O enterovírus constitui uma causa frequente de infecção em neonatos, apresentando ampla variabilidade clínica. Os recém-nascidos representam um grupo particularmente vulnerável, com maior risco de evolução para formas graves e complicações sistêmicas.
Entretanto, a literatura ainda é escassa quanto à prevalência e às manifestações clínicas da infecção por enterovírus no período perinatal. Nesse contexto, é importante salientar que a infecção perinatal compreende tanto a infecção materna durante a gestação quanto a transmissão vertical ao bebê antes, durante ou após o parto.

Desenho de Estudo
Neste contexto, foi conduzido um estudo do tipo revisão sistemática com o objetivo de investigar a prevalência, as manifestações clínicas e os desfechos maternos e neonatais associados à infecção perinatal por enterovírus.
Para isso, bases de dados como Pubmed, Embase e KoreaMed foram consultadas, sendo analisados estudos em qualquer idioma, publicados até 26 de agosto de 2024, que descrevessem desfechos perinatais relacionados à infecção por enterovírus em grávidas e neonatos. Foram excluídos: revisões sistemáticas, meta-análises, estudos não originais e de intervenção.
No total, após análise criteriosa, nove estudos foram incluídos, os quais apresentaram risco moderado de viés.
Resultados e discussão
No que se refere aos resultados, a prevalência de infecção perinatal por enterovírus variou de 60% a 77,8% entre aqueles neonatos infectados com acometimento grave, e de 25% a 57,1% entre gestantes infectadas.
Entre as gestantes acometidas, a febre foi o sintoma mais frequentemente relatado, seguida por lesões cutâneas maculopapulares, contrações uterinas, manifestações gastrointestinais (como dor abdominal e diarreia) e respiratórias (como rinorreia e tosse).
Nos neonatos com evolução desfavorável, observaram-se quadros sépticos e óbitos, evidenciando a amplitude do espectro clínico da infecção perinatal pelo enterovírus, que pode variar desde formas assintomáticas até quadros letais. Entre as manifestações graves, destacam-se necrose hepática, meningoencefalite e miocardite.
A discrepância na gravidade das manifestações entre mães e recém-nascidos sugere que a infecção materna, por si só, não é necessariamente preditora de desfechos adversos neonatais. Os recém-nascidos, em virtude da imaturidade funcional do sistema imunológico, apresentam maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de formas graves da doença. Ademais, o momento da infecção parece exercer influência relevante sobre o curso clínico, sendo os casos mais graves observados quando a transmissão ocorre em período mais próximo ao parto.
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Conclusão
O estudo aborda a potencial gravidade da infecção por enterovírus, destacando sua ampla heterogeneidade clínica, que pode variar desde quadros febris inespecíficos até condições graves, como miocardite, meningoencefalite, insuficiência hepática ou sepse. Nesse contexto, ressalta-se a importância da suspeição diagnóstica em neonatos com quadro séptico ou complicações graves, aliada a uma análise criteriosa do histórico materno e de possíveis exposições infecciosas.
Autoria

Amanda Neves
Editora médica assistente da Afya ⦁ Residência de Pediatria pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ⦁ Graduação em Medicina pela UFPE
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