O estado de mal epiléptico configura-se como uma emergência neurológica, caracterizada por crise convulsiva com duração superior a cinco minutos ou por crises sequenciais sem recuperação completa da consciência entre elas. Sabe-se que a resolução breve é crucial tendo em vista o risco de desfechos neurológicos adversos com a persistência da crise.
O manejo inicial deve priorizar a estabilização das vias aéreas, a respiração e a circulação do paciente, seguido pela administração de anticonvulsivantes e da investigação da etiologia subjacente. Os benzodiazepínicos constituem a primeira linha terapêutica. Na ausência de resposta, recomenda-se o uso de fármacos de segunda linha como fenitoína, fosfenitoína e levetiracetam.
Apesar de amplamente utilizada, a fenitoína tem como potenciais efeitos adversos: hipotensão, arritmias, pancitopenia e reações cutâneas graves. O levetiracetam, por outro lado, apresenta um perfil de segurança mais favorável, tornando-se um fármaco emergente no cenário de estado de mal convulsivo.
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Desenho do Estudo
Neste contexto, foi realizada uma revisão sistemática com metanálise, com o objetivo de analisar a eficácia e segurança do levetiracetam como agente terapêutico de segunda linha no manejo do estado de mal epiléptico em crianças e compará-lo com outros medicamentos de uso rotineiro como fenitoína e fosfenitoína.
Para isso, foram selecionados estudos de quatro bases de dados científicas, publicados entre 1996 e novembro de 2024, que abordassem o estado de mal epiléptico em pacientes com idade entre 1 mês e 18 anos em cenários de emergência e em unidades de terapia intensiva.
Resultados
Um total de 14 estudos envolvendo 2.473 pacientes foi incluído para análise quantitativa (meta-análise), sendo a maioria do tipo ensaio clínico randomizado controlado. A comparação destacou três anticonvulsivantes de segunda linha usados no controle do estado de mal convulsivo: levetiracetam, fenitoína e fosfenitoína.
A média de idade dos participantes no grupo intervenção (que recebeu o levetiracetam) variou entre 2,5 e 8,31 anos. O tipo de convulsão mais frequentemente observado foi o generalizado, sendo febre, trauma e meningite, algumas das causas identificadas.
Não foram observadas diferenças estatisticamente relevantes entre os medicamentos de segunda linha no que tange à interrupção da crise e à recorrência em 24 horas após o tratamento.
Entretanto, o levetiracetam reduziu significativamente o tempo necessário para interrupção das crises quando comparado à fenitoína ou fosfenitoína (IC 95%: -6,18 a -1,76; p = 0,0004) bem como a duração do internamento na UTI quando comparado à fenitoína (IC 95%: 0,54–1,00; p < 0,00001). Ademais, esteve associado a menor risco de efeitos adversos quando comparado à fosfenitoína (IC: 95%: 0,40 – 0,96; p = 0,03).
Por outro lado, o risco de agitação foi cerca de quatro vezes menor com o uso da fenitoína em comparação ao levetiracetam (RR = 3,90; IC 95%: 1,42–10,73; p = 0,008), sendo, portanto, mais frequente com o uso deste último. No que concerne à mortalidade intra-hospitalar, diferenças significativas não foram identificadas entre as medicações analisadas.
Conclusão
O estudo concluiu que o levetiracetam é uma alternativa eficaz para o manejo do estado de mal epiléptico pediátrico, levando a resolução mais rápida da crise e menos adversos gerais apesar de apresentar maior risco de agitação quando comparado à fenitoína.
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