Várias técnicas são efetuadas para a introdução de alimentos sólidos em lactentes, além do desmame tradicional (DT), como o desmame guiado pelo bebê (baby-led weaning – BLW) e o desmame combinado (DC). Esses métodos são frequentemente estudados por suas implicações nutricionais no bebê, mas seu impacto na saúde mental materna, particularmente no transtorno de ansiedade generalizada (Generalized Anxiety Disorder – GAD), permanece pouco estudado. Na edição de julho de 2025, o periódico BMC Pregnancy Childbirth publicou um estudo cujo objetivo era justamente explorar a associação entre as práticas alimentares mencionadas acima e níveis de GAD materno durante os estágios iniciais da introdução alimentar (IA).
Metodologia
O estudo consistiu em uma coorte prospectiva de seis meses (01º de abril a 30 de setembro de 2022) para avaliar associações entre GAD e técnicas de alimentação (DT, BLW e DC) em mães (com idade igual ou superior a 18 anos) de lactentes entre seis e 12 meses de vida. As mães foram recrutadas por meio de mídias sociais e cartazes em creches e pré-escolas no Líbano e respondiam a questionários impressos em papel ou online.
As mães e seus bebês incluídos no estudo foram categorizados em três grupos com base nas práticas de alimentação: DT, BLW e DC. As técnicas de alimentação infantil e as pontuações na escala GAD-7 eram feitas mensalmente por um nutricionista, permitindo a análise de quaisquer alterações nos níveis de ansiedade das mães associados a diferentes técnicas. Além disso, as percepções sobre BLW foram comparadas entre praticantes de BLW e DC para contextualizar melhor os níveis de ansiedade.
Foram excluídas mães que tiveram bebês prematuros ou que apresentavam qualquer condição física ou de desenvolvimento, doença ou deficiência que pudesse afetar sua alimentação ou crescimento.
Resultados
A amostra final incluiu 124 pares mãe-bebê que completaram todas as avaliações incluídas na análise. A média de idade das mães foi de 30,8 anos. A maioria casada (97,6%) era casada, com um filho (68,5%) e alto nível de escolaridade (91,2% possuíam, pelo menos, o diploma de bacharel). Aproximadamente 34,8% trabalhavam em período integral e 76,6% descreveram que recebiam alta renda mensal. Quase todas as mães iniciaram a amamentação (92,7%) e 66,9% continuaram por seis meses.
Com relação aos bebês, a média de idade foi de nove meses, sendo 57,3% do sexo feminino e com peso médio ao nascer de 3,14kg. Até seis meses, a maioria dos bebês recebeu aleitamento materno exclusivo (46,7%). Um total de 45,2% recebeu fórmula e 8,1% receberam amamentação mista. Com relação à IA, 33,1% praticavam o BLW, 29% o DC e 37,9% o DT. Os métodos de alimentação variaram, com 36,3% alimentados exclusivamente por adultos, 33,1% se auto alimentando, e dietas variando de alimentos em purê (37,9%) a alimentos para comer com as mãos (33,1%).
As mães que praticaram BLW apresentaram níveis significativamente maiores de GAD ao longo dos seis meses do que aquelas que usaram DT ou DC. Comparadas às mães dos grupos DT (8,1 ± 3,3) e DC (8,3 ± 2,0), as mães do grupo BLW apresentaram a maior pontuação cumulativa de ansiedade (15,3 ± 1,7).
Conclusão
Os resultados ressaltam o potencial impacto psicológico dos métodos de alimentação complementar nas mães, especialmente durante os primeiros meses de IA. O método BLW foi associado a maior ansiedade materna, enfatizando a necessidade de orientação pediátrica que aborde não apenas a adequação nutricional, mas também a prontidão, a confiança e o bem-estar emocional do cuidador durante esse período de transição.
Comentários
Na prática, observo, sim, essa ansiedade com relação ao BLW e uma certa “pressão social” para que o bebê a receba. Apesar de promissor, a indicação de se utilizar somente o BLW carece de evidências mais robustas. O que indico na prática é o método participativo, orientado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, em que os pais oferecem os alimentos inicialmente bem amassados, mas permitem que os bebês possam conhecê-los também através do tato, colocando a mão na massa. Conforme os pais se sentem mais seguros e, com o trabalho em conjunto de um nutricionista, os cortes preconizados no BLW podem ser incorporados pouco a pouco.
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