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Pediatria29 agosto 2025

Imunoterapia oral para alergia à proteína do leite de vaca em crianças

Revisão avalia eficácia e segurança da imunoterapia oral na APLV em crianças, mostrando bons resultados em maiores de 4 anos. Saiba mais sobre os resultados!
Por Jôbert Neves

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma das alergias alimentares mais prevalentes na infância, com impacto significativo na nutrição, crescimento e qualidade de vida. O manejo tradicional baseia-se na exclusão dietética, o que pode ser oneroso e nutricionalmente limitante, dependendo da faixa etária do paciente. A imunoterapia oral (OIT) tem sido proposta como alternativa para induzir dessensibilização e potencial tolerância imunológica. Um estudo publicado na revista Frontiers teve como objetivo avaliar, por meio de revisão sistemática e meta-análise, a eficácia e segurança da OIT em crianças com APLV mediada por IgE. 

Para isso, foram incluídos ensaios clínicos randomizados (RCTs) publicados até agosto de 2024, identificados nas bases PubMed, EMBASE, Cochrane Library e Scopus. Os critérios de inclusão abrangeram estudos com crianças (<18 anos) com APLV mediada por IgE, que compararam OIT com controle (placebo, exclusão dietética ou substitutos). Os desfechos avaliados incluíram dessensibilização, limiar de tolerância em testes de provocação oral (TPO), alterações imunológicas e eventos adversos.  

Resultados 

Foram incluídos 19 RCTs, totalizando 815 participantes (448 no grupo OIT e 367 no grupo controle). Os principais achados foram: 

  • Dessensibilização: A OIT aumentou significativamente a taxa de dessensibilização (RR 2,51; IC 95%: 1,54–4,09; I² = 84,4%). A eficácia foi mais evidente em crianças ≥4 anos (RR 4,43), enquanto não houve efeito significativo em menores de 4 anos. 
  • Tipo de intervenção: O uso de leite cru foi mais eficaz (RR 3,00), enquanto leite aquecido ou assado não demonstrou benefício consistente. 
  • Comparadores: A OIT foi superior à exclusão dietética (RR 2,24) e ao uso de leite de soja (RR 10,37), mas não mostrou diferença significativa em relação ao placebo. 
  • Tolerância em OFC: Houve aumento significativo do limiar de tolerância após OIT (SMD 3,58; IC 95%: 2,82–4,33). 
  • Eventos adversos: A taxa de reações adversas não foi significativamente maior no grupo OIT (RR 2,05; IC 95%: 0,96–4,37). Reações graves foram raras (RR 2,65; IC 95%: 0,79–16,90). A esofagite eosinofílica (EoE) foi relatada em 4% dos pacientes em estudos observacionais. 
  • Alterações imunológicas: Houve redução significativa nos níveis de IgE específica para leite (SMD -0,42) e caseína (SMD -0,54), além de aumento nos níveis de IgG4 específica (SMD 2,01). Não foram observadas alterações significativas em citocinas pró-inflamatórias. 
  • Qualidade de vida: Apenas um estudo avaliou esse desfecho, sem diferença significativa entre os grupos. 

Conclusão 

A imunoterapia oral demonstrou eficácia na indução de dessensibilização em crianças com APLV mediada por IgE, especialmente em maiores de 4 anos, sem aumento significativo de eventos adversos no curto prazo. No entanto, a heterogeneidade metodológica entre os estudos e a ausência de dados sobre efeitos a longo prazo, como manutenção da tolerância e ocorrência de esofagite eosinofílica (EoE), limitam a generalização dos achados. Estudos futuros devem padronizar protocolos, incluir seguimento prolongado e avaliar desfechos clínicos relevantes, como resposta sustentada e impacto na qualidade de vida. 

A OIT representa uma alternativa viável ao manejo tradicional da APLV em crianças selecionadas, particularmente aquelas com alergia persistente após os 4 anos de idade. A decisão pela sua implementação deve considerar o perfil de risco-benefício individual, a experiência da equipe assistencial e a adesão familiar ao acompanhamento especializado. 

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