Desde as primeiras referências ao método BLW (Baby-Led Weaning), alguns estudos sugeriram e observaram os possíveis benefícios desta estratégia de introdução alimentar na saúde dos bebês. A ideia é de que o BLW possa favorecer o controle do apetite do bebê e levar a níveis mais elevados de responsividade à saciedade, contribuindo, assim, para a proteção contra sobrepeso posteriormente, embora com resultados controversos. Apesar de o BLW ganhar popularidade, juntamente com seus benefícios potenciais sobre os desfechos de saúde, existem poucas evidências de alta qualidade sobre este método de desmame. Alguns autores também questionam se há risco de o bebê não ingerir nutrientes suficientes, principalmente ferro e zinco, para o ganho de peso e crescimento adequado por esse método. Por fim, o risco de engasgo também é uma questão que preocupa muitos pesquisadores.

Revisão sistemática sobre o efeito do método BLW
Os resultados de uma revisão sistemática publicada no jornal Nutrients sobre o efeito do método BLW na prevalência de ganho de peso na infância foram inconclusivos. O objetivo foi determinar a influência do BLW no ganho de peso do bebê em comparação à introdução alimentar tradicional com colher e avaliar se poderia diminuir o risco de obesidade em crianças.
Martinón-Torres e equipe realizaram uma revisão seguindo a metodologia PRISMA, utilizando artigos encontrados no Pubmed, Web of Science, Embase e Cochrane Library. De 747 artigos, oito estudos (2875 bebês no total) foram incluídos (dois ensaios clínicos randomizados, seis estudos observacionais). Os resultados não foram convincentes: enquanto alguns estudos parecem demonstrar menor ganho de peso em bebês que aplicam BLW, outros mostram desfechos inconclusivos. O risco de viés em todos os estudos incluídos foi moderado ou alto.
Portanto, o estudo “Baby-Led Weaning: What Role Does It Play in Obesity Risk during the First Years? A Systematic Review”, concluiu que ensaios clínicos e estudos longitudinais prospectivos mais longos devem ser feitos, usando controles de confusão (por exemplo, peso ao nascer e amamentação) e incluindo variáveis de composição corporal e velocidade de ganho de peso, para mostrar qual técnica de alimentação é a melhor para reduzir o risco de obesidade na infância.
O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) aconselha que, no momento da alimentação, o lactente possa receber os alimentos amassados oferecidos na colher, porém ele também deve experimentá-los com as mãos, explorando as variadas texturas dos alimentos como um processo natural do aprendizado sensório motor. A SBP, portanto, estimula a interação com a comida, evoluindo conforme o tempo de desenvolvimento da criança, enfatizando que, até o momento, não há evidências suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS (Baby-Led Introduction to SolidS) sejam as únicas maneiras corretas de introdução alimentar.
Referências bibliográficas:
- MARTINÓN-TORRES, N. et al. Baby-Led Weaning: What Role Does It Play in Obesity Risk during the First Years? A Systematic Review. Nutrients, v.13, n.3, 1009, 2021
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. “Manual de Alimentação da Infância à Adolescência”. 2018. Disponível em: www.sbp.com.br Acesso em: 19/05/2021
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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