica ou medicamentosa de PASC foi de 41,9%  entre crianças com teste viral positivo versus 38,2% entre crianças com teste viral negativo, com uma diferença de proporção de incidência de 3,7%, com taxas aumentadas associadas à gravidade da doença aguda, idade jovem (crianças com menos de cinco anos de idade) e doenças crônicas complexas.

Saiba mais: Quais os fatores de risco para Covid-19 grave na pediatria?

Conclusão

O estudo mostrou que a carga de PASC em pediatria apresentada aos sistemas de saúde americanos foi baixa. A miocardite foi a condição mais comumente diagnosticada associada à PASC. Ademais, a gravidade da doença aguda, a idade jovem e a doenças crônicas complexas aumentaram o risco dessas sequelas. No entanto, apesar desses achados sugerirem que a carga e as janelas de risco de PASC podem diferir entre crianças e adultos, os pesquisadores sugerem que estudos futuros, incluindo prospectivos de longo prazo, como o National Institutes of Health RECOVER Initiative, são necessários para elucidar completamente os fenótipos da PASC.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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