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Pediatria18 abril 2025

Prevalência e evolução da anemia em crianças com DII

Estudo teve por objetivo principal determinar a prevalência e as características da anemia em crianças com diagnóstico recente de DII
Por Jôbert Neves

A anemia é, de longe, uma das manifestações extraintestinais mais comuns em crianças com Doença Inflamatória Intestinal (DII), impactando significativamente a qualidade de vida desses pacientes. Sabemos que sua etiologia é multifatorial, incluindo má absorção, inflamação crônica, perda sanguínea e deficiência de ferro. Logo, o seu manejo não é simples. Apesar da alta prevalência, dados em larga escala sobre a anemia na população pediátrica com DII são limitados, especialmente em estudos prospectivos, necessitando assim de estudos que avaliem profundamente esse desfecho clínico.  

Para explorar mais essa visão da anemia em pacientes pediátricos com DII, um estudo foi realizado com objetivo principal determinar a prevalência e as características da anemia em crianças com diagnóstico recente de DII. De forma observacional, retrospectivo, por meio de dados dados do registro nacional da Sociedade Italiana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (SIGENP), este estudo foi conduzido. Sendo incluídas crianças menores de 18 anos diagnosticadas com DII entre janeiro de 2009 e abril de 2021, que apresentavam anemia no momento do diagnóstico. 

Foram coletados dados laboratoriais, clínicos e demográficos, incluindo níveis de hemoglobina, ferritina, saturação de transferrina, proteína C reativa, índices de atividade da doença Pediatric Crohn’s Disease Activity Index (PCDAI) para doença de crohn (DC) e o Pediatric ulcerative colitis activity index (PUCAI) para retocolite ulcerativa (RCU), além dos parâmetros antropométricos. A anemia foi classificada segundo critérios da Organização mundial de saúde em leve, moderada e grave. A persistência de anemia foi avaliada após 1 ano do diagnóstico. 

Leia mais: Como é a apresentação clínica da anemia falciforme?

Dentre os resultados, temos os seguintes destaques:  

Entre os 1.634 pacientes com dados laboratoriais completos, 589 (36%) apresentaram anemia no diagnóstico — sendo 295 com DC e 294 com RCU. A prevalência foi maior em DC (39%) do que em RCU (33%; p = 0,009). 

A maioria dos pacientes tinha anemia moderada (55%) e microcítica (81%). A deficiência de ferro foi o subtipo mais comum (87,7%), sendo mais prevalente em RCU (94,6%) do que em DC (77,7%). A anemia da doença crônica foi mais frequente em DC (22,3% vs. 5,4%; p < 0,0001). 

Em crianças com DC, a gravidade da anemia correlacionou-se com idade mais jovem e hipoalbuminemia. Já em RCU, pacientes com anemia grave apresentavam formas mais severas da doença (PUCAI mais elevado; p = 0,04). Após 1 ano, 22,9% das crianças permaneciam anêmicas, sem diferença significativa entre DC e RCU. A persistência da anemia esteve associada à maior atividade da doença, especialmente em pacientes com DC. 

Veja também: Avaliação gastrointestinal no paciente com anemia ferropriva

Conclusão  

Mais de um terço das crianças com DII apresenta anemia no momento do diagnóstico, sendo a forma moderada e por deficiência de ferro as mais prevalentes. A anemia grave é mais comum em pacientes com RCU, e sua persistência após 1 ano sugere uma atenção insuficiente ao problema. Os achados reforçam a necessidade de estratégias específicas para rastreamento, tratamento e monitoramento da anemia em crianças com DII, conforme as diretrizes da European Crohn’s and Colitis Organisation (ECCO) e SIGENP, especialmente considerando os potenciais impactos negativos da deficiência de ferro não corrigida no desenvolvimento cognitivo e físico desses pacientes.  

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