Logotipo Afya
Anúncio
Pediatria9 novembro 2025

Novas diretrizes europeias de ressuscitação neonatal

Confira as novas diretrizes de suporte de vida neonatal, divulgadas pela European Resuscitation Council (ERC)

Recentemente, o European Resuscitation Council (ERC) divulgou as novas Diretrizes de Suporte de Vida Neonatal (Newborn Life Support – NLS), baseadas no Consenso do International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR), complementadas por revisões de literatura e consenso de especialistas. O documento foi redigido e, posteriormente, aberto para consulta pública em maio de 2025, sendo revisado após 69 comentários individuais, o que resultou em 40 atualizações antes da aprovação pelo Conselho e Assembleia Geral do ERC em junho. As atualizações foram publicadas no periódico Resuscitation na edição de outubro de 2025. A seguir, sintetizamos as principais recomendações da publicação. 

Principais mudanças nas diretrizes do NLS 2025 

  • Os Grupos de Redação de NLS e de Suporte de Vida em Pediatria (SVP) incluíram declarações alinhadas sobre quando seria apropriado usar qualquer um dos algoritmos de ressuscitação. Ambos os grupos consideram razoável que as equipes iniciem a ressuscitação de um recém-nascido (RN) fora da área de parto usando a diretriz mais familiar para elas (NLS ou SVP), solicitando ajuda adequada e trocando o algoritmo em tempo hábil, se necessário;  
  • As diretrizes reconhecem a escassez de dados disponíveis sobre ressuscitação de RN extremamente prematuros, especialmente com idade gestacional (IG) <25 semanas, e advertem que esta diretriz se baseia em evidências de IG predominantemente mais avançadas, o que limita a aplicabilidade a IG extremamente baixas;  
  • Telemedicina: pode fornecer aconselhamento remoto e os sistemas de saúde devem considerar como ela pode ser usada; 
  • Os equipamentos devem ser facilmente acessíveis e organizados de forma padronizada. Ao organizar os equipamentos e o treinamento para maximizar a eficiência e minimizar atrasos, fatores humanos devem ser considerados; 
  • A nova diretriz fornece ainda mais ênfase na importância do clampeamento tardio do cordão umbilical (CTCU) para todos os RN, especialmente os prematuros, embora as recomendações sobre o CTCU não tenham mudado significativamente. Em neonatos que necessitem de reanimação, o cordão umbilical deve ser clampeado por <30 s para minimizar o atraso nas intervenções necessárias; 
  • A diretriz reforça a não ordenha do cordão umbilical em RN prematuros com IG < 28 semanas e se concentra em tentar realizar o CTCU se possível. A ordenha do cordão umbilical é reconhecida como uma alternativa razoável se a IG for >28 semanas e o CTCU não for possível; 
  • A nova diretriz reduz a ênfase na cor da pele durante a avaliação inicial, o que reflete a natureza subjetiva da detecção de cianose ou palidez, especialmente em diferentes tons de pele; 
  • A nova diretriz reconhece o papel crescente do eletrocardiograma (ECG) como método contínuo de avaliação da frequência cardíaca (FC), mais preciso do que outros métodos. No entanto, a ausculta com estetoscópio continua sendo uma primeira opção razoável; 
  • Se houver profissionais suficientes disponíveis, deve ser utilizado o método de suporte das vias aéreas para duas pessoas (elevação da mandíbula), pois essa abordagem é mais eficaz do que a técnica para uma única pessoa. Uma via aérea supraglótica deve ser considerada se a ventilação por máscara facial for ineficaz; 
  • Se não houver resposta da FC, o tórax não se move com as insuflações e as técnicas de abertura das vias aéreas são ineficazes, a pressão de insuflação deve ser aumentada. Além disso, a pressão de insuflação deve ser reduzida quando houver movimento torácico e melhora clínica; 
  • Se houver disponibilidade, a videolaringoscopia deve ser utilizada, refletindo evidências de maior sucesso na primeira tentativa de intubação traqueal quando se utiliza a videolaringoscopia. Um laringoscópio direto convencional deve estar disponível como alternativa; 
  • Para fornecer ventilação com pressão positiva, deve ser aplicada uma interface nasal apropriada ou uma máscara facial conectada a um dispositivo. CPAP (continuous positive airway pressure – pressão positiva contínua nas vias aéreas) e PEEP (positive end-expiratory pressure – pressão expiratória final positiva) agora são recomendados a um nível de 6 cm H2O. A nova diretriz reconhece que o CPAP pode ser considerado em RN com IG >32 semanas com dificuldade respiratória, caso necessitem de O2 suplementar; 
  • A concentração inicial de oxigênio de acordo com a IG foi simplificada:  
  • RN com IG ≥ 32 semanas que necessitam de suporte respiratório: iniciar com 21% de O2; 
  • RN com IG < 32 semanas: iniciar com 30% de O2. 
  • Faixas-alvo de SpO2 incorporando dados mais recentes de RN prematuros, além dos dados estabelecidos de RN a termo, principalmente antes do CTCU ser prática padrão, agora resultam em uma faixa-alvo de SpO2 aceitável. Tempo após o nascimento: SpO2 alvo. 
  • 3 min: 70–75% 
  • 5 min: 80–85% 
  • 10 min: 85–95% Reduza o O2 se as saturações excederem 95%. 
  • Quando compressões torácicas são realizadas, uma via aérea supraglótica ou um tubo traqueal devem ser considerados, dependendo do treinamento e da experiência; 
  • Os intervalos de tempo de adrenalina intravenosa (IV) ou intraóssea (IO) foram simplificados: 
  • 10–30 mcg/kg (0,1–0,32 mL/kg de adrenalina 1:10.000 [0,1 mg/mL]) a cada 4 min. 
  • Existe maior ênfase na verificação da glicemia durante a ressuscitação e no tratamento apenas se ela estiver baixa, ao invés do tratamento empírico da hipoglicemia presumida durante a ressuscitação. A diretriz reconhece o potencial de danos causados ​​tanto pela hipo quanto pela hiperglicemia. A glicemia em bolus foi alinhada à diretriz SVP do ERC 2025; 
  • A diretriz considera partos fora do hospital como cenários de poucos recursos, especialmente em casos de partos inesperados e/ou prematuros e inclui uma seção sobre como identificar e gerenciar o problema comum da hipotermia e transferência segura para o hospital; 
  • A diretriz foi desenvolvida com a contribuição de uma organização de pais em subseções relevantes; 
  • As orientações sobre o uso de bicarbonato de sódio e de naloxona foram retiradas da diretriz de 2025.   

Fatores comuns associados à necessidade de estabilização ou ressuscitação ao nascer  

Fatores anteparto  

Fatores intraparto 

Maternos Fetais 
• Infecção 

• Diabetes gestacional 

• Hipertensão induzida pela gravidez 

• Pré-eclâmpsia 

• IMC elevado 

• Baixa estatura 

• Ausência de corticoide antenatal em parto prematuro 

• Restrição de crescimento intrauterino 

• Idade gestacional < 37 semanas 

• Gestações múltiplas 

• Anomalia congênita grave 

• Oligoâmnio e polidrâmnio 

 

• Evidência de comprometimento fetal 

• Líquido amniótico com mecônio 

• Parto pélvico vaginal 

• Parto com fórceps ou vácuo extrator 

• Hemorragia significativa 

• Parto cesáreo antes de 39 semanas 

• Parto cesáreo de emergência 

• Anestesia geral 

Fonte: Adaptado de Hoogeveen et al., 2025. 

Avaliação inicial e intervenções 

 Avaliar                        

Realizar estimulação tátil suave durante o clampeamento tardio do cordão 

➡️➡️➡️  Classificar ➡️➡️➡️   Intervir ➡️➡️➡️  Reavaliar 
Respiração: regular 

FC: > 100 bpm 

Estimulação: boa resposta 

Tônus: bom 

Satisfatório 

 

 

Cuidados de rotina 

Permanecer com a mãe 

Observação regular 
Respiração: inadequada 

FC: 60–100 bpm 

Estimulação: resposta reduzida 

Tônus: reduzido 

Transição incompleta 

 

Uma FC baixa pode indicar hipóxia, portanto, as vias aéreas e a respiração requerem suporte 

O suporte ventilatório provavelmente será adequado para uma FC mais alta e uma transição adequada. Estimulação, Insuflação, Ventilação 

Considerar monitoramento contínuo: SatO2 +/- ECG 
Respiração: ausente 

FC: < 60 bpm 

Estimulação: sem resposta 

Tônus: flácido 

Transição malsucedida FC sugestiva de hipóxia significativa, portanto, suporte respiratório e das vias aéreas necessário com urgência.  Iniciar reanimação: Insuflação, Ventilação.  Pedir ajuda. Iniciar monitoramento contínuo: SatO2 +/- ECG 

Legenda: ECG – eletrocardiograma; FC – frequência cardíaca.  

Fonte: Adaptado de Hoogeveen et al., 2025. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Pediatria