A ventilação mecânica (VM) é vital para recém-nascidos (RN) com desconforto respiratório grave, no entanto, aumenta significativamente o risco de pneumonia associada à VM (PAV), uma importante infecção associada à assistência à saúde em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Infelizmente, a ocorrência de PAV está associada a maior morbidade, mortalidade, hospitalização prolongada e custos hospitalares.
A fisiologia e a imunidade imatura dos RN aumentam sua vulnerabilidade à colonização bacteriana durante a VM, enquanto os desafios diagnósticos persistem devido aos rigorosos critérios do CDC (Centers for Disease Control and Prevention). A interrupção do equilíbrio da microbiota pulmonar facilita ainda mais a infecção, ressaltando a necessidade de novas estratégias preventivas.
Embora os bundles tradicionais permaneçam o tratamento padrão, evidências emergentes sugerem que os probióticos podem modular a imunidade de RN e protegê-los contra patógenos, oferecendo uma abordagem promissora, embora ainda debatida, para a prevenção da PAV em pacientes em UTIN submetidos à VM. Os probióticos já se mostraram eficazes na redução da enterocolite necrosante (NEC) e da sepse tardia na população neonatal.
Um estudo realizado no Egito avaliou o valor preventivo dos probióticos na incidência de PAV entre RN ventilados e foi publicado no European Journal of Pediatrics.

Metodologia
Os pesquisadores conduziram um prospectivo, randomizado e controlado na UTIN do Hospital Universitário de Tanta, Egito, durante um ano (de maio de 2023 a maio de 2024).
Foram divididos, aleatoriamente, 80 RN a termo que necessitaram de VM invasiva por um período superior a 48 horas, em dois grupos: um grupo probiótico (GP – n=40) e um grupo não probiótico (GNP – n=40). Além do tratamento padrão administrado a ambos os grupos, o GP recebeu um sachê contendo 1 × 109 UFC de bactérias lácticas duas vezes ao dia, desde o primeiro dia de recrutamento até a alta. Os RN foram avaliados quanto à incidência de PAV com base em evidências clínicas e laboratoriais.
Os critérios de exclusão foram: prematuridade, RN com sepse de início precoce ou pneumonia preexistente, RN inaptos para ingestão enteral, RN com causas cirúrgicas de VM e aqueles com anomalias congênitas múltiplas ou suspeitas de anomalias cromossômicas.
Resultados
As características basais dos dois grupos foram comparáveis, e não houve diferença significativa entre nenhum parâmetro em ambas (p>0,05).
O GP mostrou uma incidência de PAV significativamente menor (20%) em comparação ao GNP (47,5%) – odds ratio (OR) 0,28 (intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 0,10–0,75). Foi também observado que a administração de probióticos foi associada a uma incidência significativamente menor de distensão abdominal, vômito e intolerância alimentar (10,0%, 12,5% e 17,5% versus 44,0%, 40,0% e 44,0% nos grupos GP e GNP, nesta ordem), com OR=0,18, 0,21 e 0,26, respectivamente.
Por outro lado, a duração da VM foi significativamente menor no GP em relação ao GNP (diferença média [DM] = 10 dias, IC95%: 6,30–13,70). Da mesma forma, a permanência na UTIN foi significativamente menor no GP em comparação ao GNP (DM = 8 dias, IC95%: 3,29–12,71).
Conclusão
O estudo mostrou que a terapia com probióticos parece ser muito promissora no tratamento da PAV em UTIN, com uma redução significativa em sua incidência.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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