As novas diretrizes de Suporte Avançado de Vida Pediátrico (SAVP) da American Heart Association junto com a American Academy of Pediatrics publicadas em outubro de 2025 na Circulation revisaram o manejo das taquicardias com pulso com a novidade da recomendação do uso do sotalol via endovenosa (EV) no tratamento de bebês e crianças com taquicardia supraventricular e comprometimento cardiopulmonar sem resposta a manobras vagais, adenosina EV e cardioversão elétrica quando a consulta ao(à) cardiopediatra não estiver disponível. Entretanto, neste momento, não temos disponível solução injetável de sotalol pela ANVISA no Brasil.

Divisão das vítimas em Suporte Avançado de Vida Pediátrico
Em Suporte Avançado de Vida Pediátrico, dividimos as vítimas em:
- Bebês, que são os menores de 1 ano de idade;
- Crianças, que são as vítimas a partir de 1 ano de idade até antes de entrada na puberdade, que em SBV é definida por presença de algum desenvolvimento mamário nas meninas (o mamilo deixa de ser plano), e presença de pêlos axilares nos meninos;
- Adultos, que são as vítimas que já entraram na puberdade.
Abordagem inicial
Diante de paciente com suspeita de taquiarritmia, avalie-o inicialmente e forneça tratamento de suporte para paciente grave seguindo o ABCDE (abertura de vias Aéreas, Boa ventilação, Circulação, Déficit neurológico e Exposição) :
- mantendo via Aérea patente;
- Promova Boa ventilação com pressão positiva e forneça oxigênio em alto fluxo se necessário;
- Monitorize com monitor cardiorrespiratório e oximetria de pulso;
- Obtenha acesso EV ou intraósseo (IO);
- Faça eletrocardiograma (ECG) com 12 derivações se disponível;
- Na Circulação, avalie o ritmo cardíaco.
Abordagem conforme o ritmo cardíaco e comprometimento cardiopulmonar
Consideramos que a taquicardia é provavelmente sinusal quando:
- As ondas P estão presentes ou normais;
- O intervalo RR é variável;
- A frequência cardíaca (FC) do bebê é <220 batimentos por minuto (bpm) ou em criança <180bpm.
Na taquicardia sinusal, devemos buscar a causa (ex. febre, desidratação, dor e outras) e tratá-la.
As características de taquicardia supraventricular provável são:
- Ondas P ausentes ou anormais;
- Intervalo RR não variável;
- A frequência cardíaca (FC) geralmente do bebê é ≥220 batimentos por minuto (bpm) ou em criança ≥180bpm;
- História abrupta de mudança na frequência cardíaca.
Avaliar sempre se há comprometimento cardiopulmonar como alteração de estado mental, sinais de choque e∕ou hipotensão arterial, e a duração do QRS.
Se NÃO houver comprometimento cardiopulmonar, avalie a duração do QRS:
- Se QRS ≤0,09 segundos: provavelmente é taquicardia supraventricular, considerar manobras vagais (ex. aplicação de gelo na face, manobra de Valsalva ou colocar a criança de cabeça para baixo) e, se não melhorar, administre adenosina EV ou IO;
- Se QRS >0,09 segundos: possivelmente é uma taquicardia ventricular ou taquicardia supraventricular com condução aberrante. Se o ritmo for regular e QRS for monomórfico, avalie adenosina. É recomendado consultar cardiopediatra.
Na PRESENÇA de comprometimento cardiopulmonar, avalie a duração do QRS:
- Se QRS ≤0,09 segundos: provavelmente é taquicardia supraventricular, administre adenosina EV ou IO se tiver acesso EV ou IO, OU faça cardioversão sincronizada. Se taquicardia ventricular resistente a manobras vagais, adenosina, cardioversão sincronizada e se cardiopediatra não estiver disponível, considerar o uso de procainamida, amiodarona ou sotalol ;
- Se QRS >0,09 segundos: possivelmente é uma taquicardia ventricular, faça cardioversão sincronizada e idealmente consulte cardiopediatra antes de fazer antiarrítmico.
Doses de cardioversão sincronizada e de medicamentos
- Cardioversão sincronizada: dose inicial de 0,5-1J∕kg. Se inefetivo, aumentar para 2J∕kg. Faça sedação se necessário, mas não atrase a cardioversão. Lembrar de apertar o botão SINC (de sincronizado) no aparelho de cardioversão;
- Adenosina solução injetável 3mg∕mL: fazer 0,1mg∕kg∕dose (0,03mL∕kg∕dose) EV ou IO (máximo de 6mg na 1ª dose equivalente a 2mL) em bolus rápido seguido por bolus de soro fisiológico. Considerar repetir dose 0,2mg∕kg∕dose (0,06mL∕kg∕dose) EV ou IO (máximo de 12mg na 2ª dose equivalente a 4mL) em bolus rápido seguido por bolus de 5-10mL de soro fisiológico (SF). Usar duas seringas (uma com adenosina e outra com SF) acopladas em conector em T (de três vias) no acesso venoso mais próximo do coração disponível. Uma pessoa injetar rapidamente a adenosina e outra imediatamente em seguida injeta o soro fisiológico, pois a meia-vida da adenosina é menos de 10 segundos;
- Amiodarona solução injetável 50mg∕mL: com dose inicial de 5mg∕kg∕dose (máximo de 300mg∕dose) via EV em 1 hora em bomba infusora seguido por infusão contínua de 5mcg∕kg∕minuto com possibilidade de titular conforme necessidade (doses de 5-15mcg∕kg∕minuto ou dose máxima diária de 2.200mg∕dia). Diluir com soro glicosado a 5% para concentração final da solução de 1,5mg∕mL;
- Procainamida: solução injetável não está disponível pela ANVISA no Brasil no momento;
- Sotalol: solução injetável não está disponível pela ANVISA no Brasil no momento.
Autoria

Renata Carneiro da Cruz
Editora médica de Pediatria da Afya ⦁ Mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFRJ ⦁ Residência em Pediatria Geral pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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