Recentemente, o European Resuscitation Council (ERC) divulgou as novas Diretrizes de Suporte de Vida Neonatal (Newborn Life Support – NLS), baseadas no Consenso do International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR), complementadas por revisões de literatura e consenso de especialistas. O documento foi redigido e, posteriormente, aberto para consulta pública em maio de 2025, sendo revisado após 69 comentários individuais, o que resultou em 40 atualizações antes da aprovação pelo Conselho e Assembleia Geral do ERC em junho. As atualizações foram publicadas no periódico Resuscitation na edição de outubro de 2025. A seguir, sintetizamos as principais recomendações da publicação.

Principais mudanças nas diretrizes do NLS 2025
- Os Grupos de Redação de NLS e de Suporte de Vida em Pediatria (SVP) incluíram declarações alinhadas sobre quando seria apropriado usar qualquer um dos algoritmos de ressuscitação. Ambos os grupos consideram razoável que as equipes iniciem a ressuscitação de um recém-nascido (RN) fora da área de parto usando a diretriz mais familiar para elas (NLS ou SVP), solicitando ajuda adequada e trocando o algoritmo em tempo hábil, se necessário;
- As diretrizes reconhecem a escassez de dados disponíveis sobre ressuscitação de RN extremamente prematuros, especialmente com idade gestacional (IG) <25 semanas, e advertem que esta diretriz se baseia em evidências de IG predominantemente mais avançadas, o que limita a aplicabilidade a IG extremamente baixas;
- Telemedicina: pode fornecer aconselhamento remoto e os sistemas de saúde devem considerar como ela pode ser usada;
- Os equipamentos devem ser facilmente acessíveis e organizados de forma padronizada. Ao organizar os equipamentos e o treinamento para maximizar a eficiência e minimizar atrasos, fatores humanos devem ser considerados;
- A nova diretriz fornece ainda mais ênfase na importância do clampeamento tardio do cordão umbilical (CTCU) para todos os RN, especialmente os prematuros, embora as recomendações sobre o CTCU não tenham mudado significativamente. Em neonatos que necessitem de reanimação, o cordão umbilical deve ser clampeado por <30 s para minimizar o atraso nas intervenções necessárias;
- A diretriz reforça a não ordenha do cordão umbilical em RN prematuros com IG < 28 semanas e se concentra em tentar realizar o CTCU se possível. A ordenha do cordão umbilical é reconhecida como uma alternativa razoável se a IG for >28 semanas e o CTCU não for possível;
- A nova diretriz reduz a ênfase na cor da pele durante a avaliação inicial, o que reflete a natureza subjetiva da detecção de cianose ou palidez, especialmente em diferentes tons de pele;
- A nova diretriz reconhece o papel crescente do eletrocardiograma (ECG) como método contínuo de avaliação da frequência cardíaca (FC), mais preciso do que outros métodos. No entanto, a ausculta com estetoscópio continua sendo uma primeira opção razoável;
- Se houver profissionais suficientes disponíveis, deve ser utilizado o método de suporte das vias aéreas para duas pessoas (elevação da mandíbula), pois essa abordagem é mais eficaz do que a técnica para uma única pessoa. Uma via aérea supraglótica deve ser considerada se a ventilação por máscara facial for ineficaz;
- Se não houver resposta da FC, o tórax não se move com as insuflações e as técnicas de abertura das vias aéreas são ineficazes, a pressão de insuflação deve ser aumentada. Além disso, a pressão de insuflação deve ser reduzida quando houver movimento torácico e melhora clínica;
- Se houver disponibilidade, a videolaringoscopia deve ser utilizada, refletindo evidências de maior sucesso na primeira tentativa de intubação traqueal quando se utiliza a videolaringoscopia. Um laringoscópio direto convencional deve estar disponível como alternativa;
- Para fornecer ventilação com pressão positiva, deve ser aplicada uma interface nasal apropriada ou uma máscara facial conectada a um dispositivo. CPAP (continuous positive airway pressure – pressão positiva contínua nas vias aéreas) e PEEP (positive end-expiratory pressure – pressão expiratória final positiva) agora são recomendados a um nível de 6 cm H2O. A nova diretriz reconhece que o CPAP pode ser considerado em RN com IG >32 semanas com dificuldade respiratória, caso necessitem de O2 suplementar;
- A concentração inicial de oxigênio de acordo com a IG foi simplificada:
- RN com IG ≥ 32 semanas que necessitam de suporte respiratório: iniciar com 21% de O2;
- RN com IG < 32 semanas: iniciar com 30% de O2.
- Faixas-alvo de SpO2 incorporando dados mais recentes de RN prematuros, além dos dados estabelecidos de RN a termo, principalmente antes do CTCU ser prática padrão, agora resultam em uma faixa-alvo de SpO2 aceitável. Tempo após o nascimento: SpO2 alvo.
- 3 min: 70–75%
- 5 min: 80–85%
- 10 min: 85–95% Reduza o O2 se as saturações excederem 95%.
- Quando compressões torácicas são realizadas, uma via aérea supraglótica ou um tubo traqueal devem ser considerados, dependendo do treinamento e da experiência;
- Os intervalos de tempo de adrenalina intravenosa (IV) ou intraóssea (IO) foram simplificados:
- 10–30 mcg/kg (0,1–0,32 mL/kg de adrenalina 1:10.000 [0,1 mg/mL]) a cada 4 min.
- Existe maior ênfase na verificação da glicemia durante a ressuscitação e no tratamento apenas se ela estiver baixa, ao invés do tratamento empírico da hipoglicemia presumida durante a ressuscitação. A diretriz reconhece o potencial de danos causados tanto pela hipo quanto pela hiperglicemia. A glicemia em bolus foi alinhada à diretriz SVP do ERC 2025;
- A diretriz considera partos fora do hospital como cenários de poucos recursos, especialmente em casos de partos inesperados e/ou prematuros e inclui uma seção sobre como identificar e gerenciar o problema comum da hipotermia e transferência segura para o hospital;
- A diretriz foi desenvolvida com a contribuição de uma organização de pais em subseções relevantes;
- As orientações sobre o uso de bicarbonato de sódio e de naloxona foram retiradas da diretriz de 2025.
Fatores comuns associados à necessidade de estabilização ou ressuscitação ao nascer
| Fatores anteparto |
Fatores intraparto | |
| Maternos | Fetais | |
| • Infecção
• Diabetes gestacional • Hipertensão induzida pela gravidez • Pré-eclâmpsia • IMC elevado • Baixa estatura • Ausência de corticoide antenatal em parto prematuro | • Restrição de crescimento intrauterino
• Idade gestacional < 37 semanas • Gestações múltiplas • Anomalia congênita grave • Oligoâmnio e polidrâmnio
| • Evidência de comprometimento fetal
• Líquido amniótico com mecônio • Parto pélvico vaginal • Parto com fórceps ou vácuo extrator • Hemorragia significativa • Parto cesáreo antes de 39 semanas • Parto cesáreo de emergência • Anestesia geral |
Fonte: Adaptado de Hoogeveen et al., 2025.
Avaliação inicial e intervenções
| Avaliar
Realizar estimulação tátil suave durante o clampeamento tardio do cordão | ➡️➡️➡️ Classificar | ➡️➡️➡️ Intervir | ➡️➡️➡️ Reavaliar |
| Respiração: regular
FC: > 100 bpm Estimulação: boa resposta Tônus: bom | Satisfatório
| Cuidados de rotina
Permanecer com a mãe | Observação regular |
| Respiração: inadequada
FC: 60–100 bpm Estimulação: resposta reduzida Tônus: reduzido | Transição incompleta
| Uma FC baixa pode indicar hipóxia, portanto, as vias aéreas e a respiração requerem suporte.
O suporte ventilatório provavelmente será adequado para uma FC mais alta e uma transição adequada. Estimulação, Insuflação, Ventilação | Considerar monitoramento contínuo: SatO2 +/- ECG |
| Respiração: ausente
FC: < 60 bpm Estimulação: sem resposta Tônus: flácido | Transição malsucedida | FC sugestiva de hipóxia significativa, portanto, suporte respiratório e das vias aéreas necessário com urgência. Iniciar reanimação: Insuflação, Ventilação. Pedir ajuda. | Iniciar monitoramento contínuo: SatO2 +/- ECG |
Legenda: ECG – eletrocardiograma; FC – frequência cardíaca.
Fonte: Adaptado de Hoogeveen et al., 2025.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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